Fundamental para a imunidade? Farmacêuticas começam a testar eficácia das vacinas em crianças
Depois da Pfizer e da Moderna, a AstraZeneca também vai testar a eficácia da vacina contra a covid-19 em crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos de idade. Os testes começaram este sábado na Universidade de Oxford (parceira da farmacêutica anglo-sueca no fabrico da vacina), naqueles que são considerados os primeiros ensaios a nível mundial nesta faixa etária.
Até agora só foram testados jovens de 16 e 17 anos e sem conclusões públicas ainda. No entanto, as farmacêuticas Pfizer e Moderna também já começaram a realizar ensaios clínicos para averiguar a eficácia das suas vacinas contra a covid-19 em crianças de idade igual ou superior a 12 anos, avançaram porta-vozes das duas empresas ao jornal New York Times. Ambas esperam conseguir resultados até ao verão.
Os investigadores de Oxford acreditam que os testes vão determinar a segurança e a resposta imunológica de crianças à vacina da AstraZeneca, conhecida tecnicamente como ChAdOx1 nCoV-19. Para já vão ser recrutados 300 voluntários dos 6 aos 17 anos de idade. Desses, até 240 receberão a vacina Oxford/AstraZeneca e os restantes uma vacina de controlo contra meningite.
Andrew Pollard, investigador principal de Oxford e especialista em infeção e imunidade infantil, explicou que embora as crianças pareçam ser menos afetadas pelo novo coronavírus - e não tenham muitas probabilidades de ficarem gravemente doentes - "é importante estabelecer a segurança e a resposta imunológica" à vacina.
Além disso, acrescenta, é preciso entender o efeito da doença nas crianças: "A ciência mostra que a covid-19 está associada a um risco de mortalidade e morbilidade consideravelmente inferior nas crianças quando comparado com os idosos. Também há evidências de que as crianças têm menos probabilidade de ser infetadas. Mas o seu papel na transmissão ainda é pouco clara."
Normalmente, os investigadores testam primeiro medicamentos ou vacinas em adultos, descendo progressivamente nas faixas etárias testadas, para observar quaisquer mudanças na dose efetiva e efeitos colaterais inesperados.
"Seria bastante incomum testar as crianças num estágio inicial", disse ao New York Times Emily Erbelding, uma médica de doenças infecciosas do National Institutes of Health, que supervisiona os testes de vacinas Covid-19 em populações especiais.
"É uma doença significativa em crianças, mas não tanto quando comparado com os adultos", referiu àquele jornal Kristin Oliver, pediatra e especialista em vacinas do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque.
De resto, crescem as opiniões sobre a necessidade de imunizar também as crianças de forma a atingir a tão ambicionada imunidade de grupo.
Os cientistas estimam que 70 a 90 por cento da população pode precisar de ser imunizada contra o coronavírus para alcançar essa imunidade coletiva, especialmente perante as variantes mais contagiosas que começam a circular em várias partes do globo.
"Nem todos os adultos podem receber a vacina porque há alguma relutância, ou talvez haja até mesmo alguns sistemas imunológicos vulneráveis e que simplesmente não respondem", disse Erbelding ao NY Times. "Por isso, acho que temos que incluir crianças se quisermos obter imunidade coletiva."
A vacina Oxford / AstraZeneca é, juntamente com as da Moderna e da Pfizer / BioNTech, uma das três que, por enquanto, é administrada em Portugal, onde a vacinação vai na segunda fase - esta semana começaram a ser vacinados os bombeiros, por exemplo.
Segundo a Universidade de Oxford, a vacina da AstraZeneca tem-se mostrado 63% eficaz, inoculada em duas doses separadas por oito a 12 semanas. A eficácia contra as novas variantes do vírus - a britânica, a brasileira e a sul-africana - está também a ser investigada.