"Irmãos de armas". Macron recebe de Biden a garantia que queria
Líder norte-americano prometeu que nova lei, marcada pelo protecionismo, vai ser alterada. De resto, Washington e Paris deram demonstração de sintonia durante a visita de Estado do presidente francês.
Donald Trump e Joe Biden têm pouco em comum, mas no currículo presidencial ambos escolheram o mesmo chefe de Estado para receber na primeira visita de Estado: Emmanuel Macron. Desta vez, o francês não se ficou pelas declarações bem-intencionadas e pelos gestos afetuosos e fez questão de levar na bagagem a questão do protecionismo norte-americano.
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Quando foi para o banquete já tinha ouvido do norte-americano garantias de "coordenar e alinhar as abordagens". Um compromisso que se juntou a uma extensa declaração conjunta em que ambos se mostraram em sintonia, desde a exploração espacial ao apoio à Ucrânia. E até no diálogo com o líder russo falaram quase a uma voz: Macron anunciou que iria falar com Vladimir Putin nos próximos dias e Biden revelou estar disponível para o mesmo, embora sob condições.
Há um ano, quando a Austrália roeu a corda do acordo de aquisição de submarinos franceses a diesel e anunciou em substituição outros, de propulsão nuclear, de tecnologia norte-americana, Paris reagiu em fúria e chamou à capital francesa o seu embaixador em Washington para consultas. O incidente diplomático levou o presidente dos Estados Unidos a pedir desculpa, mas ainda assim o homólogo francês não se mostrou convencido. "A confiança é como o amor: as declarações são boas, mas a prova é melhor."
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Apesar de não coincidirem na abordagem a vários temas de política internacional, como é o caso dos regimes russo e chinês, a relação entre Paris e Washington melhorou, em particular com uma maior coordenação na região do Indo-Pacífico. As relações bilaterais ficaram sob ameaça de novo descarrilamento graças à lei de redução da inflação. Esta inclui um pacote de apoios de 430 mil milhões de dólares para a transição climática que, no entanto, condiciona as isenções fiscais ao que for construído nos EUA.
A Casa Branca defende a iniciativa para dar um empurrão às indústrias "verdes", automóvel incluída. O governo francês foi o que, na Europa, reagiu de forma mais ruidosa. Há três semanas, o ministro da Economia, Bruno Le Maire, pedia uma ação concertada europeia, enquanto não excluía apresentar um processo contra os Estados Unidos na Organização Mundial de Comércio e lembrava que a "indústria já sofre de um défice de competitividade ligado às diferenças nos preços da energia entre os EUA e a Europa".

Emmanuel Macron e Joe Biden na conferência de imprensa.
© Kevin Dietsch/Getty Images/AFP
Macron não perdeu tempo e queixou-se do assunto numa entrevista à estação ABC e depois aos membros do Congresso. Na primeira declaração pública junto de Joe Biden na visita de Estado o assunto não foi levantado de forma direta. Disse que ambos os países têm de "voltar a ser irmãos de armas" tendo em conta "as múltiplas crises" que ambos enfrentam e fazendo referência à guerra na Ucrânia. No final da reunião de trabalho na Sala Oval, Joe Biden disse que não iria pedir desculpa pela lei, mas reconheceu que esta tem "lacunas" e comprometeu-se em "fazer ajustes"para responder às queixas europeias. "Queremos ter êxito em conjunto, não uns contra os outros", concluiu Macron.
Sobre a guerra na Ucrânia, ambos reiteraram o apoio a Kiev pelo tempo necessário. O líder francês, que havia anunciado tencionar falar com o presidente russo nos próximos dias, falou para o campo republicano pouco recetivo a apoiar a Ucrânia, ao dizer que a guerra ultrapassa as fronteiras e "o que está em jogo são os valores e princípios", tendo depois dito que as duas nações são "irmãs na luta pela liberdade".
A declaração mais surpreendente sobre a guerra veio de Biden, que se mostrou aberto a conversações com Putin, assim os aliados concordem, e mais importante: que o homem no Kremlin sinalize que quer pôr fim à guerra. "Ele ainda não o fez."
Afetos e poesia no museu da linguagem

Brigitte Macron e Jill Biden.
© Oliver Contreras / AFP
Enquanto os maridos se reuniam na Sala Oval, as primeiras-damas Jill Biden (de vestido cor-de-rosa) e Brigitte Macron visitaram o museu Planet Word, dedicado às palavras e à linguagem. Ambas com currículo no ensino, ouviram uma sessão de poesia em inglês e em francês das poetisas Ada Limón e Maya Salameh, e por mais do que uma vez sinalizaram a amizade franco-americana com as mãos dadas.
cesar.avo@dn.pt
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