Israel admite “trágico acidente” após ataque gerar indignação mundial
Um “trágico acidente” que está a ser “investigado”. Foi desta forma que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reagiu ao ataque que, na noite de domingo, atingiu um campo de deslocados em Rafah, matando pelo menos 45 civis palestinianos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas. O bombardeamento, que os israelitas dizem ter matado dois líderes do grupo terrorista, está a causar indignação mundial. “Para nós é uma tragédia, para o Hamas é estratégia”, afirmou Netanyahu.
O primeiro-ministro está a ser pressionado a nível internacional, com muitos líderes a apelar à implementação da decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). Na sexta-feira, o tribunal que julga a acusação de genocídio contra Israel ordenou o fim da ofensiva em Rafah, mas não tem forma de fazer cumprir essa ordem.
Netanyahu está também a ser pressionado internamente, com as famílias dos reféns que estão desde o ataque terrorista de 7 de outubro nas mãos do Hamas, a exigir que negoceie. “Aqueles que dizem que não estão preparados para enfrentar a pressão levantam a bandeira da derrota. Não levantarei essa bandeira, continuarei a lutar até que a bandeira da vitória seja hasteada”, disse no Knesset, segundo o The Times of Israel. “Não pretendo acabar com a guerra antes de todos os objetivos terem sido alcançados. Se cedermos, o massacre retornará. Se cedermos, daremos uma enorme vitória ao terror, ao Irão.”
Um dos objetivos é desmantelar o Hamas, com o governo a alegar que só uma operação em Rafah poderá permitir isso. O ataque israelita de domingo à noite ocorreu num campo de deslocados na área de Tal al-Sultan, uma das “zonas seguras” apontadas pelos israelitas para onde muitos palestinianos tinham fugido após receberem ordens para sair das suas casas. Muitas tendas ficaram em cinzas, após o ataque ter provocado um incêndio.
O exército israelita anunciou, durante a noite, ter bombardeado um “complexo do Hamas em Rafah”, matando dois oficiais do grupo terrorista na Cisjordânia, Yassin Rabia e Khaled Nagar. O bombardeamento está a ser investigado, com a principal procuradora militar israelita, Yifat Tomer-Yerushalmi, a considerá-lo “muito grave”.
Os EUA, principais aliados de Israel, têm-se mostrado contra uma operação de larga escala em Rafah. “Israel tem o direito de ir atrás do Hamas e entendemos que este ataque matou dois terroristas seniores do Hamas que são responsáveis por ataques contra civis israelitas. Mas, como temos sido claros, Israel tem que tomar todas as precauções possíveis para proteger os civis”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, citado pela Reuters. Desde o início dos bombardeamentos israelitas à Faixa de Gaza, a 7 de outubro, já terão morrido mais de 36 mil pessoas no enclave palestiniano, segundo as autoridades controladas pelo Hamas.
A indignação europeia (e do resto do mundo) com o ataque foi maior que a dos EUA. “Indignado pelos bombardeamentos israelitas que mataram muitas pessoas deslocadas em Rafah. Estas operações deverem parar. Não há locais seguros em Rafah para os civis palestinianos. Apelo ao respeito pleno da lei internacional e a um cessar-fogo imediato”, escreveu o presidente francês, Emmanuel Macron, no X.
Já o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse estar “horrorizado” com as notícias, dizendo “condenar” os bombardeamentos “nos termos mas veementes”. O espanhol disse ainda que “não há lugar seguro em Gaza”, defendendo que “estes ataques devem parar imediatamente” e reiterando que as ordens do TIJ e do direito internacional humanitário devem ser “respeitadas por todas as partes”.
Também a União Africana condenou o “horror” do ataque. “A ordem do TIJ deve ser aplicada com urgência para que a ordem global prevaleça”, disse o líder da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, condenou os “bárbaros” e “assassinos”.
O coordenador especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Médio Oriente, Tor Wennesland, condenou os ataques e apelou às autoridades israelitas para que realizem um inquérito “minucioso e transparente”. E reiterou os apelos do secretário-geral, António Guterres, para um “cessar-fogo imediato” e a “libertação imediata” dos reféns nas mãos do Hamas.
susana.f.salvador@dn.pt