Europeísta e crítico da política migratória do anterior Governo ultraconservador, o primeiro-ministro polaco anunciou, durante a convenção do seu partido, que irá suspender o direito ao asilo na Polónia. O motivo invocado por Donald Tusk foi a guerra híbrida do autocrata bielorrusso Alexander Lukashenko, que desde o início do ano deixou passar 26 mil imigrantes oriundos do Médio Oriente e de África. “Queremos recuperar em cem por cento o controlo de quem vem para a Polónia”, afirmou o líder da Plataforma Cívica ao falar do programa que vai ser proposto em Conselho de Ministros na terça-feira - data do aniversário da vitória da coligação do centro e do centro-direita - e partilhado no Conselho Europeu de quinta e sexta-feira, onde a migração é um dos tópicos da agenda. “Vou exigir o reconhecimento desta decisão na Europa”, afirmou o ex-presidente do Conselho Europeu. Segundo Tusk, o novo pacto de migração e asilo europeu está a ser alvo de sabotagem por parte de Minsk e de Moscovo. “Este direito ao asilo está a ser usado exatamente contra a essência do direito ao asilo”, criticou. “Sabemos muito bem como é que Lukashenko, Putin, os contrabandistas e os traficantes de seres humanos o utilizam.” Tusk criticou o Governo de Mateusz Morawiecki, do Lei e Justiça (PiS) de ter permitido uma “onda migratória” que inundou a Polónia. O mesmo Tusk e os seus aliados haviam criticado o mesmíssimo executivo de ter violado os direitos humanos ao responder à instrumentalização dos migrantes por parte da Bielorrússia com a ativação do estado de emergência, que impediu a imprensa e as organizações não governamentais de se aproximarem da fronteira, com a construção de uma vedação, e a prática da chamada devolução a quente, isto é, a expulsão imediata dos solicitantes de asilo. Uma prática, como alertou em setembro o comissário para os direitos humanos do Conselho da Europa Michael O’Flaherty, que expõe Varsóvia “ao risco de graves violações dos direitos protegidos pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem”. O novo pacto de migração e asilo foi contestado pela Hungria de Viktor Orbán e agora também pela Polónia de Donald Tusk. Em paralelo, a Áustria e os Países Baixos lideraram uma iniciativa, que tem o apoio da Alemanha e da França e que vai ser levada à discussão no referido Conselho Europeu, para uma nova política de repatriamento que acelere o regresso dos migrantes irregulares aos seus países de origem.