Festival no Brasil celebra língua portuguesa e 500 anos de Camões
A cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, situada na região Nordeste do Brasil, recebe a partir do dia 28 de novembro o Festival Literário Internacional da Paraíba (FLIPARAÍBA), que reúne escritores de cinco países de língua oficial portuguesa. O evento decorre até o dia 30 do mesmo mês e tem como tema "Camões 500 anos, uma nova cidadania da língua", de forma a homeanagear os 500 anos de nascimento de Luís de Camões.
O evento é organizado por um português: José Manuel Diogo, presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos . "Com tantos eventos de brasileiros em Portugal, é muito importante que também se faça esse caminho também no Brasil", diz ao DN.
O festival nasce de uma parceria entre a Associação Portugal Brasil (APB) 200 anos, fundadora da Casa da Cidadania da Língua, em Coimbra, e o Governo da Paraíba. A iniciativa celebra um marco cultural que une os países de língua oficial portuguesa, com um olhar renovado sobre as heranças literárias e culturais desses territórios.
Segundo José Manuel Diogo, a FILPARAÍBA surgiu "com o propósito de descolonizar nossa história e abrir espaço para diálogos verdadeiramente inclusivos, onde vozes plurais podem compartilhar suas perspectivas". A inspiração veio da relação entre João Pessoa, o ponto mais oriental das Américas, e o conceito de Finisterra, o "fim da terra" que, na Europa, simbolizava o término do conhecido e o início do desconhecido. João Pessoa, no entanto, inverte essa perspetiva, sendo não o fim, mas o início de novas possibilidades, onde o velho dá lugar ao novo conhecimento.
"A ideia de unir Coimbra, a cidade mais antiga do mundo lusófono, a João Pessoa, o ponto mais próximo do novo mundo, é um símbolo potente da nossa capacidade de renovar o entendimento sobre a língua e os desafios que enfrentamos", pontuou José Manuel Diogo.
O encontro simbólico entre a tradição e a inovação serviu de mote para a criação de um evento que une culturas e celebra a língua portuguesa como um patrimônio vivo, universal e em constante transformação. Em seu ano zero, o festival já destaca a celebração dos 500 anos de nascimento de Camões, assumindo o tema central “Camões 500 – 10 Ideias para um Futuro Descolonizado”.
De acordo com o produtor, é a hora de "pensar o futuro a partir de Camões", mas de uma forma descolonizada. "Será uma grande aventura e um marco para a língua portuguesa e para o futuro. Um futuro que fala de lusofinia, de democracia, da relação dos países de língua oficial portuguesa", diz ao jornal.
De Rui Tavares até José Eduardo Agualusa
Com nomes de destaque da literatura lusófona, o FLIPARAÍBA contará com a presença de autores consagrados de cinco países de língua oficial portuguesa: Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. Entre os nomes confirmados para o festival, encontram-se figuras como José Eduardo Agualusa, João Francisco Vilhena, Ungulani Ba Ka Khosa, Rui Tavares e Maria Valéria Rezende.
Estes e outros escritores debaterão perspectivas sobre temas contemporâneos, inspirados na obra de Camões e no desafio de projetar um futuro descolonizado. O festival também contará com a participação especial da pesquisadora italiana Maria Bocicchio, ampliando o alcance das discussões para o contexto europeu e reforçando a vocação universal da literatura.
A programação inclui ainda uma exposição especial, "O Rosto de Camões", composta por 10 retratos inclusivos que representam a diversidade de etnias, credos e origens da comunidade lusófona, constituindo uma metáfora sobre a descolonização e os diálogos entre o velho e o novo mundo.
Um dos pontos altos do evento é o compromisso com a diversidade e inclusão: a presença de escritores não brancos é superior à de escritores brancos, e o festival alcança paridade de gênero entre seus participantes, refletindo um movimento literário que valoriza a representatividade e o diálogo igualitário entre diferentes identidades. A política de inclusão do evento foi destacada pelo governador da Paraíba, João Azevedo (PSB).
"O Festival Literário Internacional da Paraíba representa mais do que uma homenagem à literatura lusófona; ele é um convite para que a Paraíba e toda a comunidade de língua portuguesa dialoguem sobre a importância da inclusão, da representatividade e do respeito à diversidade cultural", reforçou o governador.
O Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva (PSD), foi outra voz da política a exaltar o festival, pontuando que o evento é "um símbolo da longevidade e da renovação da língua portuguesa". O autarca também ressaltou que "é com grande entusiasmo que Coimbra se associa a esse projeto, levando a força de sua tradição e a promessa de sua inovação ao coração do Brasil".
O FLIPARAÍBA será realizado em três dias: 28, 29 e 30 de novembro, com programação entre as 9h e às 21h. O Diário de Notícias e o DN Brasil são parceiros de media do evento.
Ademilson José, Alexei Bueno, Analice Pereira, Angélica Ferrarez, António Quino, Bianca Santana, Bruno Gaudêncio, Bruno Ribeiro, Chico César, Ezilda Melo, Jessier Quirino, José Eduardo Agualusa, José Luis Cabaço, José Luis Tavares, José Manuel Diogo, João Francisco Vilhena, Maria Bocicchio, Maria Valéria Rezende, Neide Medeiros, Rinah Souto, Rita Chaves, Rodrigo Faria e Silva, Rui Tavares, Débora Gil, Shiko, Tom Farias, Trudruá Dorrico, Ungulani Ba Ka Khosa, Valéria Lourenço e Vera Duarte Pina são os escritores, artistas e intelectuais confirmados na programação.
nuno.tibirica@dn.pt