Milei entrega a motosserra a Musk num evento conservador nos EUA.
Milei entrega a motosserra a Musk num evento conservador nos EUA.EPA/WILL OLIVER / POOL

Javier Milei: do "cryptogate" à motosserra

Semana do líder argentino começou com o escândalo da $LIBRA, criptomoeda que promoveu nas redes sociais e que levou à abertura de uma investigação por fraude, e terminou em palco com Elon Musk.
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O presidente argentino, Javier Milei, enfrenta uma investigação por fraude, depois de ter promovido nas redes sociais uma criptomoeda – a $LIBRA - que acabou por rebentar, levando muitos investidores (a maioria na Argentina e nos EUA) a perdas de milhões de dólares.

Um escândalo que afeta a credibilidade do economista libertário, com este a procurar recuperar a imagem com uma viagem até Washington, para um encontro conservador no qual ofereceu uma motosserra (símbolo dos cortes que fez na Argentina e que inspirou nos EUA) ao milionário Elon Musk.

Mas afinal o que se passou?

O "cryptogate"

No dia 14 de fevereiro, Milei promoveu no X uma "meme coin". Estas criptomoedas surgem normalmente ligadas a momentos virais ou a celebridades (o presidente norte-americano, Donald Trump, e a mulher, Melania, lançaram as suas antes da tomada de posse) e têm nomes engraçados, mas para os críticos são meros esquema em pirâmide digitais. Para os apoiantes, podem revolucionar a Internet e nem todas falharam – a Dogecoin, que cresceu com o apoio de Musk no X, é a oitava maior criptomoeda do mundo.

"A Argentina Liberal cresce!! Este projeto privado vai dedicar-se a incentivar o crescimento da economia argentina, ancorando pequenas empresas e empreendimentos argentinos. O mundo quer investir na Argentina", dizia a mensagem publicada pelo presidente, com o link para o projeto. No tempo em que a mensagem esteve em destaque (acabaria por ser mais tarde apagada), a $LIBRA passou de valer quase nada (0,000001 dólares) a valer 5,20 dólares.

Mas depois de surgirem as denúncias de que era um esquema, o preço caiu para os 0,99 dólares em horas. No pico, a criptomoeda chegou a valer 4,6 mil milhões de dólares, acabando a valer apenas 162 milhões. A maioria dos investidores perdeu dinheiro, mas segundo uma empresa especializada citada pela Reuters, 34 contas ganharam quase 125 milhões de dólares entre elas (incluindo, alegadamente, oito carteiras digitais ligadas ao seu criador, o norte-americano Hayden Davis, que ganharam 99 milhões de dólares).

A investigação

Depois de apagar a mensagem, Milei negou ter qualquer ligação à criptomoeda e ao seu criador – que alegou contudo ser um conselheiro do presidente.

Na segunda-feira, 17 de fevereiro, foram feitas dezenas de denúncias. Um juiz federal argentino está a investigar o lançamento da "meme coin" e o envolvimento do presidente, com a oposição a pedir o seu impeachment.

Milei insiste que não teve nada a ver com o "cryptogate" e deu ordens para o gabinete anti-corrupção investigar se fez algo de errado.

Algo que é visto como positivo por alguns analistas, que acreditam que o caso não deixará um impacto na popularidade do presidente. Antes do escândalo, a popularidade do presidente era de 42%.

Contudo, há outros que dizem que pode afetar a credibilidade não só de Milei – houve alguns protestos em Buenos Aires - como da própria Argentina. O país está a tentar renegociar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (outra das razões pelas quais foi a Washington).

O libertário chegou ao poder na Argentina em finais de 2023 com a promessa de controlar a inflação (em janeiro caiu para os 2,2%, o valor mais baixo desde 2020) e eliminar a corrupção entre a elite política.

Numa sondagem, 67% dos inquiridos descreveram o "cryptogate" como a "maior crise" do governo de Milei, com 83% a defender que o presidente devia deixar de se comportar como um influencer nas redes sociais.

A motosserra

À procura de virar a página ao escândalo, Milei viajou até a um encontro conservador nos arredores de Washington, onde ofereceu uma motosserra vermelha a Musk. "Esta motosserra é para a burocracia", disse o milionário dono do X, da Tesla e da Space X, em palco.

A ferramenta elétrica tem inscrito em espanhol o slogan de Milei: "Viva la libertad, carajo!" e será uma réplica da que o presidente tem no seu gabinete. Antes de ser eleito, Milei levava uma motosserra para os seus comícios como símbolo dos cortes que prometia fazer.

Milei deverá intervir, este sábado, na Conferência de Ação Política Conservadora – onde se espera também a presença de Donald Trump.

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