O Hamas negou esta segunda-feira qualquer plano para a entrega de corpos de reféns para garantir a libertação dos mais de 600 prisioneiros palestinianos que deviam ter saído das prisões israelitas no sábado, ao abrigo do acordo de cessar-fogo com Israel e após a libertação de seis reféns. As autoridades israelitas suspenderam essas libertações até o grupo terrorista se comprometer a acabar com as “cerimónias humilhantes” de entrega na Faixa de Gaza. Entretanto, a tensão cresce na Cisjordânia, com a entrada dos primeiros tanques israelitas neste território em 20 anos.Segundo o site Ynet, os negociadores israelitas disseram aos mediadores - o diálogo com o Hamas não é direto, sendo feito através do Qatar e do Egito - que iriam libertar os prisioneiros se o grupo terrorista aceitasse devolver de imediato os corpos dos quatro reféns que falta entregar (está previsto para quinta-feira, não sendo claro se esse prazo se vai manter). E sem realizar uma cerimónia como a que aconteceu na entrega dos quatro primeiros corpos, na passada quinta-feira. Outros media citavam fontes para dizer que o Hamas estaria disposto a entregar dois dos quatro corpos.Contudo, numa mensagem no Telegram, um dos líderes do Hamas, Mahmoud Mardawi, negou esse acordo. “Não há qualquer alteração na posição do movimento em relação ao acordo, e o inimigo [como Israel é identificado] deve implementar o acordo libertando os 600 prisioneiros palestinianos”, escreveu esta segunda-feira. Na véspera, o mesmo responsável tinha indicado que “não haverá negociações com o inimigo através de mediadores em nenhum passo antes da libertação dos prisioneiros acordada após a troca de seis prisioneiros israelitas [a fórmula usada para os reféns]. Os mediadores devem obrigar o inimigo a implementar o acordo”. A indisponibilidade do Hamas para negociar com Israel antes da libertação dos prisioneiros complica ainda mais as negociações para a segunda fase do cessar-fogo - ou o prolongar da primeira fase que termina a 1 de março. O acordo de cessar-fogo que entrou em vigor a 19 de janeiro previa três fases distintas, sendo que só a primeira ficou acertada. A segunda, que devia ter começado a ser negociada há duas semanas, incluiria a retirada total das forças israelitas da Faixa de Gaza e a libertação dos restantes 60 reféns. A ideia de prolongar a primeira fase tem vindo a ser falada por Israel, sendo também defendida pelos norte-americanos. “Temos de conseguir uma extensão da primeira fase. Vou à região esta semana, provavelmente na quarta-feira, para negociar isso e esperamos ter o tempo adequado para começar a fase dois e finalizá-la e libertar mais reféns”, indicou à CNN Steve Witkoff, enviado para o Médio Oriente do presidente dos EUA, Donald Trump. Ao impasse no cessar-fogo na Faixa de Gaza, junta-se a crescente tensão na Cisjordânia. O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, indicou que “40 mil palestinianos já foram retirados dos campos de refugiados de Jenin, Tulkarem e Nur Shams, que estão agora vazios”. Katz deu instruções aos militares israelitas “para se prepararem para uma estadia prolongada nos campos, que foram evacuados, durante o próximo ano e a não permitirem o regresso dos seus habitantes nem o ressurgimento do terrorismo”. As Forças de Defesa de Israel anunciaram, no domingo, o destacamento de uma unidade de tanques em Jenin, prolongando a Operação Iron Wall (Muralha de Ferro) lançada no dia em que entrou em vigor o cessar-fogo na Faixa de Gaza e que já resultou em quase 50 mortes. Há 20 anos que os tanques israelitas não entravam na Cisjordânia - fizeram-no, pela última vez, na segunda intifada (rebelião) palestiniana, que ocorreu entre 2000 e 2005.