Dinheiro escondido em sofá deixa líder sul-africano na corda bamba 

Presidente Cyril Ramaphosa é suspeito de lavagem de dinheiro. Deputados vão votar na terça-feira o seu destino.

Pelo segundo dia consecutivo, o líder do ANC e presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, faltou a uma reunião do partido histórico em que o tema principal é o próprio. O homem que chegou ao poder como combatente da corrupção, em contraste com o antecessor Jacob Zuma, viu na quarta-feira a publicação de um relatório parlamentar que o deixa suspeito de vários crimes. No dia seguinte o país fervilhava com zunzuns de que iria anunciar a demissão, um cenário que os membros do partido descartam publicamente.

O escândalo eclodiu no início de junho, quando o antigo diretor dos serviços secretos, Arthur Fraser, aliado de Zuma, interpôs uma ação judicial. Os factos remontam a fevereiro de 2020. Segundo a queixa, um bando de cinco namibianos e sul-africanos invadiu a propriedade de 4500 hectares de Ramaphosa na província de Limpopo, Phala Phala.

Segundo a estimativa de Fraser, os meliantes, em conluio com um empregado, apoderaram-se de quatro milhões de dólares em maços de notas escondidos sob almofadas de um sofá, num quarto de hóspedes raramente utilizado. Mas não é tudo. Ramaphosa, que se encontrava na altura do furto na Etiópia, numa cimeira da União Africana, não denunciou o facto à polícia nem ao fisco, tendo encarregado o chefe da segurança da presidência, general Rhoode, de tratar do assunto.

Num depoimento sob juramento, Fraser alegou que Rhoode contratou um investigador privado para identificar e localizar os autores do roubo, os quais foram mais tarde raptados e torturados até devolverem o dinheiro roubado.

Ramaphosa justifica o dinheiro escondido no sofá pela venda de búfalos, mas estes nunca saíram da propriedade

Ramaphosa nega as alegações de Fraser. Este, refira-se, é o homem que enquanto diretor-geral dos serviços prisionais assegurou a libertação de Jacob Zuma. O ex-presidente não tinha sequer cumprido dois meses da pena de 15 meses por desrespeito ao tribunal, tendo reiteradamente recusado testemunhar nas investigações às suspeitas de fraude e corrupção.

A referida comissão parlamentar conclui que Ramaphosa "pode ter cometido violações e contravenções" embora situe o valor em causa, que Ramaphosa alega ser de 580 mil dólares, em até 800 mil dólares, e não quatro milhões. O presidente que fez da luta contra a corrupção e o enriquecimento ilícito bandeira da sua campanha para a liderança explicou que o dinheiro é proveniente da venda de búfalos a um empresário sudanês. No entanto, diz o relatório, os búfalos nunca saíram de Phala Phala.

Se Ramaphosa não se demitir, como chegou a ser dado como certo, cabe aos deputados do ANC decidirem o seu futuro, ao debaterem o relatório e decidirem se deve ir avante um processo de destituição. Para já os membros do partido - que se reúne em congresso a partir de dia 16 para escolher entre a reeleição de Ramaphosa e a eleição do ex-ministro Zweli Mkhize - apelam para a calma, mas o facto de ter faltado por duas vezes a uma reunião com os pares pode queimar pontes.

cesar.avo@dn.pt

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