Guterres avisa na Cimeira do Clima: “O mundo deve pagar o que deve ou a humanidade pagará o preço”
Depois de um ano que disse ser uma “masterclass em destruição climática”, o secretário-geral das Nações Unidas apelou aos líderes mundiais que se foquem em três prioridades. A primeira é a redução urgente de emissões de gases de efeito de estufa, que deve ser liderada pelo G20. A segunda é em fazer mais para protegerem as suas populações da devastação da crise climática, especialmente os mais vulneráveis. E a terceira é uma nova meta de financiamento climático, com os especialistas a defender que é preciso chegar a um bilião de dólares anual.
“No que respeita ao financiamento climático, o mundo deve pagar o que deve ou a humanidade pagará o preço”, disse António Guterres na abertura da Cimeira do Clima, que decorre em Baku. A COP29 tem como tema central o financiamento da resposta à crise climática e isso ficou claro no discurso de Guterres, que voltou a avisar que “o relógio está a contar” e não falta muito tempo para limitar a subida da temperatura a 1,5 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.
Na questão do financiamento, há um culpado claro, segundo o secretário-geral. “Os ricos causam o problema, os pobres pagam o preço mais elevado”, lembrou, citando um relatório da Oxfam segundo o qual “os bilionários mais ricos emitem mais carbono numa hora e meia do que uma pessoa normal numa vida inteira”. Guterres pediu por isso à COP29 para “derrubar os muros do financiamento climático”, mostrando-se convencido que é possível um acordo e que os países em desenvolvimento não devem sair de “mãos vazias” da capital do Azerbaijão.
“O financiamento climático não é caridade, é um investimento. A ação climática não é opcional, é um imperativo”, insistiu Guterres. Mas a tarefa não é fácil, já que o bilião de dólares anual que é pedido representa dez vezes mais do que a meta dos cem mil milhões estabelecida em 2009 e só alcançada em 2022 (dois anos depois do previsto).
A tarefa é ainda mais difícil quando, em Baku, apesar de estarem os representantes de 200 países, não estão os líderes dos principais poluidores, como o presidente dos EUA, Joe Biden (cuja política climática ameaça ser destruída pelo sucessor, Donald Trump), ou o homólogo chinês, Xi Jinping. Também não está a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente francês, Emmanuel Macron, ou o chanceler alemão, Olaf Scholz.
Quem esteve esta terça-feira foi o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que anunciou uma nova meta climática - reduzir as emissões do Reino Unido em 81% até 2035 (em relação aos níveis de 1990). Já o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, pegou no exemplo da tragédia de Valência, onde o mau tempo deixou mais de 200 mortos, para lembrar que “as alterações climáticas matam”. E pedir à comunidade internacional que “deixe de arrastar os pés” e combata os negacionistas.
No meio de críticas, o presidente do Azerbeijão, Ilham Aliyev, defendeu o facto de a Cimeira do Clima se realizar num país cujas receitas do petróleo e do gás natural representam 35% da economia - e a ideia é expandir a produção na próxima década. Aliyev rotulou os combustíveis fósseis de “um presente de Deus”, dizendo que os países não devem ser “culpados” por ter reservas e por as colocar no mercado, para aqueles que precisam. A cimeira dura até 22 de novembro.
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