Cartaz de Maduro vandalizado em Caracas.
Cartaz de Maduro vandalizado em Caracas.RAUL ARBOLEDA/AFP

EUA advertem Maduro que “a paciência está a esgotar-se”

À pressão internacional, líder respondeu com recurso ao Supremo Tribunal para fazer auditoria aos resultados das eleições que o Centro Carter classifica de “não democráticos”.
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A pressão internacional sobre o chavismo aumentou nas últimas horas, com a Organização de Estados Americanos a reunir-se de emergência, o G7 e a Colômbia a juntarem a sua voz à União Europeia na exigência da publicação de resultados completos na maior transparência. Da Casa Branca veio a advertência de que a paciência está a esgotar-se. Pouco depois, Nicolás Maduro - reeleito segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) com 51,2% dos votos, mas perdedor segundo dados que a oposição alega ter - dirigiu-se ao Tribunal Supremo de Justiça para pedir uma auditoria aos resultados.
 
“Digo, como líder político, filho do comandante [Hugo] Chávez, que o Grande Polo Patriótico e o Partido Socialista Unido da Venezuela estão prontos para apresentar 100% das atas. Muito em breve serão conhecidas, porque Deus está connosco e as provas já apareceram”, afirmou Maduro aos jornalistas na sede do Tribunal Supremo de Justiça, ao apresentar um recurso para pedir peritagem para certificar os resultados das eleições presidenciais. O líder venezuelano também pediu à Câmara Eleitoral do tribunal para convocar as instituições, os candidatos presidenciais e os partidos políticos para que, disse, “possa fazer um levantamento do que foi este ataque e as suas provas”. Concluiu: “Estou disposto a ser convocado, interrogado, investigado pela Câmara Eleitoral como candidato presidencial vencedor das eleições de domingo.”

Não explicou, contudo, o porquê de não terem sido divulgados os resultados além do total, ao contrário das eleições anteriores. O CNE não divulgou quaisquer resultados ao nível das assembleias de voto, os quais são obtidos a partir das atas de apuramento que as mais de 30 mil máquinas de voto eletrónico imprimem após o encerramento das urnas.

O norte-americano Centro Carter, que participou na observação das eleições como convidado do governo chavista, concluiu na terça-feira à noite não ter conseguido verificar os resultados devido a uma “total falta de transparência” das autoridades. “O facto de a autoridade eleitoral não ter anunciado os resultados desagregados por mesa de voto constitui uma grave violação dos princípios eleitorais”, afirmou o Centro Carter. Com 17 especialistas presentes numa missão técnica em quatro cidades venezuelanas, o Centro Carter afirmou que as eleições não cumpriram os padrões internacionais e, como tal, “não podem ser consideradas democráticas”.

Horas depois, foi a Casa Branca, através do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional John Kirby, quem se pronunciou, ao solicitar a divulgação de todos os resultados detalhados. “Gostaria de salientar que a nossa paciência, e a da comunidade internacional, está a esgotar-se.”
Uma importante voz regional quebrou o silêncio: o presidente colombiano Gustavo Petro, de esquerda, pediu também “um escrutínio transparente com contagem de votos, atas e supervisão por todas as forças políticas do seu país e supervisão internacional profissional”. Mas a mensagem contém uma sugestão adicional: tendo em conta as “sérias dúvidas que rodeiam o processo eleitoral” que podem levar a uma “profunda polarização violenta”, Petro convidou a oposição venezuelana e o governo de Maduro a assinarem um acordo “que permita o máximo respeito pela força que perdeu as eleições”, um acordo a apresentado como declaração unilateral de Estado ao Conselho de Segurança da ONU.

Comunidade internacional dividida

Reconhecem vitória de Naduro
Os países que já se mostravam mais próximos do chavismo aprovaram o resultado das eleições: Bolívia, Cuba, Nicarágua, Honduras, China, Rússia, Bielorrússia, Irão e Síria.

Só reconhecem Maduro com provas
Os 27 países da União Europeia, os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Canadá, Reino Unido, além da Alemanha, França e Itália), e países latino-americanos como o Brasil ou Chile condicionam o reconhecimento dos resultados eleitorais à publicação das atas eleitorais. O México, pelo presidente cessante López Obrador, disse esperar pelos resultados completos para reconhecer a vitória, mas também afirmou não ter provas de fraude eleitoral. 

Contestam vitória de Maduro
Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai exigiram uma revisão completa dos resultados, o que levou Caracas a ordenar a expulsão de diplomatas daqueles países, à exceção dos guatemaltecos e paraguaios.

Reconhece vitória de González
O Peru tornou-se no primeiro país a reconhecer o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, como o vencedor das eleições. Em resposta, Caracas anunciou o corte de relações diplomáticas com Lima. A presidente peruana, Dina Boluarte, chegou ao poder após a destituição de Pedro Castillo, e não foi reconhecida por Maduro.  
 
cesar.avo@dn.pt

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