Israel liberta 70 palestinianos. Família de crianças reféns do Hamas aguarda "angustiada"
Já chegaram à passagem fronteiriça de Rafah 70 prisioneiros palestinianos libertados este sábado por Israel, no âmbito de um acordo de troca de reféns com o grupo islamita Hamas.
Este grupo faz parte dos 200 palestinianos libertados este sábado por Israel no âmbito do cessar-fogo com o Hamas e deverão permanecer no Cairo, Egito, durante cerca de uma semana, antes de viajarem para os países de acolhimento: Argélia, Turquia e Tunísia.
Em contraponto, a família das últimas crianças israelitas mantidas reféns na Faixa de Gaza gritou hoje de angústia, dizendo que o seu "mundo tinha desabado" após a notícia de que não seriam libertadas nas próximas horas.
"Esta noite, mais uma vez, as nossas almas não estarão em paz", escreveu a família nas redes sociais quando soube que Kfir, de 2 anos, e Ariel, de 5, assim como a sua mãe, Shiri Silberman, não estavam na lista de reféns a serem libertados hoje.
A família "esperava ver Shiri e as crianças na lista", apesar do anúncio feito pelo Hamas há mais de um ano sobre as suas mortes, que Israel nunca confirmou.
Israel "profundamente preocupado"
De acordo com fontes locais, os palestinianos chegaram à fronteira com o Egito de autocarro, vindos da passagem de Kerem Shalom, logo após a sua libertação, devendo agora aguardar a realização de exames médicos.
O responsável da comissão para os prisioneiros e ex-prisioneiros da Cisjordânia ocupada, Ameen Shoman, confirmou que alguns dos prisioneiros libertados serão transferidos do Egito, o país mediador das negociações, para países de acolhimento.
A libertação dos prisioneiros faz parte da segunda ronda de trocas de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos, que culminou com a libertação de quatro soldados israelitas pelo Hamas.
A administração penitenciária israelita confirmou ter libertado 200 detidos palestinianos em troca de quatro jovens mulheres militares israelitas detidas em Gaza desde 07 de outubro de 2023.
Numa declaração televisiva, após a libertação das reféns, o porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari, admitiu, no entanto, que o exército está "profundamente preocupado" com o destino das duas crianças.
Não foi só por esta família ter continuado em cativeiro que Israel se mostrou desagradado com a libertação das quatro reféns militares.
"O Hamas não cumpriu com as suas obrigações de primeiro libertar as mulheres civis israelitas", disse Hagari, numa breve declaração feita logo após a confirmação de que as reféns tinham entrado em território israelita.
Incoerências no resgate de civis
Já na sexta-feira à noite, quando o Hamas anunciou que iria libertar quatro mulheres soldados raptadas da base militar de Nahal Oz, Israel manifestou a sua discordância, alegando que uma das condições do acordo era que as mulheres civis teriam prioridade na libertação.
No entanto, segundo a agência de notícias espanhola Efe que diz ter tido acesso aos documentos, o acordo não inclui qualquer cláusula sobre esta prioridade.
Das 33 pessoas libertadas na primeira fase do cessar-fogo em Gaza, sete são mulheres, cinco das quais militares (uma não foi libertada hoje) e duas são civis.
As civis são, além de Shiri Silberman, de 33 anos, também Arbel Yehud, de 29.
Nos últimos dias, a imprensa israelita referiu que Israel tentou pressionar para que Arbel Yehud fosse uma das mulheres libertadas hoje e, esta manhã, o gabinete do primeiro-ministro divulgou uma nota a afirmar que Telavive não permitirá que os palestinianos regressem ao norte de Gaza enquanto aquela refém não for libertada.
As quatro reféns libertadas hoje foram Liri Albag, de 19 anos, e Karina Ariev, Daniella Gilboa e Naama Levy, de 20 anos. As militares foram exibidas, a sorrir e a acenar, por militantes do Hamas, num palco na Praça Palestina, na Cidade de Gaza, onde milhares de pessoas se juntaram, tendo sido depois levadas aos veículos da Cruz Vermelha que as aguardavam.
Israel confirmou que as reféns estavam bem, pouco depois da entrega à Cruz Vermelha.
O cessar-fogo, que entrou em vigor no domingo passado, após 15 meses de conflito, foi conseguido com a moderação do Qatar e dos EUA com o objetivo de pôr fim à guerra mais mortífera e destrutiva alguma vez travada entre Israel e o Hamas.
O frágil acordo tem-se mantido até agora, silenciando os ataques aéreos e os 'rockets' e permitindo a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.