Lula decreta intervenção federal em Brasília após invasão de bolsonaristas

Presidente brasileiro promete levar à Justiça "fanáticos fascistas" que invadiram sedes dos três poderes em Brasília e culpou Bolsonaro. Polícia recupera controlo e ao fim da noite em Portugal mais de 400 manifestantes já tinham sido detidos
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Lula da Silva assinou, este domingo, uma norma a impedir e punir a depredação que manifestantes bolsonaristas promoveram nos edifícios dos Três Poderes no Brasil: o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. O decreto, publicado no Diário Oficial da União, equivalente ao Diário da República, permite ao governo intervenção federal em Brasília e assim tomar as rédeas da segurança no Distrito Federal, até dia 31.

Entretanto, o Congresso foi evacuado pela polícia horas após ter sido invadido por centenas de apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro. A situação também ficou sob controlo no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF), embora um grande número de manifestantes ainda tenha permanecido várias horas nos arredores da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Os edifícios passaram ainda por uma inspeção para verificar a possível presença de engenhos explosivos.

Flávio Dino, ministro da Justiça, fez um balanço das prisões, perto da meia-noite em Portugal. "Nós temos aproximadamente 200 pessoas presas em flagrante. E as prisões em flagrante continuam. Temos aproximadamente 40 ônibus [autocarros] apreendidos."

O ministro disse ainda que "já identificámos todos os ônibus que se dirigiram à Brasília, e todos os financiadores de tais ônibus". E sublinhou que a pressão continua, pois "ainda há pessoas, neste instante, na internet, falando em continuidade dos atos terroristas". As penas para os golpistas podem chegar a 20 anos de reclusão, acrescentou Dino.

No entanto, a Polícia Civil fala em 300 detidos, enquanto o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, em mais de 400.

Ainda não há um balanço final dos prejuízos causados pelos invasores, estão a ser feitas perícias nos locais atacados, mas o Governo brasileiro tem enviado vídeos mostrando a devastação em que se encontram os três prédios mais emblemáticos de Brasília e que são sede do executivo, legislativo e do judiciário.

"Vamos descobrir quem são os financiadores destes atos", prometeu o recém-eleito. "Na ditadura militar, pessoas da esquerda foram executadas, torturadas, desaparecidas, mas nunca depredaram as instituições como agora a direita nestes atos de nazis ou fascistas fanáticos", continuou Lula, que mais tarde visitou o Palácio do Planalto para ver os estragos deixados na sede da Presidência.

"Eles vão perceber que a democracia garante direito de liberdade, livre expressão, mas ela também exige que as pessoas respeitem as instituições que foram criadas para fortalecer a democracia".

O presidente do Brasil ainda culpou o seu antecessor, Jair Bolsonaro, pelos atos, ao dizer que ele "também é responsável" pelos atos de vandalismo que se espalharam por Brasília e apelidando-o de "genocida".

Lula afirmou ainda que visitará os palácios que foram depredados, lembrando os atos de vandalismo na área central de Brasília no fim de dezembro. "A Polícia Militar estava guiando e vendo eles atear fogo em autocarros e não fazia absolutamente nada, esses agentes não poderão ficar impunes".

"Todos sabem que o secretário de Segurança dele [do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha] tem fama de ser conivente com as manifestações", disse também Lula a propósito de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça que se tornou secretário da Segurança de Ibaneis Rocha, no governo do Distrito Federal afeto aos bolsonaristas.

Torres, que está com Bolsonaro na Florida, já foi, entretanto, exonerado do cargo no Distrito Federal por Ibaneis Rocha.

Entretanto, o governador Ibaneis Rocha pediu "perdão" a Lula e demais poderes.

Imagens da emissora CNN Brasil mostraram bolsonaristas com as cores da bandeira brasileira a descer, com as mãos amarradas às costas, a rampa do Palácio do Planalto escoltados pela polícia. Noutras imagens, é possível ver um autocarro repleto de invasores detidos rumo a um quartel policial. A Polícia Legislativa anunciou a detenção de 30 pessoas no Senado, um dos locais invadido pelos radicais.

Engenhos explosivos terão sido encontrados no Congresso, de acordo com a polícia brasileira, assim como algumas armas entre os manifestantes.

Os golpistas que invadiram o Palácio do Planalto levaram armamento da sala de armas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), segundo o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta.

"É coisa muito grave. Na sala de armas do GSI, levaram armas letais e não letais", afirmou o ministro.

Numa nota publicada, Rosa Weber, a presidente do Supremo Tribunal Federal, um dos três edifícios vandalizados pelos bolsonaristas, já anunciou que "o STF será reconstruído" e "não se deixará intimidar".

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados do Congresso (outro dos edifícios sob ataque), antecipou o regresso a Brasília.

O ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil disse que o governador do Distrito Federal decidiu não bloquear todos os acessos à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em resposta a um pedido do Governo brasileiro.

"Havia por parte do governo do Distrito Federal uma visão de que a situação estaria sob controlo", disse Flávio Dino, em conferência de imprensa.

O governador Ibaneis Rocha, segundo o ministro, "afirmou que a preparação da ordem pública estava adequada", mas, denunciou, "o planeamento que não comportava a entrada de pessoas na Esplanada foi alterada na última hora".

"O governador Ibaneis, com toda certeza, ao efetuar um pedido de desculpas públicas ao chefe dos poderes da União, está reconhecendo que algo deu errado nesse planeamento e quero crer que o senhor governador vai apurar as responsabilidades em relação àqueles que não cumpriram seus deveres constitucionais", frisou.

"Há, objetivamente, preferências ideológicas nas instituições atrapalhando o cumprimento de deveres constitucionais", condenou Dino, dizendo que a garantia da ordem pública em Brasília era do Distrito Federal.

O ministro da Justiça disse ainda não querer acreditar que o governador "seja conivente, mas as responsabilizações vão ser feitas".

Flávio Dino apelidou ainda estes atos e de terrorismo. "Isto é terrorismo, é golpismo", disse.

O líder do Partido Liberal (PL), força política de Jair Bolsonaro, demarcou-se da "vergonha" da invasão dos apoiantes do ex-presidente brasileiro às sedes dos poderes, num dia que apelidou como "triste para o Brasil".

Num vídeo publicado, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal do ex-presidente Jair Bolsonaro, assegura que os responsáveis pelo ataque de às instituições em Brasília "não representam" Bolsonaro.

"Hoje é um dia triste para o Brasil. Todos os eventos que realizámos após as eleições em frente ao quartel foram um exemplo de educação, confiança e brasilidade", disse o líder da PL, aludindo aos acampamentos de manifestantes para reclamar uma intervenção das Forças Armadas para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente do Brasil, após a vitória na segunda volta das eleições presidenciais sobre Jair Bolsonaro, que procurava a sua reeleição para um segundo mandato.

Com agências

atualizado às 01.40

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