Drone atingido aumenta tensão entre Estados Unidos e Rússia
O Comando Europeu dos Estados Unidos acusou os pilotos de dois caças russos de terem uma atitude "imprudente" no espaço aéreo internacional depois de um deles ter embatido na aeronave não tripulada MQ-9, conhecida como Reaper. Na sequência do incidente, os norte-americanos reportaram a perda total do aparelho, cujo custo unitário se situava em 32 milhões de euros em 2020, segundo a Forbes.
O incidente ocorreu pouco depois das 6.00 de Lisboa sobre as águas do Mar Negro, quando dois caças russos Su-27 abordaram o Reaper de "forma imprudente, ambientalmente insensata e pouco profissional". Primeiro, segundo contam os norte-americanos, "atiraram combustível e voaram em frente ao MQ-9", depois um deles atingiu a hélice, o que levou à sua queda em águas internacionais.
"De facto, este ato inseguro e pouco profissional por parte dos russos quase provocou a queda de ambas as aeronaves", disse o comandante da Força Aérea dos EUA na Europa James B. Hecker, em comunicado. Os norte-americanos apontam para o "padrão de ações perigosas" dos pilotos russos ao interagirem com aviões dos países aliados, e não só no Mar Negro. "Estas ações agressivas por parte da tripulação aérea russa são perigosas e podem levar a erros de cálculo e a uma escalada involuntária."
Mais tarde, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca disse que encontros aéreos deste género "não são incomuns", apenas o resultado deste. "Se a mensagem é que querem dissuadir-nos de voar e operar no espaço aéreo internacional, sobre o Mar Negro, então essa mensagem falhará, porque isso não vai acontecer", disse John Kirby.
O porta-voz do Departamento de Estado Ned Price classificou o ocorrido como uma "violação descarada do direito internacional" e disse que o embaixador russo em Washington foi convocado, e a embaixadora em Moscovo Lynne Tracy transmitiu "uma mensagem potente" ao governo russo.
Por sua vez, Moscovo, que disse ter detetado o Reaper nas proximidades da península da Crimeia, rejeitou qualquer responsabilidade no ocorrido. "Os militares russos não utilizaram armas contra o drone norte-americano e não entraram em contacto", disse o Ministério da Defesa russo numa declaração. No mesmo documento, a versão russa explica que a queda no Mar Negro foi resultado de "manobras bruscas", tendo o aparelho ficado "descontrolado e com perda de altitude".
Na linha da frente da guerra, mercenários russos ocuparam a zona industrial de Bakhmut, no leste ucraniano, tendo tirado uma fotografia no mesmo local visitado pelo presidente ucraniano em dezembro. Volodymyr Zelensky reuniu-se com as chefias militares, tendo decidido manter a defesa daquela cidade, apesar de as forças ocupantes controlarem três dos quatro flancos e de terem sido aconselhados pelos Estados Unidos, em janeiro, para se retirarem.
Ao contrário da avaliação do Pentágono, o comandante Valeriy Zaluzhny considera "de importância estratégica fundamental para dissuadir o inimigo" e para a "estabilidade da defesa de toda a frente".
Na véspera de mais uma reunião de doadores em Ramstein, Kiev recebeu a indicação de que receberá os aviões soviéticos MiG-29 da Polónia nas próximas quatro a seis semanas, enquanto nas redes sociais aparecem vídeos de militares ucranianos a receber formação no blindado francês AMX-10RC, mas também do tanque norte-americano M1 Abrams e do veículo de infantaria M2A3 Bradley.
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