Divisão de Chipre sem fim à vista
No lado norte de Nicósia, o dia foi comemorado em ambiente de festa; no lado sul, as sirenes tocaram às 5.30 locais, hora do início da invasão turca ocorrida há 50 anos, e o dia foi evocado com uma missa e o descerrar de bustos de três oficiais do Exército no cemitério. Não foi só no tom que se divergiu. O presidente cipriota Nikos Christodoulides afirmou que a reunificação é o único caminho a seguir, enquanto o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, de visita à autoproclamada República Turca do Norte de Chipre (RTNC), afirmou que não há qualquer vantagem em retomar as conversações lideradas pela ONU sobre o futuro da ilha do Mediterrâneo oriental.
“Seja o que for que o sr. Erdogan e os seus representantes nas zonas ocupadas façam ou digam, a Turquia, 50 anos depois, continua a ser responsável pela violação dos Direitos Humanos de todo o povo cipriota e pela violação do Direito Internacional”, disse Christodoulides. Quando Chipre se tornou independente do Reino Unido, em 1960, um tratado com os países da origem étnica da maioria da população proibiu a sua partição ou a união com a Grécia ou a Turquia. Além disso, Londres, Atenas e Ancara ficaram como garantes da independência e integridade territorial de Chipre.
A invasão foi a resposta turca a um golpe de Estado em Nicósia, em 15 de julho de 1974, e apoiado pela Junta Militar de Atenas, com o objetivo de unir Chipre à Grécia, culminando anos de tensões entre a maioria grega e a minoria turca e que levaram a ONU a enviar, em 1964, uma força de paz. A Junta Militar grega acabou por cair no dia 23, em pleno confito na ilha que o poeta cipriota Leonidas Malenis descreveu como “uma folha verde-dourada lançada sobre o mar”. Desde aquele ano que a ilha ficou dividida, apesar das resoluções da ONU a condenar a invasão e as rondas de negociações que decorreram ao longo das décadas.
O presidente cipriota grego Christodoulides declarou que se “tem de fazer tudo o que é possível para a reunificação do país”, e foi secundado pelo chefe do Governo grego, Kyriakos Mitsotakis, que disse pugnar “por um Estado europeu unificado, com base nas resoluções da ONU”.
O lado turco discorda. Ersin Tatar, líder da RTNC - uma entidade apenas reconhecida pela Turquia - rejeitou a posição cipriota grega, que aponta para uma solução federal em que o lado turco é minoritário, e criticou o Governo do sul da ilha ao alegar que este pretende transformá-la “num centro de operações militares”, em referência ao anúncio recente da construção de uma base naval em conjunto com a Grécia. Presente nas cerimónias festivas, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse que “uma solução federal não é possível” e disse ser “impossível ignorar a componente antiga e fundamental da ilha, os cipriotas turcos”.