Indígenas equatorianos desafiam estado de exceção

Em desafio ao governo do Equador, a maior organização de indígenas do país bloqueou estradas em três províncias andinas nas quais entrou em vigor neste sábado um estado de exceção para controlar as manifestações, que já duram seis dias.
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Os protestos continuam em Pichincha (cuja capital é Quito) e nas vizinhas Imbabura (norte) e Cotopaxi (sul), com forte presença de indígenas, que representam mais de um milhão entre 17,6 milhões de equatorianos, após a declaração do estado de exceção nestes distritos pelo Executivo.

O bloqueio de vias estendeu-se a 14 das 24 províncias do país na manhã de sábado, de acordo com o estatal Sistema de Segurança ECU911.

A Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) lidera os protestos pela redução dos preços dos combustíveis após o aumento de 90% (1,9 dólares) do galão (3,7 litros) do diesel e de 46% (2,5 dólares) da gasolina comum entre maio de 2020 e outubro de 2021, desde quando os preços estavam congelados por pressão dos povos indígenas.

Desde o ano passado, a entidade propõe que os preços sejam reduzidos para 1,5 dólares e 2,10 dólares, respetivamente.

As manifestações, que incluíram marchas estudantis em Quito, deixaram pelo menos 83 feridos e 40 detidos, segundo informações de autoridades e organizações indígenas.

"Até agora, 75% dos floricultores em todo o Equador não conseguiram entregar os carregamentos. As estradas ainda estão bloqueadas, apesar do estado de emergência que alguns membros querem derrubar", disse o sindicato dos exportadores de flores no Twitter.

Depois de infrutíferos pedidos de diálogo, no qual a Igreja, a ONU e universidades se ofereceram para mediar, o presidente conservador Guillermo Lasso declarou na sexta-feira estado de exceção durante 30 dias em Pichincha, Cotopaxi e Imbabura, as mais prejudicadas pelos protestos convocados por tempo indeterminado.

"Eu comprometo-me a defender a nossa capital e a defender o país", disse o presidente na sexta-feira à noite numa mensagem transmitida na rádio e televisão.

Sob esta medida, diante de uma "grave comoção interna", Lasso ordenou o recolher obrigatório para Pichincha, Cotopaxi e Imbabura entre as 22h e as 5h locais, e suspendeu o direito civil à reunião.

O presidente da Conaie, Leonidas Iza, respondeu no sábado: "Ratificamos a luta ao nível nacional, em caráter indeterminado."

"A partir deste momento, preparamos a mobilização" para unir a Conaie às manifestações que outros setores de trabalhadores realizam em Quito, paralelamente ao bloqueio de estradas.

Iza não informou quando os indígenas vão chegar à capital, onde os protestos resultaram em confrontos com policiais.

A Conaie participou em revoltas sociais que depuseram três chefes de Estado entre 1997 e 2005. Em outubro de 2019, liderou violentos distúrbios contra o governo em Quito, que duraram mais de uma semana, deixando 11 mortos e mais de mil feridos.

A Conaie informou no sábado que um veículo em que Iza seguia foi baleado.
"Ele está bem. Alertamos com isto para o estado de emergência e a atitude beligerante do Governo", indicou no Twitter. As autoridades não comentaram o assunto.

Devido ao aumento do narcotráfico e da violência, desde 30 de abril vigora outro estado de exceção por 60 dias nas províncias costeiras de Esmeraldas, Manabí e Guayas. Em Guayas ocorreram protestos neste sábado.

Lasso, que está no poder há um ano, também anunciou na sexta-feira uma série de medidas como o aumento de 50 para 55 dólares de um subsídio para pessoas em situação de pobreza, ou perdoar créditos vencidos de no máximo 3000 dólares concedidos pelo banco de fomento.

Até dezembro passado, a pobreza no Equador chegou a 27,7% da população e a extrema pobreza, a 10,5%. As zonas rurais são as mais vulneráveis.

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