Candidatos debatem em Bruxelas.
Candidatos debatem em Bruxelas.NICOLAS MAETERLINCK / BELGA / AFP

Gastos em defesa europeia acendem debate entre candidatos à Comissão Europeia

No debate alargado em Bruxelas entre os Spitzenkandidaten, falou-se de emprego, economia, clima, democracia, migração e tecnologia, sempre com o combate à extrema-direita como pano de fundo.
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Os candidatos à liderança da Comissão Europeia trocaram ontem as ideias que propõem para a Europa, num debate, em Bruxelas, que contou com a participação de jovens eleitores, que se juntaram em direto a partir das capitais europeias. 

A partir da Polónia, duas jovens criadoras de conteúdos online questionaram o candidato dos socialistas europeus, Nicolas Schmidt, sobre a justificação do apoio à Ucrânia e os gastos militares, em detrimento de políticas sociais.

"Eu preferiria não investir tanto dinheiro em defesa ou em ajudar os ucranianos, mas nós não escolhemos a guerra, não escolhemos as ameaças vindas da Rússia e do regime fascista em Moscovo”, respondeu Schmidt, para quem “é absolutamente importante para a nossa segurança [e] para ter uma vida livre e proteger os nossos valores, investir em defesa”. Porém, salientou Schmidt, “isso não significa que não devamos investir na nossa coesão social”. 

O tema apareceu por várias vezes no debate. O candidato da esquerda, o austríaco Walter Baier lamentou gastos em defesa demasiado elevados. “Infelizmente, só podemos gastar 1 euro uma vez. E agora sei que a NATO já gasta 1,3 biliões de euros em defesa. Isto é três vezes mais do que China e Rússia juntas. Os países europeus da NATO gastam duas vezes mais em defesa do que a Rússia", afirmou Baier, que defendeu o investimento em “habitações”, apelando à moderação na despesa militar, incluindo no apoio à Ucrânia. 

A resposta não tardou, pelo o candidato dos socialistas europeus, Nicolas Schmit: “ouço esses números a toda a hora, quanto gastamos e quanto os russos gastam, mas tem de olhar para o que acontece todas as noites no céu da Ucrânia”. 

“Bombardeiam crianças, bombardeiam hospitais, bombardeiam instituições civis e casas. Você veio focar um ponto importante sobre habitação. Eles estão a destruir casas todos os dias na Ucrânia e, se não apoiarmos a Ucrânia de forma corajosa, bem sabemos que os russos estarão diretamente nas nossas”, reforçou Nicolas Schmidt.

O financiamento dos gastos militares foi um tópico abordado pelo candidato dos liberais, o italiano Sandro Gozi sugere o “desenvolvimento uma indústria de defesa europeia”, propondo “um plano de 100 mil milhões de euros para reforçar” o sexto “com uma dívida conjunta”. No entanto, salientou que “não há segurança real sem mais cultura e educação”. Por essa razão, propõe que “para cada euro que se gasta em defesa, deve-se adicionar 1 euro para educação, cultura e conhecimento".

A candidata dos Verdes considera que é preciso reformar a tomada de decisões na União Europeia, “acabando com a regra da unanimidade”, nas questões de política externa e defesa. Além do mais, considera que há margem para uma participação mais colaborativa para os Estados-Membros  “trabalharem juntos quando se trata de aquisições, quando se trata de investigação e desenvolvimento”, no domínio da defesa, “porque neste momento, na União Europeia, ainda temos demasiados projetos focados apenas a nível nacional”, salientou, considerando que esta seria uma forma de tornar “eficiente o gasto de dinheiro dos contribuintes”. 

Também defensora do reforço do investimento em segurança, a candidata do PPE, Ursula von der Leyen propõe “mais colaboração” na defesa. "Temos que garantir que acaba a fragmentação que temos na União Europeia e que temos projetos europeus comuns”. Como exemplo propõe “um escudo de defesa aérea para toda a Europa”, segundo as propostas dos governos da Grécia e da Polónia. “É um projeto em que todos os europeus poderiam dizer: sim, pegamos no dinheiro e investimos, [mas] isto protege toda a Europa”.

Contra bater a porta aos migrantres

A candidata à presidência da Comissã rejeitou "bater a porta" aos migrantes, defendendo investimento nos países de origem e trânsito, enquanto o cabeça-de-lista socialista condenou o acordo com a Tunísia, "uma ditadura péssima". "A primeira coisa a fazer é investir nestes países", para que tenham condições para que as pessoas possam ficar, defendeu Von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia e spitzenkandidat do Partido Popular Europeu (PPE),

A UE deve ainda "investir na educação" e "garantir corredores legais", prosseguiu a candidata de centro-direita. "É esta a forma de lidar com estes países, não só exclui-los e bater com a porta", defendeu, depois de se referir ao que "está por trás [do fenómeno das migrações irregulares]: o crime organizado". "Os que precisam de proteção e asilo, devem receber, mas somos nós, na UE, quem decide quem vem para a UE e em que circunstâncias. (...) Os que não são ilegíveis, devem voltar para casa", sublinhou, defendendo a necessidade de "vias legais e seguras".

No ano passado, exemplificou, houve um milhão de candidaturas de asilo, enquanto 3,7 milhões de migrantes entraram legalmente para o mercado de trabalho europeu.

O candidato principal dos Socialistas Europeus, Nicolas Schmit, disse concordar com o problema dos traficantes de migrantes, mas alertou: "Isso não é tudo". O socialista, atual comissário do Emprego e Direitos Sociais, evocou o acordo da UE com a Tunísia, "uma ditadura especialmente péssima", onde "refugiados são empurrados para o deserto, espancados, alguns mortos".

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