O Irão usou 180 mísseis balísticos no seu ataque de terça-feira a Israel, uma fração dos cerca de três mil que terá ao seu dispor (além dos balísticos, mais lentos). Mas se o arsenal de mísseis iraniano é, segundo os peritos, o maior do Médio Oriente, o israelita será um dos mais avançados a nível tecnológico. E apesar de a maioria serem de curto alcance, também dispõe de um contingente de longo alcance capaz de atingir o território iraniano. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu retaliar ao ataque e a única dúvida é saber qual será o alvo - e se Teerão irá responder de volta..Segundo o relatório Missile Threat de 2021 do think tank norte-americano Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o Irão terá 15 tipos diferentes de mísseis, com capacidade de atingir alvos a dois mil quilómetros de distância - capaz de atingir a Europa. Além disso, fornece os seus aliados do chamado “eixo da resistência”, que inclui o Hamas, o Hezbollah, os Houthis do Iémen e grupos iraquianos..A imprensa oficial iraniana alegou que foram usados pela primeira vez os mísseis hipersónicos Fattah-1, capazes de percorrer 1400 quilómetros - na prática, quase todos os mísseis balísticos são hipersónicos (atingem cinco vezes a velocidade da som) na reentrada da atmosfera, sendo os verdadeiros os que o conseguem fazer também dentro da atmosfera (não sendo claro se este o consegue fazer) e são manobráveis e por isso mais difíceis de intercetar. Também terão sido usados os Shahab-3, que podem transportar uma ogiva com entre 760 e 1200 quilos..O arsenal israelita, construído graças à assistência de aliados como os EUA, será um dos mais avançados a nível tecnológico na região, com os Jericho-3 a ter capacidade de percorrer pelos menos 4800 quilómetros. Outra das mais valias de Israel prende-se com o seu sistema de defesa, um dos melhores do mundo - que terá intercetado a grande maioria dos mísseis iranianos no ataque de terça-feira..O sistema mais conhecido é o Iron Dome, a Cúpula de Ferro, mas esta é usada principalmente para travar os rockets lançados por Hamas e Hezbollah. Para travar os mísseis, Israel conta com a chamada Funda de David (mísseis de curto e médio alcance) e com a Flecha-2 ou 3, sendo o sistema mais recente capaz de atingir os mísseis balísticos ainda no espaço. Os EUA e a Jordânia também ajudaram a travar o recente ataque iraniano. Já o sistema de defesa iraniano é mais frágil, apesar de alegadamente ter sido reforçado recentemente com o apoio russo - terão fornecido o sistema S-400..O problema do sistema de defesa é que também “consome” mísseis - além de dinheiro. Em abril, um antigo colaborador das Forças de Defesa de Israel revelou que um míssil do sistema Flecha custa 3,5 milhões de dólares, já um intercetados da Funda de David custará à volta de um milhão. Ou seja, intercetar uma centena de mísseis custará centenas de milhares de dólares, não se sabendo qual é o tamanho do arsenal israelita..No combate aéreo, Israel tem a primazia, mesmo sem ter grandes bombardeios de longo alcance. Os F-15, F-16 e F-35 de fabrico norte-americano podem ser reabastecidos em voo, permitindo ataques contra o Irão. A capacidade iraniana é muito inferior, com décadas de sanções económicas ocidentais a deixá-lo dependente de modelos de fabrico russo ou norte-americanos pré-revolução de 1979.. Ambos os lados desenvolveram também tecnologia de drones, tendo Israel sido pioneiro nesta área - apesar de muitos dos seus modelos serem usados principalmente para vigilância e não para ataque. Já o Irão fornece até a Rússia, tendo alegadamente um drone (o Mohajed-10 ) capaz de transportar uma carga de até 300 quilos por dois mil quilómetros. Os drones iranianos demoram cerca de nove horas a chegar a Israel (foram usados no ataque primeiro ataque em abril), enquanto os mísseis balísticos como os usados na terça-feira demoram apenas 12 minutos..Israel disse que a maioria dos mísseis foram intercetados pelo seu sistema de defesa, mas ontem confirmou que várias das suas bases aéreas foram atingidas. Contudo, nem os aviões nem as infraestruturas críticas sofreram danos graves. Danos “mínimos” foram registados apenas nas áreas civis. Havia ainda informação de vários edifícios atingidos, quer pelos projéteis iranianos como pelos restos dos mísseis intercetadores israelitas. .Netanyahu prometeu retaliar a esse ataque e o espaço aéreo iraniano continuava ontem fechado tanto para voos internos como internacionais, à espera da resposta israelita. Em abril, Israel respondeu de forma contida, atingido várias baterias do sistema de defesa antiaéreo do Irão - próximos de centros nucleares, num suposto aviso de que os poderia atingir se assim o desejasse..Agora, os especialistas acreditam que a retaliação será muito mais forte, estando alegadamente a ser considerado um ataque às infraestruturas petrolíferas ou de gás natural - o que seria um golpe para a economia do país - ou até as nucleares. O presidente norte-americano, Joe Biden, disse esta quarta-feira que não apoia um ataque deste último tipo..susana.f.salvador@dn.pt