Dinastia al-Assad: a família do oftalmologista que impôs mais de meio século de repressão
Foi após a morte do seu pai, Hafez Al-Assad, no ano de 2000, que Bashar Al-Assad ascendeu ao poder na Síria, onde ocupou o cargo de Presidente do país até este domingo, quando os rebeldes da oposição tomaram a capital Damasco. De momento, Assad encontra-se desaparecido.
A dinastia da sua família teve início em 1970, quando Hafez al-Assad orquestrou um golpe de Estado que colocou o seu Partido Baath no poder. Chamada de Revolução Corretiva, o movimento deu início aos 30 anos de ditadura de Hafez à frente do poder, sendo que, antes de sua morte e de Bashar ocupar o cargo, havia outras opções vistas pelo líder.
A primeira delas era seu irmão mais novo, Rifaat Al-Assad. Em meados dos anos 80, no entanto, Rifaat tentou aproveitar-se de um momento de fragilidade física de Hafez para tomar o poder na Síria. Foi acusado de traição e, após sua recuperação, Hafez exilou seu irmão, que viveu em França até 2021, antes de finalmente retornar à Síria.
A segunda opção de Hafez para ocupar o seu lugar teve destino ainda mais trágico. Seu filho Bassel havia sido preparado desde cedo para tornar-se o futuro Presidente sírio, sendo um dos nomes mais ligados às forças armadas do país no início dos anos 90.
Um entusiasta de carros de velocidade, Bassel sofreu um acidente ao colidir seu próprio veículo quando conduzia em direção ao Aeroporto Internacional de Damasco, em janeiro de 1994. Morreu instantaneamente, levando o país a uma onda de luto e homenagens e fazendo com que Hafez chegasse à outra escolha para ocupar o cargo no futuro: é aí que finalmente chegamos à Bashar Al-Assad.
Três anos mais novo que Bassel, Bashar é oftamologista de formação, especialização que adquiriu após estudar no Western Eye Hospital, em Londres, em 1992. Antes disso, o filho mais novo de Hafez havia estudado medicina em Damasco, onde deu seus primeiros passos na profissão no exército sírio.
A falta de experiência política de Bashar, que entrou para a Academia Militar apenas em 1998, foi vista como fator de desconfiança e alvo de críticas por parte de apoiantes do regime quando Hafez apontou que ele seria o seu sucessor. Tornou-se Presidente da Síria em 2000, após Hafez falecer vítima de um ataque cardíaco, aos 70 anos.
Não fosse o acidente de Bassel, seis anos antes, Bashar talvez nunca tivesse chegado ao poder até hoje, afinal, até a fatalidade de seu irmão, nunca havia se preparado para isso. E por falar na família de Bashar Al-Assad, foi justamente em Londres que o ex-Presidente começou a formar a sua.
Bashar conheceu a mulher, Asma Al-Assad, quando vivia em Inglaterra. Os dois casaram-se em dezembro de 2000, após a morte de Hafez e seguem juntos desde então. Têm três filhos, Karim, Zein e aquele que surge como homenagem ao pai de Bashar, Hafez. Assim como Bashar-Al Assad, de momento não existem indícios de onde a restante família estará.
Regime marcado por sangue
Seja pelas mão de Hafez ou Bashar al-Assad, o regime que tomou conta da Síria pelos últimos 54 anos foi marcado pela repressão por parte do Governo. Dois momentos em especial são destacados como os mais "agressivos" da Dinastia Assad: o primeiro foi em 1982, quando o regime reprimiu de forma sangrenta uma insurreição da Irmandade Muçulmana no centro da Síria. Naquele ano, estima-se que o número de mortos esteve entre os 10.000 e os 40.000.
Quase 30 anos depois, em 2011, as revoltas que surgiram no Médio Oriente e ficaram conhecidas como Primavera Árabe chegaram ao país. Naquele tempo, o movimento desencadeou uma Guerra Civil na Síria que fez mais de meio milhão de mortos.
13 anos depois, o movimento de revolta naquela região que derrubou líderes de países como Egito, Iémen, Líbia e Tunísia, faz agora Bashar al-Assad cair do poder: nas ruas de Damasco, os rebeldes sírios comemoram o fim de mais de cinco décadas de repressão às mãos da família al-Assad.
nuno.tibirica@dn.pt