Israel não dá sinais de acalmia enquanto EUA bloqueiam ONU
A guerra não declarada entre Israel e os grupos islamistas Hamas e Jihad Islâmica entrou na segunda semana, deixando mais de 200 mortos, 1300 feridos e 40 mil desalojados na Faixa de Gaza, 10 em Israel e 22 mortos na Cisjordânia, resultado dos confrontos entre manifestantes e militares israelitas. Pior, o conflito continua sem fim à vista. Às primeiras horas de segunda-feira, a força aérea israelita voltou a realizar dezenas de ataques, enquanto de Gaza eram lançados rockets - mais de 3200 desde o início das hostilidades.
O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que recebeu "a solidariedade" da chanceler alemã Angela Merkel, viu o seu mais poderoso aliado, os Estados Unidos, bloquearem uma declaração conjunta do Conselho de Segurança das Nações Unidas pela terceira vez no espaço de uma semana. Com o Conselho sem voz graças ao poder de veto norte-americano, a Assembleia Geral da ONU vai realizar um debate sobre o conflito israelo-palestiniano na quinta-feira. Mas com o avançar das hostilidades, mais vozes se levantam no campo democrata contra o apoio acrítico a Telavive.
Um texto redigido pela China, Tunísia e Noruega no Conselho de Segurança apelava à "desescalada da situação, cessação da violência e respeito pelo direito humanitário internacional, incluindo a proteção de civis, especialmente crianças" e foi submetido para votação na segunda-feira, porém os Estados Unidos indicaram que "não podiam neste momento apoiar uma expressão" do Conselho de Segurança, disse um diplomata à AFP. O documento também expressava "séria preocupação" com a possível expulsão de famílias palestinianas das suas casas em Jerusalém Oriental, opondo-se a "ações unilaterais" suscetíveis de agravar ainda mais as tensões.
A administração do presidente Joe Biden diz que está a trabalhar numa solução, aponta para o enviado à região, e defende que uma declaração das Nações Unidas pode ter um efeito adverso. Um argumento que não colhe. "Estamos apenas a pedir aos EUA que apoiem uma declaração do Conselho de Segurança que diga praticamente coisas semelhantes que estão a ser ditas bilateralmente por Washington", disse um diplomata à AFP.
O "cheque em branco diplomático ao Estado de Israel" dado por sucessivas administrações - como diz Jeremy Ben-Ami, presidente do grupo J Street (pró-israelita e a favor de uma solução pacífica) - começa a ser questionado por um número cada vez maior de democratas. Não é só o senador e ex-candidato à presidência Bernie Sanders ou a representante Alexandria Ocasio-Cortez. No domingo, 27 senadores democratas apelaram a uma trégua imediata, uma declaração semelhante àquelas bloqueadas por Washington no Conselho de Segurança da ONU.
Acusado pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan de ter "as mãos ensanguentadas", e questionado pelos jornalistas se iria juntar a sua voz à de muitos outros para apelar ao cessar-fogo, Joe Biden disse que iria falar de novo com Netanyahu na segunda-feira à noite.
Shibley Telhami, cientista político de origem palestiniana, não tem esperança de que a administração mude a bitola. "Sobre questões sociais e raciais, Biden evoluiu ao longo dos anos, mais próximo dos seus eleitores democratas. Sobre Israel-Palestina, tem sido um retrocesso para outra era da cultura política democrata, desligado do ambiente em transformação e do círculo eleitoral democrata que o elegeu", considerou o professor da Universidade de Maryland em declarações ao Washington Post.
No terreno, as ordens são para continuar. Assim mesmo disse Netanyahu ao fim de segunda-feira, elogiando os ataques em que se "eliminou outro comandante principal da Jihad Islâmica, atingiu uma unidade naval do Hamas, e continua a atacar a rede de túneis subterrâneos do Hamas juntamente com outros alvos". Na véspera, o primeiro-ministro interino disse na TV que a "campanha contra as organizações terroristas vai levar tempo".
O exército de Israel disse que atingiu as casas de nove comandantes "de alta patente" do Hamas durante a noite, embora não tenha dado pormenores sobre quaisquer baixas. Um dia antes, a casa de Yahya Sinwar, chefe da ala política do grupo islamista, tinha sido bombardeada.