Kiev avança para os Leopard 2 e pede a Berlim: "Pensem mais rápido"
Polónia vai treinar ucranianos a manusear os tanques alemães enquanto a pressão para o governo alemão se decidir prossegue. Moldávia discute fim da neutralidade.
Os dirigentes ucranianos e os seus aliados mais próximos digeriram com dificuldade a indecisão de Berlim em avançar com os seus veículos de combate Leopard 2 para a guerra na Ucrânia durante a reunião de sexta-feira na base de Ramstein, Alemanha, que juntou cerca de 50 aliados e países parceiros.
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O novo ministro da Defesa alemão Boris Pistorius disse não saber quando poderá Berlim responder e em que sentido sobre os tanques de guerra. O ministro da Defesa ucraniano Olekseii Reznikov contornou a questão ao anunciar que militares ucranianos vão receber formação na Polónia. "Os países que já têm tanques Leopard podem iniciar missões de treino para as nossas tripulações de tanques", comentou.
Ainda assim, mostrou-se satisfeito com o resultado do oitavo encontro do grupo de contacto presidido pelo secretário da Defesa norte-americano Lloyd Austin, tendo destacado o fortalecimento da defesa antiaérea. "Falámos em Ramstein não só sobre os Patriot, mas também sobre outros sistemas. Estamos a falar de sistemas de curto, médio e longo alcance, inclusive em termos de amplitude de altitude", disse Reznikov.
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Sobre a questão mais badalada, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Andriy Melnyk, que ficou bem conhecido junto dos alemães enquanto embaixador em Berlim, não escondeu estar "desapontado" e disse ser "ridículo" que o exército e a indústria da Alemanha, "após 331 dias de guerra brutal ainda esteja a fazer um inventário das existências para verificar se têm algo a enviar para a Ucrânia", disse à CNN.
Por fim, o conselheiro do presidente Zelensky - que participou nas cerimónias fúnebres dos 14 mortos da queda do helicóptero que vitimou o ministro do Interior e dois subalternos - criticou a "indecisão global" que irá, de qualquer modo, acabar na ajuda à Ucrânia "com as armas necessárias", disse Mikhailo Podolyak. "Mas a indecisão de hoje está a matar mais pessoas. Cada dia de atraso é a morte de ucranianos. Pensem mais rápido." Apelo similar foi subscrito pelos chefes da diplomacia da Estónia, Letónia e Lituânia.
No terreno, a Rússia está a anunciar avanços, quer em Donetsk, em especial em redor de Bakhmut, quer em Zaporíjia, embora em termos gerais o conflito esteja "em ponto morto", segundo a avaliação dos serviços de informações da Defesa britânicos.
Chisinau move-se
A invasão russa da Ucrânia teve outras consequências geopolíticas. A Suécia e a Finlândia abandonaram a neutralidade e juntaram-se à NATO, mas apesar de um processo rápido de adesão, estão dependentes da ratificação dos parlamentos da Hungria e da Turquia. O líder turco Erdogan tem explorado o dossiê ao máximo para consumo doméstico e para perseguição aos seus opositores, sejam curdos, sejam do movimento gulenista.
Ancara obteve concessões de Estocolmo: o parlamento sueco aprovou uma emenda constitucional que abre o caminho para perseguir organizações terroristas, caso do PKK. No entanto, os turcos dizem que a ratificação depende agora da extradição de pessoas que acusa de terrorismo ou de ter desempenhado um papel na tentativa de golpe de Estado de 2016, algo que não depende do governo.
Com eleições presidenciais em maio como pano de fundo, o governo turco cancelou uma visita do ministro da Defesa sueco porque as autoridades suecas permitiram uma manifestação de um ativista anti-islâmico em Estocolmo. Rasmus Paludan, um político de direita sueco-dinamarquês liderou um protesto em frente à embaixada da Turquia, no qual criticou o islão e ateou fogo a um exemplar do Alcorão.
Outro país que planeia abandonar a neutralidade é a Moldávia. A presidente Maia Sandu, em declarações ao Politico, disse que decorre um debate nacional sobre se o pequeno país tem condições para se defender ou "se deve fazer parte de uma aliança maior", sem nomear a NATO. Além de ter uma base russa em seu território contra vontade, no território separatista da Transnístria, a Moldávia tem sido um dos países mais afetados pela agressão russa: é o estado que mais refugiados recebeu per capita e sofre consequências diretas dos bombardeamentos às infraestruturas ucranianas, uma vez que o seu sistema energético depende do ucraniano.
Como antigo estado soviético, Chisinau tem sido advertido pelo regime de Putin sobre as consequências de se aproximar do Ocidente. "A propaganda russa conseguiu convencer parte da população de que a neutralidade significa que não é necessário investir no setor de defesa, que a neutralidade significa que não se faz nada e que há capacidade de se defender, o que é errado", disse Sandu.
cesar.avo@dn.pt
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