Lula na Cimeira da União Africana.
Lula na Cimeira da União Africana.EPA/MINASSE WONDU HAILU

Lula compara Gaza ao Holocausto e Israel diz que cruzou “linha vermelha”

Netanyahu ordenou que embaixador brasileiro fosse chamado para uma “severa reprimenda”. Gallant fala em vitória em Khan Yunis, onde hospital já não estará operacional.
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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou este domingo o presidente brasileiro, Lula da Silva, de ter cruzado uma “linha vermelha”. Tudo porque comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto. “O que está a acontecer na Faixa de Gaza não é uma guerra, é um genocídio”, disse Lula aos jornalistas, em Adis Abeba, onde está a participar na Cimeira da União Africana.

“O que está a acontecer na Faixa de Gaza e com o povo palestiniano não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus”, acrescentou, falando de uma guerra entre um “Exército muito bem preparado e mulheres e crianças”.

Netanyahu respondeu numa mensagem na rede social X. “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Isto é banalizar o Holocausto e tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel a se defender”, escreveu o primeiro-ministro, insistindo que “comparar Israel ao Holocausto nazi e a Hitler é cruzar uma linha vermelha”. Disse ainda que deu ordens ao chefe da diplomacia, Israel Katz, para convocar o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, para “uma severa reprimenda”.

As declarações de Lula, que tem condenado os ataques terroristas do Hamas de 7 de outubro mas também a resposta israelita, foram feitas numa altura em que Israel se prepara para a ofensiva terrestre em Rafah. Esta cidade, localizada no sul do enclave, junto à fronteira com o Egito, tornou-se num campo de refugiados gigante, já que foi para lá que os palestinianos foram sendo empurrados para escapar aos combates a norte. Netanyahu já deu luz verde para uma operação militar terrestre nesta cidade, depois de serem retirados os civis, dizendo que sem isso não será possível derrotar o Hamas.

Este domingo, o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, revelou que o batalhão do Hamas em Khan Yunis “já não funciona como uma entidade militar”. De acordo com este responsável, pelo menos 200 alegados militantes do grupo terrorista entregaram-se no Hospital Al-Nasser, sem usar as armas que tinham, o que revela “a perda do espírito de combate”. Gallant, citado pelo Times of Israel, alega ainda que os líderes do Hamas no estrangeiro estão à procura de um substituto para o responsável do grupo na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, já que não conseguem entrar em contacto com ele e não confiam nele.

Por causa da operação militar israelita, o Hospital Al-Nasser (o principal no sul da Faixa de Gaza) já não estará operacional, segundo o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. Contudo, no seu interior ainda estarão cerca de 200 doentes, 20 deles alegadamente a precisar de transferência urgente.

O diretor-geral lamentou que a equipa da OMS não tenha sido autorizada a entrar no hospital no sábado, para aferir as condições dos doentes e as necessidades médicas. “O custo dos atrasos será pago com as vidas dos pacientes. O acesso aos doentes e ao hospital deve ser facilitado”, escreveu.

Terça-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas poderá discutir e votar mais uma resolução, apresentada há já semanas pela Argélia, a pedir o cessar-fogo na Faixa de Gaza. Os EUA já disseram que, se a votação for para a frente, vão usar o direito de veto, alegando que o texto pode pôr em causa “negociações sensíveis” que visam uma pausa nos combates e a libertação dos reféns.

susana.f.salvador@dn.pt

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