O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.EPA/ZIPI ARAGON

Espanha. 60% acreditam que a família de Sánchez foi favorecida

Uma sondagem publicada este domingo pelo jornal ABC revela que a maioria dos espanhóis está convencida de que a mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez foi favorecida nos negócios e que o seu irmão obteve um cargo à medida.
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As suspeitas de favorecimento da família de Pedro Sánchez, em cargos e benefícios económicos, continuam a fazer correr tinta e a prejudicar a popularidade do primeiro-ministro espanhol. Este domingo uma sondagem publicada pelo jornal ABC dá conta que seis em cada dez espanhóis acreditam que a sua mulher, Begoña Gomez, tirou benefícios nos seus negócios e que o seu irmão, David Sánchez, obteve um cargo à medida graças ao seu parentesco.

Segundo a sondagem, mesmo entre os votantes do PSOE, existe uma percentagem razoável de 36% e de 44% que estão convencidos de que a esposa e o irmão foram favorecidos. Mais, o inquérito de opinião também atesta que a maioria dos espanhóis está convencida de que o chefe do governo estava a par da situação fiscal do seu irmão.

Em causa estão suspeitas de tráfico de influência, prevaricação e peculato na criação e atribuição do cargo, pela ligação familiar ao presidente do Governo. Em tribunal, David Sánchez negou ter obtido a posição de diretor de Artes Cénicas do Conselho Provincial de Badajoz dessa forma e disse que soube da sua existência pela internet.

É também suspeito de fuga ao fisco espanhol, por ter residência fiscal em Elvas, e de enriquecimento ilícito, já que o património líquido terá aumentado 550% em três anos. As suspeitas sobre as atividades de David Sánchez cruzam-se também com Portugal, quando contactou o anterior governo socialista para fazer uma parceria para angariar fundos europeus para um projeto cultural. O intermediário foi Vítor Escária, o antigo chefe de gabinete de António Costa, que está no centro da investigação judicial que levou à queda do seu governo.

Uma semana depois da cimeira luso-espanhola em novembro de 2022, David Sánchez, enquanto diretor de Artes Cénicas do Conselho Provincial de Badajoz, contactou Vitor Escária para propor um projeto de ópera, orçado em três milhões de euros, que queria realizar entre Badajoz e Elvas, mas, para o candidatar aos fundos europeus, precisava de um parceiro português.

Segundo os emails a que a imprensa espanhola acedeu, Escária sugeriu a OPART entidade pública que gere a Companhia Nacional de Bailado, mas no processo também esteve envolvido o Ministério da Cultura. Quatro meses depois, foi assinado um memorando de entendimento entre os ministros da Cultura dos dois países, com o compromisso de desenvolver projetos transfronteiriços. Entre eles, estava o projeto de ópera do irmão de Pedro Sánchez.

Mas já recentemente, o ex-ministro da Cultura Pedro Adão e Silva confirmou a existência de um memorando de um projeto de candidatura a fundos que não sabe se avançou, garantindo não ter havido, até à data em que exerceu o cargo, qualquer financiamento nacional no projeto.

Quanto à mulher de Pedro Sánchez, a justiça espanhola decidiu em junho avançar com a investigação, rejeitando o parecer do Ministério Público que defendia o arquivamento de uma denúncia contra Begoña Gómez que partiu de uma organização da extrema-direita espanhola. Begoña foi chamada a prestar declarações em tribunal no dia 5 de julho de 2023 "na qualidade de investigada" num processo de eventual tráfico de influências, segundo uma decisão do juiz que tutela o processo. Em causa estão suspeitas de tráfico de influências e corrupção no setor privado numa série de contratos públicos adjudicados a empresas propriedade de um professor universitário com ligações à mulher do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Também tinham sido lançadas suspeitas, pela mesma organização conotada com a extrema-direita, de ligações a empresas privadas que receberam apoios públicos durante a crise da pandemia de covid-19 ou assinaram contratos com o Estado quando o marido era já primeiro-ministro. Mas o tribunal de Madrid considerou que os "indícios objetivos" que justificam uma investigação judicial só existem num dos casos referidos na queixa, excluindo o do grupo turístico Globalia, da companhia aérea Air Europa, que foi resgatada pelo Governo espanhol durante a pandemia. Sobre este caso, os magistrados consideraram que a denúncia não passa de uma conjetura e que não há motivos para avançar com a investigação.

Na ocasião, a situação motivou um incómodo tal que Pedro Sánchez chegou a anunciar que ia ponderar sobre a sua manutenção no cargo. Depois de dias de suspense, optou por continuar, queixando-se de perseguição política.

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