Israel quer reféns libertados até Ramadão e ameaça ofensiva em Rafah
Israel prometeu lançar a ofensiva terrestre contra Rafah, onde se refugiaram cerca de 1,4 milhões de palestinianos, caso o movimento islamita Hamas não liberte os reféns israelitas até 10 de março, o início do Ramadão.
"Se até ao Ramadão os reféns não estiverem em casa, os combates continuarão em todo o lado, incluindo na região de Rafah", declarou o ministro israelita Benny Gantz, membro do gabinete de guerra do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no domingo.
O Ramadão, mês sagrado dos muçulmanos, começa este ano a 10 de março.
"O Hamas tem uma escolha. Eles podem render-se, libertar os reféns e os civis de Gaza poderão celebrar o festival do Ramadão", acrescentou Gantz, ex-chefe do exército israelita, em Jerusalém.
O ministro garantia que uma ofensiva seria levada a cabo de forma coordenada e no quadro de um diálogo com "parceiros norte-americanos e egípcios", "facilitando a retirada de civis" para "minimizar (...) tanto quanto possível " o número de vítimas em suas fileiras.
Responsável da ONU para Gaza alerta para "consequências gravíssimas" de ataque em Rafah
A coordenadora da ONU para a resposta humanitária e reconstrução da Faixa de Gaza já advertiu que uma intervenção militar de Israel em Rafah terá "consequências gravíssimas" para a população palestiniana e insistiu que é preciso travá-la.
"Uma ampliação das operações militares [israelitas] a Rafah [no sul da Faixa de Gaza] terá consequências gravíssimas para a população", alertou a neerlandesa Sigrid Kaag, depois de uma reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-membros da União Europeia (UE), em Bruxelas, incluindo com o chefe da diplomacia portuguesa João Gomes Cravinho.
A coordenadora da ONU para a resposta humanitária e reconstrução do enclave palestiniano, que desde 07 de outubro está a ser de alvo de intensos bombardeamentos israelitas em retaliação aos ataques do Hamas no sul de Israel, disse que as declarações que fez recolheram apoio de uma parte dos ministros europeus, incluindo sobre a necessidade de continuar a apoiar a Agência das Nações Unidas de Apoio aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA, na sigla em inglês).
"A capacidade de prestar assistência humanitária em Gaza não encontra substituto sem a UNRWA", sustentou.
Sigrid Kaag, antiga ministra das Finanças dos Países Baixos, lamentou ainda que o Governo de Telavive continue empenhado em bombardear um dos últimos locais em Gaza que não está dizimado, numa referência a Rafah. "O 'timing' é a única questão que está a ser discutida", afirmou a representante.
Netanyahu reiterou no sábado que está determinado a levar a cabo uma ofensiva terrestre em Rafah, no sul do enclave e junto à fronteira com o Egito, onde se encontram 1,4 milhões de palestinianos, apesar dos apelos de parte da comunidade internacional.
O Hamas lançou em 7 de outubro de 2023 um ataque surpresa contra o sul de Israel, que causou a morte de mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da agência de notícias France-Presse baseada em números oficiais israelitas.
Cerca de 250 pessoas foram raptadas e levadas para Gaza, de acordo com as autoridades israelitas. Destas, perto de cem foram libertadas no final de novembro, durante uma trégua em troca de prisioneiros palestinianos, e 132 reféns continuam detidos no território palestiniano.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, disse no domingo que Rafah e a cidade vizinha de Khan Yunis, bem como outras áreas do enclave palestiniano, foram alvo de bombardeamentos israelitas que deixaram 127 mortos nas 24 horas anteriores.
Em Khan Yunis, o hospital Nasser "já não funciona depois de um cerco de uma semana, seguido de um ataque em curso", disse o líder do Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na rede social X.
Sete pacientes, incluindo uma criança, morreram no hospital desde sexta-feira devido a cortes de energia, e "70 membros da equipa médica, incluindo médicos de terapia intensiva" foram detidos, disse o Ministério da Saúde.
Em resposta ao ataque de 07 de outubro, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
Desde o ataque do Hamas, a ofensiva israelita fez quase 29 mil mortos e 68.400 feridos, na maioria civis.