Israel reocupa e bloqueia Gaza para forçar Hamas a libertar reféns
O Programa Alimentar Mundial e os Médicos Sem Fronteiras alertaram para o agravamento da situação humana na Faixa de Gaza quando o novo bloqueio imposto por Israel perfaz um mês e, em paralelo, o governo israelita anuncia a expansão das operações militares, o que implica tomar o eixo que separa Rafah de Khan Younis e criar um segundo corredor a separar o enclave do Egito. “Estamos agora a separar a Faixa de Gaza e a aumentar a pressão passo a passo para que nos entreguem os nossos reféns. Quanto mais tempo se recusarem a entregá-los, mais a pressão aumentará até o fazerem”, disse o primeiro-ministro israelita, enquanto uma associação de familiares dos cativos criticou esta política.
Primeiro foi o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, a anunciar o alargamento das operações militares “para esmagar e limpar a área dos terroristas e das infraestruturas terroristas, e para tomar grandes áreas que serão integradas nas zonas de segurança de Israel”. Katz também apelou para os residentes se revoltarem contra o Hamas para os reféns voltarem para casa - “Esta é a única maneira de pôr termo à guerra.” Depois, o porta-voz das forças israelitas em língua árabe, Avichay Adree, alertou os habitantes para saírem de Rafah e de Khan Younis. “Não deem ouvidos às tentativas do Hamas de vos impedir de vos retirarem para continuarem a ser os seus escudos humanos. Desocupem imediatamente as zonas designadas”, advertiu antes de bombardeamentos que mataram dezenas de pessoas, quer naquelas localidades a sul, quer a norte. Em Jabalia, Telavive diz ter atingido “terroristas do Hamas” que “se escondiam num posto de comando”, no caso um edifício da agência das Nações Unidas para os refugiados (UNWRA) que funcionava como clínica. Segundo fontes médicas consultadas pela Al Jazeera, os ataques fizeram quarta-feira pelo menos 71 mortos.
Ainda no campo militar, o chefe do Estado-Maior Eyal Zamir confirmou que os seus homens estão a “aprofundar a operação”. E disse: “Vamos manter a ambiguidade operacional e o elemento surpresa. A única coisa que pode parar o nosso avanço é a libertação dos reféns.”
Num discurso em vídeo, o primeiro-ministro israelita disse ter “mudado de velocidade” na Faixa de Gaza, depois de ter deixado de cumprir o acordo de trégua com o Hamas no passado dia 18. Benjamin Netanyahu defendeu a reocupação militar de Gaza como forma de pressionar a organização islamista a libertar os restantes 59 reféns, entre sobreviventes e mortos. Segundo os militares citados pelo site Axios, o objetivo é ocupar 25% do território nas próximas duas a três semanas. Ao The Jerusalem Post, fontes militares disseram que essa percentagem já está a rondar os 30%. Mas há quem tema que, à boleia da campanha de “máxima pressão”, a nova deslocação à força dos palestinianos sirva para forçar estes a sair do enclave, tal como sugerido por Donald Trump. Ainda de acordo com o mesmo órgão noticioso, a Mossad encetou contactos com alguns países para a hipótese de os palestinianos de Gaza virem a morar.
O Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos, a mais representativa associação, disse estar “horrorizado” com o anúncio da expansão militar em Gaza. “Em vez de libertar os reféns através de um acordo e acabar com a guerra, o governo israelita está a enviar mais soldados para Gaza, para combater nas mesmas áreas onde têm estado a combater repetidamente”, disseram as famílias em comunicado. “Expliquem como é que esta operação serve o objetivo de devolver os reféns e como é que pretendem evitar colocá-los em perigo”, desafiaram.
O bloqueio de assistência humanitária - iniciado há um mês e agravado uma semana depois com o corte de eletricidade - levou ao encerramento das padarias em Gaza e aos alertas de várias organizações sobre as suas consequências. “As autoridades israelitas condenaram o povo de Gaza a um sofrimento insuportável com o seu cerco mortal”, comentou Myriam Laaroussi, coordenadora de emergências dos Médicos Sem Fronteiras naquele território. A agência militar israelita que coordena as entregas de ajuda, COGAT, disse que há comida em Gaza para um “longo período de tempo”, caso o Hamas conceda o acesso aos civis. “No que diz respeito à ONU, isso é ridículo... os nossos fornecimentos estão a chegar ao fim”, comentou o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, Stéphane Dujarric.