Israel diz que fará no Sul "o mesmo e pior" do que fez no Norte de Gaza

Ministro de Defesa referia-se especificamente ao "destino dos terroristas do Hamas", numa altura em que a ofensiva terrestre se centra em torno da localidade de Khan Younis.
Publicado a
Atualizado a

Na primeira fase da guerra, antes dos sete dias de pausa para a libertação de reféns, o foco de Israel era no Norte da Faixa de Gaza (a zona mais povoada do enclave), dando ordens para que os palestinianos fugissem para sul. Desde o fim da trégua, na sexta-feira, a atenção virou-se para essa área onde muitos procuraram refúgio, com bombardeamentos em Khan Younis e, já esta segunda-feira, a entrada de dezenas de tanques e tropas. O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, promete que as forças de Israel farão aos terroristas do Hamas de lá "o mesmo e pior" do que fizeram aos do Norte.

"A ação que está a acontecer agora em breve levará à destruição [do Hamas] em toda a zona da cidade de Gaza e no Norte da Faixa de Gaza", disse Gallant num posto de observação a partir de Israel, que permite ver o campo de refugiados de Jabalia e o bairro de Shejaiya, na cidade de Gaza, ambas na região Norte. "Ao mesmo tempo, as IDF [sigla em inglês para Forças de Defesa de Israel] começaram a trabalhar no Sul. O destino dos terroristas dos batalhões do Hamas ali será o mesmo do que no Norte e pior", indicou, citado pelo Times of Israel. "Vamos continuar até à vitória e até todos os objetivos serem alcançados: a eliminação do Hamas e o regresso dos reféns a Israel."

A guerra em Gaza começou a 7 de outubro, em resposta ao ataque terrorista do Hamas que, segundo os israelitas, deixou mais de 1200 mortos em Israel. Cerca de 240 pessoas foram feitas reféns, tendo a trégua permitido libertar mais de uma centena - em troca da libertação de presos palestinianos e a entrada de ajuda humanitária no enclave. A falta de acordo para a libertação de mais reféns - ainda haverá 137 - resultou no retomar dos ataques israelitas, que até então já tinham causado a morte a mais de 15 mil palestinianos (segundo as autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, mas consideradas credíveis pela ONU). Desde o retomar dos ataques, mais de 800 pessoas já terão morrido.

O elevado número de civis mortos tem sido motivo de críticas e chamadas de atenção por parte da comunidade internacional. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse que o que começou com "uma matança", referindo-se ao ataque terrorista de 7 de outubro, continua com outra "matança" agora em Gaza. Borrell assinalou que, apesar de Israel ter direito a defender-se, "não se pode aceitar este elevado número de vítimas civis" porque "um horror não pode justificar outro horror e a comunidade internacional está a erguer cada vez mais a sua voz a pedir que termine este horror".

Por seu lado, os EUA reiteraram os apelos para que os israelitas poupem os civis, considerando que houve um esforço da parte de Israel para limitar os números de vítimas no Sul da Faixa de Gaza. "O que dissemos é que eles precisam de dar passos adicionais para proteger os civis", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, citado pela AFP. "Temos visto pedidos de evacuação muito mais direcionados" do que no Norte, explicou, falando de uma "melhoria" em relação ao que tinha acontecido antes e esperando que "o número de deslocados seja menor no Sul". Ainda assim, disse que os EUA vão ficar atentos.

O porta-voz das IDF, Daniel Hagari, explicou que estão a ser dadas "instruções precisas" aos residentes de Gaza que estão perto dos "centros de gravidade" do Hamas para que "se afastem temporariamente do perigo em que o Hamas os coloca". Hagari explicou que estão a ser largados panfletos com códigos QR que dão acesso a um mapa dos locais "seguros". Mas os críticos dizem que os mapas não são fiáveis e, além disso, com acesso limitado a eletricidade ou Internet, não estão acessíveis para muitos palestinianos. Esta segunda-feira, por exemplo, todos os serviços de telecomunicações estiveram em baixo no norte do enclave.

Dezenas de mulheres marcharam esta segunda-feira frente ao edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque, para denunciar os abusos e violações de que as mulheres israelitas foram alvo durante o ataque do Hamas. As autoridades israelitas estão a investigar as denúncias, mas só no sábado a ONU Mulher condenou "o brutal ataque" do grupo terrorista palestiniano. O Hamas rejeita o que apelida de "mentiras".

Esta segunda-feira, os EUA indicaram contudo que uma das razões por que os terroristas não quiseram libertar mais reféns mulheres foi por "não quererem que elas contem o que lhes aconteceu" durante o tempo em cativeiro. Não querendo dar pormenores, Miller disse que os EUA "não têm razões para duvidar" os relatos de abusos sexuais por parte do Hamas.

susana.f.salvador@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt