A reunião de duas horas e meia foi a mesma, mas os gabinetes de Antony Blinken e de Benjamin Netanyahu destacaram temas diferentes. O secretário de Estado norte-americano insistiu na necessidade de pôr termo à guerra em Gaza e de se estabelecerem as bases para a reconstrução. Já o primeiro-ministro israelita destacou a ameaça do Irão e “a necessidade de ambos os países unirem forças” contra Teerão. Ao fim de um mês de guerra aberta com o Hezbollah, o movimento xiita mantém a capacidade de atacar Israel, com salvas de foguetes e ataques de drones a causarem a morte de dois militares, ferimentos graves noutros três, e - segundo o Hezbollah - destruído sete tanques de guerra e atacado uma base militar no sul de Haifa, enquanto a força aérea israelita prossegue os bombardeamentos em Beirute. Foi com o Hezbollah e Israel a trocarem fogo que o chefe da diplomacia norte-americana aterrou em Telavive. O mandato de Blinken aproxima-se do fim, o plano de paz apresentado em agosto pelo presidente Biden continua uma miragem. Foi para reavivar esse plano que viajou de novo até ao Médio Oriente, a décima primeira vez desde os ataques terroristas do Hamas em outubro do ano passado. Segundo o comunicado do Departamento de Estado, Blinken “sublinhou a necessidade de tirar partido” da morte do líder do Hamas Yahya Sinwar, e dessa forma assegurar a libertação de todos os reféns e pôr “fim ao conflito em Gaza de uma forma que proporcione uma segurança duradoura tanto aos israelitas como aos palestinianos”. Além disso, “discutiu a importância de se traçar um novo caminho no período pós-conflito que permita aos palestinianos reconstruir as suas vidas e proporcione governação, segurança e reconstrução em Gaza”. Outro tema que o principal aliado de Israel quis vincar foi a necessidade de aumentar o fluxo de assistência humanitária e de garantir que esta chegue a toda a Faixa de Gaza. Aliás, um funcionário norte-americano, após os encontros de Blinken com os dirigentes israelitas, disse que estes “reconhecem a seriedade” com que a preocupação foi manifestada pelo secretário de Estado e asseguraram estarem “empenhados em responder e dar seguimento aos pedidos”. Blinken quis deixar claro que Washington não aceita o cerco ao norte da Faixa de Gaza, o qual impede a passagem de alimentos. As forças israelitas negam estar a executar esse plano e dizem ter deixado entrar no enclave 237 camiões nos últimos nove dias. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) lamenta, contudo, que desde o início do mês apenas 6% dos “movimentos coordenados” de ajuda foram “facilitados” por Israel. Já a agência de ajuda aos refugiados, UNRWA, emitiu um “pedido de socorro” em nome do seu pessoal no norte de Gaza, uma vez que estes não conseguem obter alimentos, água ou cuidados médicos. Netanyahu, que viu o Hezbollah confirmar a autoria do ataque de drone que atingiu a sua casa na Cesareia no fim de semana, agradeceu o apoio dos EUA “na luta contra o eixo do mal e o terrorismo do Irão”, Mais tarde, o ministro da Defesa Yoav Gallant disse a Blinken esperar o apoio dos EUA “a seguir ao ataque ao Irão”. .FBI investiga publicação de documentos.A agência federal de investigação dos EUA, FBI, confirmou estar a averiguar a publicação num canal Telegram de informação secreta que envolve os planos de Israel em retaliar o ataque iraniano de 1 de outubro. “O FBI está a investigar a alegada fuga de documentos confidenciais e a trabalhar em estreita colaboração com os nossos parceiros do Departamento de Defesa e da comunidade de serviços secretos”, disse a agência em comunicado. Na segunda-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse aos jornalistas que se desconhecia se os documentos foram trazidos a público através de pirataria ou da ação propositada de algum funcionário, como aconteceu há meses, quando o lusodescendente Jack Teixeira publicou documentos classificados no Discord. Kirby disse também que o presidente Joe Biden estava “profundamente preocupado” com o assunto. A análise que foi divulgada centrou-se nas observações dos EUA sobre a atividade dos aeródromos israelitas na semana passada, e afastava a hipótese de Telavive usar armas nucleares..cesar.avo@dn.pt