Funeral de um dos 24 soldados israelitas mortos na segunda-feira.
Funeral de um dos 24 soldados israelitas mortos na segunda-feira.EPA/ABIR SULTAN

Hamas rejeita trocar reféns por um cessar-fogo de dois meses

Proposta teria sido posta em cima da mesa por Israel, que na segunda-feira sofreu 24 baixas em Gaza. Foi o dia com maior número de soldados israelitas mortos desde 7 de outubro.
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O Hamas rejeitou ontem a proposta de um cessar-fogo de dois meses em troca da libertação de todos os reféns que estão na Faixa de Gaza - mais de uma centena. O acordo, proposto por Israel, permitia ainda aos líderes do grupo terrorista palestiniano no enclave, como Yahya Sinwar, a oportunidade de se mudarem para outros países. A negativa do Hamas surgiu depois daquele que foi o pior dia para as tropas israelitas em Gaza, com a morte de 24 soldados na segunda-feira.

Um grupo de 21 reservistas israelitas estava a colocar explosivos em dois edifícios no centro de Gaza, a cerca de 600 metros da fronteira com Israel, tendo em vista a sua demolição. Militantes palestinianos dispararam contra um dos edifícios, ativando os explosivos, causando o desmoronamento de ambos e matando o grupo no interior. Um tanque também foi atingido. O incidente está a ser investigado, indicou o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari.

Outros três soldados morreram em combates intensos em Khan Yunis, localidade no sul da Faixa de Gaza que os israelitas já terão alegadamente cercado e onde estão a destruir a rede de túneis do Hamas, tendo encontrado um dos maiores locais de produção de armas. 

“Inclinamos as cabeças em memória dos nossos caídos e, no entanto, não paramos nem por um momento de lutar por um objetivo insubstituível: alcançar uma vitória total”, disse Netanyahu num vídeo em que promete continuar os combates apesar da morte dos 24 soldados. “Juntos vamos combater e juntos vamos ganhar”, acrescentou, falando de “um dos dias mais difíceis desde o início da guerra”.

O ex-líder da oposição e atual membro do Conselho de Guerra, Benny Gantz, também figura no vídeo. “Esta manhã os nossos corações estão partidos diante dos caídos e das famílias e os nossos corações estão inteiros na importante tarefa pela qual caíram e que cabe a nós completar: garantir a segurança de Israel, a segurança dos nossos filhos e o nosso futuro neste local”, indicou. Também o ministro da Defesa, Yoav Gallant, honrou o “espírito dos caídos”, dizendo ser necessário “completar a tarefa”.

Apesar desta aparente mostra de união entre Netanyahu, Gantz e Gallant, tem havido relatos de tensão dentro do Gabinete de Guerra e do Governo israelita. A morte dos 24 soldados num só dia poderá fazer aumentar a pressão sobre o primeiro-ministro, já debaixo de fogo dos familiares dos reféns que acusam o Executivo de não fazer o suficiente para garantir a sua libertação. Muitos defendem um cessar-fogo nesse sentido.

O Qatar, que ter servido de mediador junto com o Egito, confirmou a existência de “negociações sérias” para uma trégua, mas alertou para obstáculos como a rejeição da solução de dois Estados por parte de Israel ou os apelos para a deslocação forçada de palestinianos para fora do enclave. Já uma fonte egípcia disse à agência AP, sob anonimato, que o Hamas rejeitou a proposta israelita, mas que Doha e o Cairo estavam a trabalhar numa outra para tentar ultrapassar os obstáculos existentes. 

Questionado sobre as negociações, o porta-voz do Governo israelita, Eylon Levy, reiterou que os objetivos da guerra não mudaram e que “não haverá um cessar-fogo que deixe os reféns em Gaza e no poder o Hamas”.

Na segunda-feira, Netanyahu tinha dito que, ao contrário do que estava a ser noticiado, não havia em cima da mesa nenhuma proposta de cessar-fogo da parte do grupo terrorista. Explicou que estavam a exigir que Israel pusesse um ponto final na guerra, retirasse da Faixa de Gaza, libertasse membros de uma unidade responsável pelos ataques de 7 de outubro e deixasse o Hamas no poder. “Se concordássemos com isto, os nossos soldados teriam morrido em vão”, afirmou num encontro com as famílias dos reféns.

A 7 de outubro, o grupo terrorista matou pelo menos 1200 pessoas e levou cerca de 250 reféns para o enclave, de acordo com os números israelitas. Netanyahu declarou nesse mesmo dia guerra contra o Hamas e começou a bombardear a Faixa de Gaza, avançando para a invasão terrestre a 27 de outubro. Os ataques só pararam durante os sete dias de trégua, no final de novembro, que permitiram libertar mais de uma centena de reféns.

Entretanto, mais de 25 mil palestinianos, a maioria mulheres e crianças, já morreram, segundo as autoridades controladas pelo Hamas, estimando-se que 80% dos mais de dois milhões de habitantes tenham tido de deixar as suas casas. O elevado número de mortes tem gerado críticas internacionais contra o Governo israelita, com apelos à proteção dos civis. A situação humanitária também é grave, com mais de meio milhão de habitantes de Gaza num nível “catastrófico” de fome, segundo a ONU.

susana.f.salvador@dn.pt

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