Junts presidirá ao Parlamento catalão e volta uma exilada
Quase um mês depois das eleições autonómicas catalãs, o Parlamento da Catalunha reúne pela primeira vez esta sexta-feira e o acordo para eleger a mesa da direção só foi alcançado ontem pelos partidos independentistas. A presidência ficará nas mãos de Laura Borràs, cabeça de lista do Junts per Catalunya, e os antissistema da Candidatura de Unidade Popular (CUP) terão, pela primeira vez, um dos sete lugares. Nas bancadas, há outra surpresa: uma das exiladas que saiu de Espanha para não responder na justiça pelo referendo de 1 de outubro de 2017, voltou para assumir o cargo de deputada.
As eleições de 14 de fevereiro foram ganhas pelo socialista Salvador Illa, mas sem uma maioria para fazer frente aos independentistas. A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) de Pere Aragonès saiu-se melhor do que o Junts e assumirá a presidência da Generalitat (ainda não há acordo de governo), com o partido do ex-presidente Carles Puigdemont a ficar à frente do Parlamento catalão - na anterior legislatura, a situação era oposta.
O nome da candidata ao cargo, a própria Borràs, só foi conhecido ontem à tarde, a menos de 24 horas da eleição, para desespero da CUP. "Parece-nos imprudente começar a legislatura sem uma vontade clara de conseguir acordos estratégicos e dando prioridade, pelo contrário, aos interesses partidários e ao jogo de cadeiras por cima dos interesses do país", disse o deputado Carlos Riera.
A CUP mostrou-se contra a candidatura de Borrás, até agora porta-voz do Junts no Congresso espanhol, porque ela está a ser investigada num caso de prevaricação e peculato, do tempo em que dirigia a Instituição das Letras Catalãs. A própria nega qualquer crime. A CUP disse que não votará a favor de Borràs, mas esta não precisa desses votos. Para apaziguar os antissistema, a ERC cedeu-lhes um lugar na mesa de direção.
Os socialistas catalães, que ainda não desistiram de serem eles a liderar o Parlamento (propõem Eva Granados), queriam precisamente evitar que os antissistema marcassem presença na mesa. Entretanto, Salvador Illa insiste em querer apresentar-se para a investidura, apesar de não ter os apoios suficientes para poder ser eleito presidente da Generalitat.
A surpresa de ontem foi o regresso da antiga responsável pela pasta da Agricultura no governo de Carles Puigdemont, Meritxell Serret. Eleita pela região de Lleida, resolveu deixar Bruxelas - onde ocupava o cargo de delegada do governo na União Europeia - e regressar a Espanha, onde é acusada de desvio de fundos públicos e desobediência na organização do referendo independentista.
Serret apresentou-se no Supremo Tribunal em Madrid, onde os antigos companheiros foram julgados e condenados, tendo saído em liberdade. Voltará a ser ouvida pelo juiz Pablo Llarena a 8 de abril. No final deverá responder apenas por desobediência, crime que não implica pena de prisão, mas uma possível proibição de ocupar cargos públicos durante dois anos.
"O desejo sempre foi voltar e agora, sendo deputada eleita, acreditámos que era o momento", disse à saída do Tribunal. "Estou aqui porque mantenho o meu compromisso. Quero ser deputada e fazer política para continuar a avançar para uma resolução democrática do conflito e acabar com a repressão contra o movimento independentista", referiu.
Esta semana, um tribunal catalão revogou o regime de semiliberdade a sete dos presos do processo, incluindo o ex-vice-presidente Oriol Junqueras, que só tinham a obrigação de passar as noites da semana na prisão. Por outro lado, em Bruxelas, o Parlamento Europeu retirou a imunidade aos três deputados independentistas catalães, entre os quais Puigdemont, abrindo caminho à emissão de um novo mandato de captura europeu e eventual extradição para Espanha.