O francês Jean-Noël Barrot e a alemã Annalena Baerbock ouvem a canadiana Mélanie Joly.
O francês Jean-Noël Barrot e a alemã Annalena Baerbock ouvem a canadiana Mélanie Joly.NATO

EUA reafirmam compromisso com a NATO, mas exigem despesa extra dos aliados

Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da aliança militar estão reunidos em Bruxelas num momento de incerteza sobre a continuidade da presença dissuasora de forças norte-americanas na Europa.
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O chefe da diplomacia norte-americana está a meio de um exercício de equilibrismo na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, iniciada na quinta-feira e que termina nesta sexta em Bruxelas. Enquanto os aliados digeriam o mais recente capítulo de hostilidade de Washington - a aplicação de taxas aduaneiras -, Marco Rubio assegurou que o seu país está para ficar na aliança militar. Embora com a exigência de que todos os 32 aliados apontem para um gasto anual em defesa equivalente a 5% do seu produto. Esperava-se que na cimeira de junho a meta subisse dos atuais 2% para 3% ou 3,5%.

Rubio, que viajou com o novo embaixador dos Estados Unidos na NATO, Matt Whitaker, quis tranquilizar os 31 homólogos. “Os Estados Unidos estão tão ativos na NATO como sempre estiveram. Alguma desta histeria e hipérbole que vejo nos meios de comunicação social mundiais e nos EUA sobre a NATO é injustificada”, disse na sua primeira visita à sede da organização enquanto secretário de Estado. Aproveitou também para dizer que Donald Trump “não é contra a NATO”, mas “contra uma NATO que não tem as capacidades necessárias para cumprir as obrigações que o tratado impõe a cada um dos seus membros”.

Em questão de meses, a NATO, que em 2024 completou 75 anos a celebrar a sua unidade, a adesão da Finlândia e Suécia e o “caminho irreversível” da Ucrânia, viu as suas fundações abaladas com a chegada de Trump à presidência dos EUA. Sugeriu não sair em defesa dos países que não cumpram a meta estabelecida em 2014 dos 2% do PIB em defesa; tomar a Gronelândia, parte do reino da Dinamarca, ou de tornar o Canadá no 51.º estado dos EUA; e prepara o restabelecimento das relações bilaterais com a Rússia ao mesmo tempo que mantém uma atitude agressiva para com a Ucrânia e deixa os europeus fora das conversações. Além disso, o The Washington Post noticiou na semana passada que o Pentágono adotou um documento que dá prioridade à região Indo-Pacífico, o que pode significar a saída de militares e de sistemas de armas da Europa, onde estão alocados cerca de 100 mil homens. Segundo a NBC, até o mais alto posto militar da NATO na Europa, desde 1949 ocupado por um norte-americano, pode passar para um europeu.

É neste ambiente que na Europa e no Canadá se prepara uma forma de partilhar as despesas e aumentar o grau de autonomia, como é o caso da coligação de voluntários liderada pelo Reino Unido e França para preparar um cenário de pós-guerra na Ucrânia (e cuja próxima reunião se realiza na próxima quinta-feira na sede da NATO). A reunião que agora decorre tem como tema discutir o aumento de investimento na defesa da Aliança Atlântica. Para Rubio, aumentar de 2% para 3% do PIB já não chega: o objetivo agora é 5%, como Trump defende desde o início do mandato. “Ninguém espera que se possa fazer isto num ano ou em dois. Entendemos que é um compromisso”, disse Rubio.

Marco Rubio com a ministra islandesa Katrín Gunnarsdóttir e o ministro português Paulo Rangel em fundo.
Marco Rubio com a ministra islandesa Katrín Gunnarsdóttir e o ministro português Paulo Rangel em fundo.NATO

“Queremos sair daqui com o entendimento de que cada membro da Aliança está num caminho realista para cumprir a promessa de gastar até 5% [do PIB em defesa].”

Marco Rubio

No ano passado, os EUA gastaram 3,38% do PIB no setor. O único país capaz de alcançar em breve essa meta é a Polónia. O seu ministro da Defesa, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, anunciou que em 2026 a percentagem vai subir 0,3 pontos percentuais, dos atuais 4,7%.

No entanto, se há consenso de que é necessário esse investimento, os valores em questão e o argumentário norte-americano estão longe de convencer os aliados. Para Jeff Rathke, presidente do Instituto Americano-Alemão da Universidade Johns Hopkins, Rubio “está numa posição muito difícil”. Isto porque Trump “tentou convencer os aliados de que um realinhamento dos EUA com a Rússia é do melhor interesse dos EUA e presumivelmente da Europa e, ao mesmo tempo, dizer-lhes que precisam de duplicar os gastos com a defesa para lidar com as ameaças colocadas pela Rússia”, disse , disse à Associated Press. “A pergunta lógica que vão fazer é ‘porquê?’”, conclui.

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