EUA prometem "guerra" ao metano, mas metas de Paris estão mais longe

Joe Biden garantiu que os EUA farão a sua parte para evitar "um inferno climático" e aposta no combate às emissões de metano. Emissões de CO2 aumentaram a nível global

Na que era, provavelmente, a mais aguardada intervenção na cimeira climática das Nações Unidas, COP27, que decorre em Sharm El Sheikh, no Egito, Joe Biden prometeu colocar os Estados Unidos de novo na liderança da luta contra as alterações climáticas, garantiu que o país está na rota para cumprir os seus compromissos de redução de emissões de carbono fixados no Acordo de Paris e declarou guerra ao metano, um gás de efeito de estufa que é um dos principais agentes do aquecimento global. No entanto, a intervenção de Biden acabou por defraudar as delegações dos países mais vulneráveis ao não abordar a questão do fundo para compensação de perdas e danos reclamado pelos países pobres do Sul, num dia em que foi divulgado mais um alarmante relatório sobre o aumento da emissão global de CO2.

O presidente dos EUA pediu aos líderes mundiais que "façam mais" para se alinharem com as metas para limitar o aquecimento global a 1,5°C, definidas no Acordo de Paris. E garantiu que os Estados Unidos estão "no caminho certo" para cumprir a sua promessa de reduzir as emissões de 50% a 52% abaixo dos níveis de 2005 até 2030. Os EUA farão a sua parte para evitar "um inferno climático", afirmou, citando um alerta feito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, no início desta semana.

E usou o discurso para revelar uma série de novas medidas, incluindo um plano para reduzir as emissões de metano nos EUA, apoiar novos sistemas de alerta antecipado para desastres climáticos extremos em África e um acordo para apoiar novos projetos solares e eólicos no Egito, em troca de o país desativar centrais a gás e reduzir as suas emissões.

Num discurso de 22 minutos, brevemente interrompido por um grupo de manifestantes, o líder norte-americano apresentou o trabalho feito pela sua Administração em matéria climática, elogiando a aprovação de um enorme pacote de gastos de 369 mil milhões - na chamada Lei para a Redução da Inflação - para tornar a economia dos Estados Unidos mais verde.

Antes da sua chegada à cimeira em Sharm El Sheikh, a Administração Biden revelou um plano doméstico para reprimir duramente as emissões de metano da indústria de petróleo e gás dos EUA, um dos gases de efeito estufa mais poderosos, num movimento que desafiou meses de lóbis das empresas de extração. "Reduzir o metano em pelo menos 30% até 2030 pode ser a nossa melhor chance de manter a meta de 1,5ºC", disse.

A Agência de Proteção Ambiental norte-americana emitiu uma proposta de lei para que, até 2035, os EUA reduzam a quantidade de emissões de metano nas operações de petróleo e gás em 36 milhões de toneladas - mais do que a quantidade de dióxido de carbono emitido por todas as centrais a carvão num único ano.

Embora o metano receba muito menos atenção do que o dióxido de carbono, é 80 vezes mais poderoso no aquecimento da atmosfera no curto prazo. No ano passado, mais de 100 países aderiram a uma coligação liderada pelos EUA e pela Europa para cortar 30% das emissões deste gás até 2030.

Emissões de CO2 aumentam 1% em 2022

Apesar do rol de intenções desfilado por Biden, a ausência de qualquer referência ao reclamado fundo de compensação de perdas e danos para os países mais pobres foi notada e criticada, num dia em que um novo relatório científico veio reforçar os sinais de alarme em relação às metas do Acordo de Paris. As emissões de CO2 fóssil aumentarão este ano 1% em relação a 2021, segundo o relatório do Global Carbon Project apresentado na cimeira. Segundo este documento, se as emissões permanecerem tão altas, o mundo enfrentará um risco de 50% de ultrapassar a meta de 1,5º C de aumento de temperatura nos próximos nove anos.

Ora, isso contrasta fortemente com o relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, da ONU, que aponta que as emissões globais precisam de cair 45% até 2030 para manter o aumento de temperaturas abaixo de 1,5°C em relação ao nível pré-industrial, como acordado em Paris.

com agências

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG