Fotografias de três socorristas do Crescente Vermelho mortos há uma semana durante um bombardeamento em Teerão.
Fotografias de três socorristas do Crescente Vermelho mortos há uma semana durante um bombardeamento em Teerão.EPA/ABEDIN TAHERKENAREH

Irão retalia com ataque “simbólico” a base militar dos EUA e Trump diz que é tempo para a paz

Após lançamento de mísseis iranianos com aviso prévio, o presidente dos EUA deu indicações de que a intervenção se fica por aqui. Israel também passou a mensagem de que a operação pode estar no fim.
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A bola ficou mais uma vez do lado do presidente dos Estados Unidos depois de este ter decidido juntar-se a Israel e dado ordens para bombardear as instalações nucleares iranianas, e o Irão ter retaliado, na segunda-feira, com o lançamento de mísseis contra uma base militar norte-americana no Qatar. Donald Trump terá posto um ponto final ao conflito com o Irão, ao agradecer o aviso prévio da República Islâmica e ao afirmar que “talvez o Irão possa agora avançar para a paz e a harmonia na região”, tendo dito que irá encorajar “entusiasticamente Israel a fazer o mesmo”. Horas antes, em paralelo, a diplomacia iraniana tentou, sem aparente sucesso, que a Rússia transmitisse mais do que palavras de solidariedade, e Israel continuou e ampliou as suas operações militares a outros alvos.

Enquanto emitia música militar na televisão, o Irão anunciou o ataque à base de Al Udeid, no Qatar, como “uma resposta poderosa e bem-sucedida” à “agressão dos Estados Unidos”. Num comunicado, as forças iranianas disseram ter alvejado a referida base “com mísseis destrutivos e poderosos”. Segundo o Ministério da Defesa do Qatar, os sistemas antiaéreos do emirado conseguiram intercetar os mísseis que tinham como alvo a base dos EUA, onde está situado o comando central daquele país na região e onde estão estacionados dez mil militares. Disse também que não há vítimas a lamentar do ataque, que assustou os habitantes da capital, Doha, os quais testemunharam de perto as explosões causadas pelas defesas antiaéreas. Ao The New York Times, fontes do Pentágono asseguraram que foram os seus militares quem derrubou os mísseis iranianos, e que estes eram uma combinação de mísseis balísticos de curto e de médio alcance.

Ao mesmo jornal, altos-funcionários iranianos garantiram que Teerão avisou Doha de que os mísseis iriam ser disparados para evitar ao máximo as vítimas. As três fontes explicaram que, ao avisar as autoridades do Qatar, a retaliação foi sobretudo simbólica, permitindo às partes beligerantes espaço para evitar um avolumar do conflito, tal como aconteceu em 2020. Depois de Donald Trump ter ordenado a liquidação do general Qassem Soleimani em território iraquiano, Teerão avisou Bagdade antes de disparar mísseis balísticos contra a Base Al-Asad, dos EUA. À Reuters, outra fonte confirmou que o aviso de Teerão permitiu encerrar o espaço aéreo com antecedência suficiente.

Outro dado que indica que o Irão não pretende prosseguir com uma troca de agressões com os Estados Unidos é que, de pronto, o Conselho de Segurança Nacional do Irão, numa declaração publicada pela agência Tasnim, afirmou que o ataque incluiu o mesmo número de bombas que os Estados Unidos utilizaram nos seus ataques às instalações nucleares do Irão e que a base foi escolhida por estar longe de áreas povoadas. “O ataque não representa qualquer ameaça para o nosso país amigo e irmão.” O Irão terá querido sobretudo sinalizar que os EUA, com bases militares numa dúzia de países na região, são também um alvo fácil para drones e mísseis iranianos.

Por fim, o guia supremo do Irão, Ali Khamenei, dirigiu-se aos iranianos através das redes sociais, tendo afirmado que o Irão não causou mal a ninguém e que não vai aceitar agressões externas. “Não nos submeteremos à agressão de ninguém; esta é a lógica da nação iraniana”, disse o líder religioso xiita.

Houve ainda notícias de que a base norte-americana de Al-Asad, no oeste do Iraque, também foi alvo de ataque. Mas nem o Irão reivindicou a autoria do mesmo, nem os Estados Unidos o confirmaram.

Trump agradece ao Irão

Ao lançamento de mísseis iranianos, as capitais da região e da Europa apressaram-se a condenar - à exceção do Iraque, com um fraseado ambíguo - a violação da soberania catariana. O Qatar disse que não foi avisado pelo Irão e reservou-se o direito de responder. Mas o presidente dos Estados Unidos confirmou a notícia avançado por um dos jornais que apelida de “fake news”. Na sua rede social, Trump agradeceu ao Irão por “ter avisado com antecedência, o que permitiu que não houvesse vítimas mortais nem feridos”. Considerou a resposta de Teerão “muito fraca” e que foi “muito eficazmente contrariada”, tendo ainda pormenorizado que foram lançados 14 mísseis, 13 dos quais abatidos, e um que as defesas deixaram passar porque se dirigia numa direção que não representava qualquer ameaça.

Trump, que se havia reunido de urgência com o secretário da Defesa Pete Hegseth e com o chefe do Estado-Maior Dan Caine na sequência da retaliação iraniana, mostrou esperança que acabe o ciclo de ódio. “Talvez o Irão possa agora avançar para a paz e a harmonia na região, e eu encorajarei entusiasticamente Israel a fazer o mesmo.”

Israel, entretanto, continuou a sua campanha militar aérea. Além de terem atacado quartéis-generais e outras instalações dos Guardas da Revolução e das forças de segurança, os israelitas também alvejaram símbolos do regime, como a Prisão de Evin -- onde estão detidos os dissidentes e prisioneiros políticos -- e o relógio de contagem decrescente “Destruição de Israel”.

Enquanto isso, segundo o The Wall Street Journal, Telavive estará disposta a terminar a operação militar em breve e fizeram-no saber através de canais diplomáticos ao Irão. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia dito, no domingo à noite, que os objetivos de Israel estavam “muito, muito perto” de serem alcançados.

Ao encontrar-se com o chefe da diplomacia iraniana, Vladimir Putin mostrou-se indignado pela “agressão sem qualquer provocação, nem fundamento” ao Irão.
Ao encontrar-se com o chefe da diplomacia iraniana, Vladimir Putin mostrou-se indignado pela “agressão sem qualquer provocação, nem fundamento” ao Irão. EPA/ALEXANDER KAZAKOV / SPUTNIK / KREMLIN POOL

Em Moscovo, o chefe da diplomacia iraniano Abbas Araghchi encontrou-se com o presidente Vladimir Putin. Este condenou a “agressão não-provocada contra o Irão” e disse que Moscovo estava a “envidar esforços para prestar assistência ao povo iraniano”. Araghchi entregou a Putin uma carta de Khamenei, na qual este pedia ajuda. O Irão e a Rússia assinaram um tratado de associação estratégica em janeiro, e o primeiro ajudou o segundo ao fornecer drones e tecnologia para a guerra na Ucrânia, mas o acordo não prevê a assistência militar. E o porta-voz do Kremlin recusou responder se iriam fornecer sistemas de defesa antiaérea.

UE insta Telavive a mudar de rumo

A chefe da diplomacia da União Europeia disse que a prioridade na Faixa de Gaza é “melhorar a situação no terreno”, caso contrário serão discutidas “medidas adicionais” em julho, na nova reunião com os 27 ministros dos Negócios Estrangeiros. Kaja Kallas referia-se a um relatório sobre o acordo de associação UE-Israel, no qual há “indicações” de que Israel está a violar obrigações de Direitos Humanos previstos no acordo. Espanha defendia a suspensão “imediata” do mesmo, além de um embargo de venda de armas, mas a Alemanha e a Itália mostraram-se contra. A dirigente da Estónia disse que uma opção prevista pelos ministros seria suspender parcialmente certas disposições relacionadas com o comércio livre, a investigação e a tecnologia do acordo.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita reagiu ao relatório, ao afirmar que as suas conclusões “não devem ser levadas a sério, nem utilizadas como base para quaisquer ações ou conversas futuras”.

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Donald Trump anuncia "cessar-fogo completo e total" entre Israel e o Irão. "Parabéns aos dois países"

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