Líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, com o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, em Teerão.
Líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, com o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, em Teerão.AFP PHOTO / HO / KHAMENEI.IR

Israel culpa resolução por impasse nas negociações

EUA rejeitam que exigência de “cessar-fogo imediato” do Conselho de Segurança tenha estado por detrás de um recuo do Hamas.
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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reiterou esta terça-feira que Israel “não se vai render às exigências surreais do Hamas e vai continuar a agir para alcançar os objetivos da guerra”. O chefe do governo alega que o grupo terrorista, que rejeitou o último acordo, não está interessado em continuar as negociações, tendo mandado sair parte da sua equipa de negociadores de Doha. E apontou o dedo ao “dano” da resolução aprovada na segunda-feira no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Algo que os EUA já vieram negar. 

Apesar da resolução a exigir um “cessar-fogo imediato” e a “libertação imediata e incondicional” dos reféns, no terreno nada mudou. Testemunhas citadas pela AFP davam conta de que estavam a ser disparados tiros no complexo do hospital Nasser, em Khan Yunis, onde milhares de palestinianos estão refugiados, com as autoridades de saúde da Faixa de Gaza, controladas pelo Hamas, a revelar que o local está cercado pelos tanques e carros de combate israelitas. 

Mais de cinco meses depois do início da guerra, no seguimento do ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro que fez cerca de 1200 mortos em Israel, ambos os lados insistem nas suas posições, rejeitando os esforços internacionais para chegar a um acordo. O Hamas disse que irá manter os reféns até Israel aceitar um cessar-fogo permanente, retirar as suas forças de Gaza e libertar centenas de prisioneiros palestinianos das suas prisões. E ainda na segunda-feira rejeitaram o acordo em cima da mesa. 

“Apesar de esta resolução ter chegado tarde e de existirem algumas lacunas a colmatar, a resolução demonstra que a ocupação israelita está a viver um isolamento político sem precedentes”, afirmou esta terça-feira em Teerão o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, após uma reunião com o chefe da diplomacia iraniano, Hossein Amir-Abdollahian. Haniyeh encontrou-se também com o líder supremo iraniano, Ali Khamenei.

A rejeição do acordo por parte do Hamas horas depois da resolução, levou Netanyahu a culpar o texto aprovado no Conselho de Segurança com a abstenção dos EUA - uma situação que deteriorou ainda mais a relação entre os dois aliados. Mas os norte-americanos rejeitam essa leitura. “A declaração de Netanyahu de que há uma ligação entre a decisão do Conselho de Segurança e a resposta do Hamas é imprecisa em quase todos os aspetos”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, dizendo que a resposta do Hamas já estaria preparada antes. “Não vamos brincar à política neste tema tão importante e difícil e vamos continuar a focar-nos num acordo para a libertação dos reféns restantes.”

Entretanto, os EUA estão a alegar que a resolução “não é vinculativa”, apesar de defenderem que deve ser aplicada por todas as partes, algo que a Rússia já criticou: “Com a bênção dos EUA, Israel tem agora, apesar da exigência direta do Conselho de Segurança, total carta-branca e não planeia parar até destruir Gaza”, disse o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya. 

O primeiro-ministro israelita cancelou a viagem a Washington de uma equipa para falar da operação terrestre em Rafah. Mas o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, já estava na capital norte-americana, tendo reunido esta terça-feira com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin. Este descreveu o número de civis mortos em Gaza como “demasiado alto” e a quantidade de ajuda humanitária entregue como “demasiado baixa”. Mas também reiterou o direito de Israel a defender-se.

O Hamas pediu entretanto aos países para deixarem de lançar ajuda humanitária de aviões, depois de 18 pessoas terem morrido - 12 delas afogadas quando tentavam recuperar os pacotes das águas do Mediterrâneo. Os EUA indicaram contudo que irão continuar a usar este método, dizendo que trabalham também para aumentar a ajuda por via terrestre e por criar um corredor marítimo que permita a chegada por barco. 

susana.f.salvador@dn.pt

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