Itália vota em referendo para agilizar regras de cidadania para filhos de estrangeiros nascidos no país
Os italianos estão a votar neste domingo e amanhã, dia 9, para um referendo sobre a possibilidade de facilitar a obtenção da cidadania para crianças nascidas de estrangeiros no país. Os ativistas e defensores da medida já estão a alertar, conforme refere o jornal britânico The Guardian, para o facto de a aparente baixa conscientização pública sobre a votação poder invalidar o resultado alcançado. Isto, se a participação não for suficiente.
Segundo os ativistas, a mudança na lei de cidadania em Itália irá ajudar os italianos nascidos no país, filhos de pais de fora da UE, a integrarem-se melhor na sociedade e na cultura que já consideram sua.
O cantor italiano Ghali, nascido em Milão, filho de pais tunisianos, pediu às pessoas que votassem numa publicação online, observando que o referendo, realizado neste domingo e segunda-feira, corre o risco de fracassar se, pelo menos, não votarem 50% dos eleitores elegíveis.
“Eu nasci aqui, sempre morei aqui, mas só recebi a cidadania aos 18 anos”, disse Ghali, pedindo um voto sim para reduzir o requisito de residência de 10 para cinco anos.
Se as novas regras forem aprovadas, poderão beneficiar cerca de 2,5 milhões de estrangeiros que ainda lutam para serem reconhecidos como cidadãos italianos.
As medidas foram propostas pelos principais partidos da oposição e esquerda italiana. A primeira-ministra, Giorgia Meloni, disse que iria comparecer às urnas, mas não votaria, uma ação amplamente criticada pela esquerda como antidemocrática, uma vez que não ajudará a atingir o limite necessário para tornar o voto válido.
O referendo sobre cidadania é um dos vários que estão a ser realizados sobre questões como a adoção e medidas para maior proteção do emprego. "Embora alguns membros da sua coligação governamental tenham pedido abertamente a abstenção, Meloni optou por uma abordagem mais subtil", disse Wolfango Piccoli, analista da consultoria Teneo, sediada em Londres. “É mais um exemplo de sua indecisão característica.”
Para os ativistas esta mudança alinharia a lei de cidadania italiana à de muitos outros países europeus, promovendo maior integração social para residentes de longa duração. Também permitiria acesso mais rápido a direitos civis e políticos, como o direito ao voto, a elegibilidade para empregos públicos e a liberdade de circulação dentro da UE.
Selam Tesfaye, ativista e militante do grupo de direitos humanos Il Cantiere, sediado em Milão, afirmou: “O verdadeiro drama é que nem as pessoas que votarão sim nem as que pretendem votar não ou se abster têm ideia do calvário que as crianças nascidas de estrangeiros enfrentam neste país para obter uma autorização de residência.”
Os ativistas e partidos da oposição denunciaram ainda a falta de debate público sobre as medidas, acusando a coligação de direita no governo de tentar diminuir o interesse em questões sensíveis que afetam diretamente imigrantes e trabalhadores.
Em maio, a AGCOM, autoridade de comunicação da Itália, apresentou uma queixa contra a televisão estatal RAI e outras emissoras por falta de cobertura adequada e equilibrada deste tema.
Michelle Ngonmo, empreendedora cultural e defensora da diversidade na indústria da moda, que viveu a maior parte de sua vida em Itália, após se mudar dos Camarões na infância, disse: "Este referendo é realmente sobre dignidade e o direito de pertencer a um país, que é fundamental para muitas pessoas que nasceram aqui e passaram a maior parte de sua vida adulta contribuindo para a sociedade italiana. Para elas, a falta de cidadania é como um muro invisível. Acrescentando: "Você é bom o suficiente para trabalhar e pagar impostos, mas não para ser totalmente reconhecido como italiano. Isso torna-se uma desvantagem para as gerações mais jovens, especialmente no campo criativo, gerando frustração, exclusão e um grande desperdício de potencial."