Hezbollah nomeia novo líder. Quem é Naim Qassem?
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Hezbollah nomeia novo líder. Quem é Naim Qassem?

Naim Qassem sucede a Hassan Nasrallah, que morreu num bombardeamento de Israel a 27 de setembro. Novo líder é uma figura importante no movimento apoiado pelo Irão há mais de 30 anos.
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O Conselho Shura do Hezbollah, o mais alto órgão do grupo xiita libanês, anunciou esta terça-feira que Naim Qassem é o seu novo secretário-geral, sucedendo assim a Hassan Nasrallah, que morreu num bombardeamento de Israel a 27 de setembro.

“O Conselho Shura aprovou a eleição de Sua Eminência, o xeque Naim Qassem, como secretário-geral do Hezbollah”, referiu a cadeia de televisão Al-Manar, ligada ao Hezbollah, que explica que a decisão foi adotada “em linha com o mecanismo existente” para eleger o líder do movimento radical islâmico. 

Naim Qassem é uma figura importante no movimento apoiado pelo Irão há mais de 30 anos.

Sobre o conflito com o Irão, disse a 8 de outubro que era uma guerra sobre quem chora primeiro, e o Hezbollah não choraria primeiro. 

Na ocasião, acrescentou que o grupo apoia os esforços do presidente do parlamento, Nabih Berri – um aliado do Hezbollah – para garantir um cessar-fogo, omitindo pela primeira vez qualquer menção a um acordo de tréguas em Gaza como pré-condição para travar o fogo do grupo contra Israel.

O discurso televisivo de Qassem, a 8 de Outubro, foi o segundo desde que as hostilidades entre Israel e o Hezbollah se intensificaram em setembro.

O agora líder foi o primeiro membro da liderança do Hezbollah a fazer comentários na televisão após a morte de Nasrallah num ataque aéreo israelita nos subúrbios a sul de Beirute, a 27 de setembro.

A 30 de Setembro, Qassem disse que o Hezbollah escolheria um sucessor para o cargo de secretário-geral “na primeira oportunidade” e continuaria a lutar contra Israel em solidariedade para com os palestinianos.

"O que estamos a fazer é o mínimo... Sabemos que a batalha pode ser longa", disse, num discurso de 19 minutos.


Nascido em 1953 em Beirute, numa família do sul do Líbano, o ativismo político de Qassem começou no Movimento Libanês Xiita Amal.

Viria a abandonar o grupo em 1979, na sequência da Revolução Islâmica do Irão, que moldou o pensamento político de muitos jovens ativistas xiitas libaneses.

Qassem participou em reuniões que levaram à formação do Hezbollah, estabelecido com o apoio da Guarda Revolucionária do Irão em resposta à invasão israelita do Líbano em 1982.

Qassem foi nomeado vice-chefe do movimento em 1991 pelo então secretário-geral do grupo armado, Abbas al-Musawi, que foi morto por um ataque de helicóptero israelita no ano seguinte.

Depois manteve-se nessa função quando Nasrallah se tornou líder, e é há muito um dos principais porta-vozes do Hezbollah, concedendo entrevistas a meios de comunicação social estrangeiros, incluindo durante o conflito com Israel no último ano.

Qassem também tem sido o coordenador geral das campanhas eleitorais parlamentares do Hezbollah desde que o grupo as disputou pela primeira vez em 1992.

Em 2005, escreveu uma história do Hezbollah vista como um raro "olhar de dentro" da organização. Qassem usa um turbante branco, ao contrário de Nasrallah e Safieddine, cujos turbantes negros denotavam o seu estatuto de descendentes do profeta Maomé.

Em 23 de setembro, o conflito entre Israel e o Hezbollah transformou-se numa guerra aberta, com o exército israelita a bombardear diariamente os bastiões do movimento xiita pró-Irão.

O Ministério da Saúde libanês publicou os relatos de vítimas em várias localidades e regiões visadas ao longo do dia.

"Continuam as operações de remoção dos escombros" nas aldeias afetadas, afirmou o ministério no seu comunicado.

O ministério citou em particular um ataque a Al-Allaq que fez 16 mortos, outro a al-Hafir que fez dez mortos, bem como um atentado bombista no setor de Ram no qual nove pessoas foram mortas.

Seis pessoas, incluindo uma criança, foram mortas num ataque na cidade de Bodai. Uma segunda criança morreu num "ataque do inimigo israelita" à cidade de Brital.

Estes bombardeamentos não foram precedidos de apelos à evacuação emitidos pelo exército israelita antes dos seus bombardeamentos noutros locais do Líbano.

No leste do país, na fronteira com a Síria, Israel geralmente não apela à evacuação da população, porque diz que tem como alvo posições do Hezbollah.

Os bombardeamentos atingiram também a cidade costeira de Tiro, no sul do Líbano, na segunda-feira, onde sete pessoas morreram, segundo o Ministério da Saúde.

Com este número pouco exaustivo, os ataques israelitas no Líbano fizeram mais de 1.700 mortos desde 23 de setembro, segundo uma contagem da AFP baseada em dados do Ministério da Saúde libanês.

O conflito foi desencadeado em 07 de outubro de 2023 com um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, que matou mais de 1.200 pessoas, sobretudo civis, e outras cerca de 250 foram levadas como reféns.

Israel retaliou com uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 42 mil mortos, também maioritariamente civis, de acordo com as autoridades locais controladas pelo grupo palestiniano.

A guerra alastrou-se ao Líbano, onde, após quase um ano de trocas de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou desde setembro um forte ataque contra o Hezbollah.

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