Marwa, a jovem de 18 anos que desafiou os talibãs sozinha no Afeganistão
Sozinha e em silêncio, Marwa exibiu um cartaz a reivindicar o direito das mulheres à educação no Afeganistão na Universidade de Cabul perante talibãs armados. "Queria mostrar o poder de uma adolescente afegã", afirmou.
Marwa, uma jovem de 18 anos, desafiou no domingo (25 de dezembro) os talibãs armados em Cabul, exibindo o seu cartaz que reivindicava o direito das mulheres à educação no Afeganistão.
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"Pela primeira vez na minha vida, senti-me muito orgulhosa, forte e poderosa, porque reivindiquei um direito que Deus nos deu", disse Marwa à AFP, recusando-se a revelar o seu apelido.
Na terça-feira da semana passada, o governo talibã proibiu as mulheres de frequentarem o ensino universitário, o que provocou indignação da comunidade internacional.
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Alguns grupos de mulheres organizaram manifestações esporádicas contra a proibição, mas as autoridades rapidamente dispersaram a multidão. Marwa, por sua vez, optou por protestar sozinha.
No domingo, a jovem esteve junto à Universidade de Cabul, a maior e a mais prestigiada instituição de ensino do país. Durante cerca de dez minutos, Marwa, filmada pela irmã a partir de um carro, manteve-se, corajosa, diante dos guardas talibãs posicionados na entrada do estabelecimento.
Brave woman: Marwa, 18, endured Taliban taunts& insults last weekend for her solo protest ≠ the ban on university education for women.
"For the 1st time in my life, I felt so proud, strong& powerful bc I was standing ≠ them& demanding a right God has given us," she told @AFP. pic.twitter.com/kjbHmaVOOj
Num vídeo obtido pela AFP, a jovem aparece a segurar, em silêncio, um cartaz, no qual estava escrito "Iqra" ("Ler", na tradução do árabe).
"Enquanto isso, eles (os talibãs) insultaram-se, mas fiquei tranquila", disse Marwa à AFP. "Queria mostrar o poder de uma adolescente afegã", afirmou Marwa, acrescentando que "mesmo uma pessoa sozinha" pode lutar "contra a opressão".
"Quando as minhas outras irmãs (estudantes) virem que uma jovem sozinha ergueu-se contra os talibãs, isso vai ajudá-las a fazer o mesmo e a vencê-los", acrescentou.
As manifestações de mulheres são cada vez menos frequentes no Afeganistão desde que os talibãs recuperaram o controlo do país em agosto de 2021. As mulheres que participam nas manifestações, regularmente, são detidas e sujeitas a violência.
Poucos dias depois da proibição de acesso das mulheres ao ensino universitário, as autoridades também ordenaram que as ONGs parassem de trabalhar com mulheres.
Os talibãs alegam que ambas as proibições foram decididas porque as mulheres não respeitavam o código de vestuário islâmico. No Afeganistão, as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto e o corpo inteiro.
Nos últimos 16 meses, os talibãs também proibiram os acessos das adolescentes ao ensino secundário e das mulheres a boa parte dos cargos públicos.
Para Marwa, que sonha em ser pintora, morar no Afeganistão é como viver numa prisão.
"Não quero ser presa. Tenho grandes sonhos que quero realizar. Por isso, decidi protestar", afirmou.