Exclusivo "Governo de Sánchez aprofundou a divisão na sociedade espanhola"
O Fórum La Toja, a que o ex-chefe da diplomacia de José María Aznar preside, troca pela primeira vez a ilha galega pela capital portuguesa, para uma manhã de debates na próxima quarta-feira, na Fundação Calouse Gulbekian. Ao DN, Josep Piqué fala da importância de manter o vínculo Atlântico numa altura em que as tensões se viram para o Indo-Pacífico, da obsolescência do Conselho de Segurança da ONU que a guerra na Ucrânia revelou, do ano eleitoral em Espanha e da "inveja saudável" que os espanhóis sentem por vezes em relação à política portuguesa.
Um dos temas que será debatido no Fórum La Toja, a que preside e que se realiza na quarta-feira em Lisboa, é "Uma nova Ibero América e uma nova relação transatlântica". Com o foco mundial centrado na guerra na Ucrânia e na região do Pacífico, por causa da China, que força tem ainda o Atlântico?
É evidente que há uma deslocação do centro de gravidade do planeta para o Indo-Pacífico e isso é irreversível. Concentra-se ali cada vez mais o peso demográfico do mundo, o peso comercial, o peso económico... E, além disso, já é um foco crescente de tensões militares, pelo conflito entre China e EUA, o de Taiwan, e em geral, o do Mar do Sul da China. Mas isso não quer dizer que tenhamos que deixar de lado a importância do Atlântico. Além de termos sido o centro durante vários séculos, desenvolvemos ao longo do tempo uma série de valores comuns que entendemos que devem continuar a ser defendidos. E que não podemos deixar nas mãos de outros. Assim, noutros fóruns pode-se discutir a guerra na Ucrânia ou a tensão no estreito de Taiwan, mas nós entendemos que uma reflexão sobre o mundo iberomericano, e ainda mais uma reflexão hispano-portuguesa, pode ser muito útil. Porque a ambição do fórum é ser um ponto de referência do debate sobre os valores e o vínculo Atlântico. E desde o princípio que o quisemos fazer de uma perspetiva peninsular. Daí a presença sempre de personalidades portuguesas no Fórum La Toja [Galiza] e a ideia de fazer um ato em Lisboa.
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Este será o primeiro ano que trazem o fórum a Lisboa, certo?
Sim, mas queremos dar continuidade todos os anos. Este será só uma manhã e a ambição é fazê-lo maior. Temos um programa muito sólido, muito atrativo, há pessoas extraordinárias a participar. Desde logo o debate entre os presidentes da câmara de Lisboa e de Madrid, a aposta pelo mercado europeu de energia e a mesa sobre a América Latina, que está a passar por enormes turbulências políticas. Há uma grande instabilidade. Um dos problemas da América Latina é que se desmoronou o sistema tradicional de partidos políticos. E isso, junto com as eleições direitas dos presidentes, está a gerar uma enorme instabilidade, porque normalmente não há correspondência política entre o presidente e os respetivos parlamentos. E é isso que estamos a ver, infelizmente todos os dias. E todos os que defendemos os valores da democracia liberal queremos que a América Latina continue a pensar a democracia liberal como o melhor sistema para resolver os problemas dos cidadãos em liberdade.