Exclusivo "Esperamos que os sobreviventes do Holocausto nos consolem ou nos confortem de alguma forma"
Após a fuga dramática de Auschwitz rumo à liberdade, os judeus Rudolf Vrba e Fred Wetzler prestaram-se a revelar ao mundo a verdade que se escondia atrás dos muros da máquina de morte ao serviço da Solução Final. O relatório que dai resultou e a história de Vrba motivaram o jornalista britânico Jonathan Freedland a escrever o livro O Mestre da Fuga. Hoje, 27 de janeiro, celebra-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Em abril de 1944, a fábrica da morte de Auschwitz deixava escapar dois homens. Rudolf Vrba e Fred Wetzler eram os primeiros judeus a fugir do campo de concentração. Juntos, ludibriaram milhares de homens das SS, passaram sob cercas eletrificadas, percorreram pântanos, montanhas e rios. Em liberdade, Vrba tornou-se uma testemunha ocular do genocídio nazi. Memorizou cada detalhe do seu cativeiro, informação que contextualizou no relatório de 32 páginas que expôs ao mundo a Solução Final. Relatório que chegou às mãos de Roosevelt, de Churchill e do Papa. O impacto do documento não produziu inicialmente o efeito que Rudolf Vrba estimara. Aos seus olhos, o mundo parecia não acreditar na máquina de morte nazi. Jonathan Freedland, jornalista britânico, investigou a vida de Rudi, como ternamente chama ao sobrevivente de Auschwitz. Colunista do The Guardian e apresentador da série de história contemporânea da BBC Radio 4, The Long View, Freedland entregou aos escaparates o livro O Mestre da Fuga - O Homem que Fugiu de Auschwitz para Avisar o Mundo. Falámos com o autor.
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O seu primeiro contacto com a história de Rudolf Vrba ocorre aos 19 anos, em 1986. Quer contar-nos em que contexto e que impressão lhe deixou esta história?
Deparei-me pela primeira vez com a figura de Rudolf Vrba numa sessão de cinema em Londres. Assistia ao filme Shoah do cineasta francês Claude Lanzmann e foi uma experiência estranha, com aquela procissão de homens grisalhos, velhos, quebrados. De repente, surge em cena uma figura que explodia carisma. Pareceu-me o Al Pacino em Scarface. Usava um casaco de couro bege, tinha o cabelo escuro e farto. E, acima de tudo, falava a língua inglesa, quando todos os outros no filme falavam em polaco, russo ou alemão. Assemelhava-se a uma figura do nosso mundo, naquele presente, ao invés de uma figura do passado. E então, menciona, quase como um aparte, que havia escapado de Auschwitz. Acontece que o cineasta não parecia muito interessado nessa história. Mas eu, jovem, vi-me dominado por essa imagem. Na época, percebia que era quase impossível a um prisioneiro judeu escapar de Auschwitz. E, no entanto, ali estava aquele homem, relativamente jovem, que havia escapado do campo de concentração. Eis a razão para viver fascinado com esta história e, de certa forma, julgo que sempre soube que a investigaria mais profundamente.