Instalação artística dedicada ao fundador do WikiLeaks.
Instalação artística dedicada ao fundador do WikiLeaks.EPA/CIRO FUSCO

Julian Assange, o homem que se tornou um pesadelo para os Estados Unidos

Símbolo da liberdade de informação para muitos, o australiano que revelou os documentos secretos do Pentágono sobre as suas operações no Iraque e no Afeganistão e correspondência secreta do governo e das suas embaixadas em todo o mundo, chegou a acordo e foi libertado.
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Julian Assange, que recuperou a liberdade na madrugada desta terça-feira após alcançar um acordo com a Justiça dos Estados Unidos, tornou-se um pesadelo para este país e um símbolo da liberdade de informação para muitos.

O governo americano acusa o australiano, 52 anos, de espionagem após a divulgação de material confidencial na sua página WikiLeaks. 

Mas na madrugada desta terça-feira foi anunciado um acordo com a Justiça dos Estados Unidos, segundo o qual ele se declara culpado e será libertado, após vários anos de detenção no Reino Unido.

Segundo o acordo, Assange comparecerá na quarta-feira perante um tribunal federal nas Ilhas Marianas, um território americano no Pacífico, onde se declarará culpado de "conspiração para obter e disseminar informações de defesa nacional".

Assange criou em 2006 um veículo de comunicação sem fins lucrativos chamado WikiLeaks, que publicou, segundo o próprio site, mais de 10 milhões de documentos confidenciais, fornecidos por fontes anónimas.

Os Estados Unidos depararam-se subitamente com um meio de comunicação que revelou os documentos secretos do Pentágono sobre as suas operações no Iraque e no Afeganistão, assim como a correspondência secreta do governo e das suas embaixadas em todo o mundo.

O sistema judicial norte-americano acusou Assange de 18 crimes de violação da Lei de Espionagem por causa de uma das maiores fugas de informação secreta na história dos Estados Unidos.

Em 2010, Assange foi designado pelos leitores da revista Time a personalidade do ano. A Newsweek, por seu lado, definiu-o em 2012 como um dos personagens mais revolucionários do planeta.

Justamente em 2010, quando o WikiLeaks atingiu o pico de popularidade, a Suécia exigiu a prisão de Assange sob duas acusações, uma por estupro de uma mulher e outra por assédio sexual, durante uma visita a Estocolmo para participar numa conferência. As acusações foram posteriormente retiradas.

Assange negou as acusações, mas foi submetido a prisão domiciliária na sua casa rural inglesa, até que, em maio de 2012, o Supremo Tribunal de Londres concordou com sua extradição para a Suécia.

Pouco depois, em junho de 2012, diante do cerco a que estava sujeito e para evitar a extradição, Assange refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu durante sete anos, durante o governo de Rafael Correa.

Com a chegada de Lenín Moreno ao poder no Equador, o país deixou de conceder asilo ao australiano, que foi detido em abril de 2019 pela polícia britânica e levado para a penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, no sudeste de Londres.

A mulher, Stella Moris, revelou em 2020 que teve dois filhos com Assange enquanto ele morava na embaixada do Equador em Londres e ela integrava a equipa jurídica que trabalhava para ele.

Infância difícil

O fundador do WikiLeaks nasceu em Townsville, no nordeste da Austrália, sem conhecer o pai, John Shipton, até aos 25 anos, porque a mãe separou-se dele antes do nascimento de Julian.

A mãe teve um novo relacionamento, com Brett Assange, de quem ele herdou o sobrenome, mas de quem ela se separou quando o filho tinha oito anos.

Na primeira parte da infância, Julian Assange levou uma vida "nómada", já que a mãe e o padrasto fundaram uma companhia de teatro itinerante.

Após a separação, a mãe casou-se de novo e teve outro filho com um músico, Leif Meynell, membro de uma seita na qual Assange viveu.

Meynell maltratou Assange e a mãe, e eles acabaram por fugir.

Atraído pelo mundo dos computadores, entre 2003 e 2006, Julian Assange estudou Física e Matemática, além de Filosofia, na Universidade de Melbourne, sem concluir nenhum curso. Isso não o impediria de criar uma página na Internet, como o WikiLeaks, que se tornou uma dor de cabeça para a maior potência do mundo.

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