Israel pintou-se de laranja, símbolo dos cabelos ruivos de Ariel e Kfir, para se despedir das duas crianças da família Bibas, raptados pelo Hamas quanto tinham apenas 4 anos e nove meses, e da mãe Shiri. Os três morreram em cativeiro. “Shiri, por favor, olha por mim. Protege-me das más decisões. Protege-me das coisas prejudiciais e de mim mesmo. Protege-me para que eu não me afunde na escuridão”, disse na eulogia o viúvo Yarden Bibas, libertado há menos de um mês pelo grupo terrorista palestiniano. Um dia de luto para Israel, com o Hamas a prometer a entrega dos corpos de mais quatro reféns durante a noite.A família Bibas tornou-se num símbolo do trauma vivido pelos israelitas nos ataques de 7 de outubro de 2023, durante o qual cerca de 1200 pessoas morreram e 250 foram raptadas pelo Hamas e levadas para a Faixa de Gaza. O grupo terrorista palestiniano alega que os três foram mortos num bombardeamento israelita, mas Israel diz que as provas científicas revelam que foram mortos pelos captores, com as próprias mãos. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, tem dado detalhes da tragédia, mas a família pediu que deixasse de o fazer, explicando que isso só aumenta o sofrimento.Milhares de pessoas com a bandeira azul e branca de Israel, balões cor de laranja ou fotos dos Bibas alinharam-se ao longo de 60 quilómetros para ver passar o cortejo fúnebre até ao cemitério de Tzohar, próximo do kibbutz de Niro Oz onde viviam e de onde foram raptados. Edifícios como o Knesset, o Palácio Presidencial e o aeroporto internacional Ben Gurion iluminaram-se também de laranja. Na Praça dos Reféns, em Telavive, outros milhares assistiram em direto à cerimónia, privada e sem presença de representantes do Estado, mas transmitida pela televisão. E assistiram à emotiva eulogia de Yarden (que usou um kippah laranja). “Shiri, lamento não vos ter conseguido proteger”, disse, tendo ao lado o apoio da irmã. A mulher e os filhos foram depois sepultados num só caixão, abraçados como nas imagens do dia do rapto que marcaram Israel e o mundo. Mais corposO trauma da entrega de reféns mortos devia repetir-se horas mais tarde, já durante a noite, mas alegadamente sem as cerimónias de propaganda do Hamas na Faixa de Gaza - que levaram Israel a adiar a libertação de mais de 600 prisioneiros palestinianos no último fim de semana. O Hamas indicou que esses presos seriam libertados em simultâneo, mas as autoridades israelitas alegaram que só depois de terem os corpos os libertariam.Um do corpos que o Hamas disse que ia entregar era o de Tsachi Idan, descendente de um membro da comunidade sefardita de origem portuguesa (mas sem a nacionalidade). Tinha 50 anos quando foi levado, após ver a filha de 18 anos ser morta à sua frente. O grupo disse ainda que entregaria os corpos de Itzhak Elgarat, de 69 anos, Ohad Yahalomi, de 50, e Shlomo Mantzur, de 86. As famílias foram informadas. A confirmarem-se as identidades (o Hamas inicialmente enviou o corpo errado de Shiri Bibas), restam ainda no enclave palestiniano 59 reféns - Israel reconhece que 32 estão mortos.Os quatro são os últimos da lista inicial de 33 que o Hamas aceitou libertar na primeira fase do cessar-fogo, que termina no sábado. A segunda fase devia ter começado a ser negociada há mais de 15 dias, com a mediação do Egito e do Qatar, mas têm havido atrasos, com Israel e os aliados dos EUA a apostar num prolongamento da primeira fase. A ideia seria prosseguir com as libertações dos reféns em troca dos presos palestinianos, e não avançar para a segunda fase que implicaria a retirada total de Israel da Faixa de Gaza. Algo que os israelitas não estão preparados para aceitar sem a destruição total do Hamas. O grupo terrorista palestiniano alega que ainda não recebeu nenhuma proposta oficial para a segunda fase do acordo de cessar-fogo. De acordo com o The Times of Israel, os israelitas dizem que ou o Hamas aceita as suas exigências - desarmamento total, a ida dos seus líderes para o exílio e a entrega do controlo civil da Faixa de Gaza - e é possível avançar para a negociação da segunda fase, ou continua a libertar os reféns e há um prolongamento do cessar-fogo, ou volta a guerra e, como o presidente norte-americano, Donald Trump, disse, “abrem-se os portões do inferno”. Segundo a mesma fonte, se não houver mais libertações até sábado, 8 de março, o cessar-fogo é dado como terminado.