Quando Donald Trump cunhou o lema Make America Great Again (“Tornar a América Grande Outra Vez”) não estava a pensar em aumentar o território dos EUA. Mas isso não significa que não tenha desejos expansionistas, como descobriu esta semana o Panamá e redescobriu a Dinamarca - que, durante o primeiro mandato do republicano, já teve que lhe lembrar que a Gronelândia não estava à venda. Antes, Trump já tinha proposto que o Canadá se tornasse no 51.º estado dos EUA. Uma mensagem que fez questão de repetir num dos seus desejos de Natal partilhado na Truth Social..“Feliz Natal para todos, incluindo os magníficos soldados da China, que estão amorosamente, mas ilegalmente, a operar o Canal do Panamá (onde perdemos 38 mil pessoas na sua construção há 110 anos), garantindo sempre que os EUA investem milhares de milhões de dólares em dinheiro para ‘reparações’, mas não têm absolutamente nada a dizer sobre ‘qualquer coisa’”, escreveu Trump no dia de Natal..No domingo, no seu primeiro comício após a vitória nas eleições de 5 de novembro, o republicano já tinha sugerido que a sua Administração poderia recuperar o Canal do Panamá. Trump alegou que o controlo desta importante via de navegação entre o Atlântico e o Pacífico foi cedido “estupidamente” aos aliados da América Central e queixou-se dos valores “ridículos” que são pagos pelos navios para o usar..Os EUA construíram o canal no início do século XX, devolvendo o seu controlo ao Panamá a 31 de dezembro de 1999 - ao abrigo de um acordo assinado em 1977 por Jimmy Carter. Este tratado dá aos EUA o direito a atuar se o canal estiver ameaçado devido a um conflito militar, mas não a recuperar o seu controlo. .Apesar de Trump dizer que a China está a operar o canal, a gestão cabe a uma empresa estatal panamiana. Contudo, é uma subsidiária de uma empresa de Hong Kong que gere os dois portos à entrada do canal e empresas chinesas financiaram a construção de uma nova ponte. Em relação aos preços a pagar, a seca na América Central obrigou a reduzir o número de navios que podem cruzar o canal diariamente, causando o aumento dos preços..O presidente panamiano, José Raúl Mulino, respondeu a Trump lembrando que “cada metro quadrado do canal pertence ao Panamá e continuará a pertencer”. O que levou o republicano a responder nas redes sociais com um “vamos ver” e com uma imagem de uma bandeira norte-americana e a frase “Bem-vindos ao canal dos EUA”. Entretanto, Trump já nomeou o seu embaixador para o Panamá, o comissário do condado de Miami-Dade, Kevin Marino Cabrera, que trabalhou na sua campanha em 2020 e é número dois do Partido Republicano na Florida..O 51.º estado.Os desejos expansionistas de Trump não se ficaram por aí, deixando na mensagem de Natal uns recados também para o Canadá. “Para o governador Justin Trudeau do Canadá, cujos impostos sobre os cidadãos são demasiado elevados, se o Canadá se tornar no nosso 51.º estado, os seus impostos seriam cortados em mais de 60%, os seus negócios duplicariam imediatamente de tamanho e eles iriam ser protegidos militarmente como nenhum outro país do mundo”, escreveu o republicano..Também já não era a primeira vez que fazia esta referência, tendo já tido vários choques com Trudeau, que ameaça com tarifas de 25% quando regressar à Casa Branca e critica por não enfrentar os problemas da imigração. No mês passado os dois estiveram reunidos em Mar-a-Lago, na Florida, com o republicano a começar então a tratar o primeiro-ministro de “governador”. Já foi mais longe, chegando a propor que o ex-jogador de hóquei Wayne Gretzky se tornasse no próximo líder canadiano..Os ataques a Trudeau surgem numa altura em que o primeiro-ministro liberal está sob pressão para se demitir, depois da saída da vice-primeira-ministra e titular da pasta das Finanças que discordava dele em relação à iminente guerra comercial com os EUA. Foi a oitava saída de um ministro nos últimos meses, sendo que depois já houve uma minirremodelação governamental. Entretanto, um dos aliados de Trudeau, o líder do Novo Partido Democrático, Jagmeet Singh, anunciou também que vai apresentar uma moção de censura quando o Parlamento retomar os trabalhos, no final de janeiro..Gronelândia.Trump tem também aproveitado para reiterar o interesse dos EUA na Gronelândia, com os líderes desta ilha do Ártico que é território dinamarquês há seis séculos a insistir que não está à venda. Mas, também, a reforçar o orçamento para a sua defesa - mesmo dizendo que foi coincidência esse anúncio ter surgido após as declarações do presidente-eleito norte-americano..O republicano tinha anunciado no domingo o nome do futuro embaixador em Copenhaga - Ken Howery, que já foi embaixador em Estocolmo - e fez referência ao estatuto deste território semiautónomo onde os EUA têm uma base aérea (Pituffik). “Para efeitos de segurança nacional e liberdade em todo o mundo, os EUA sentem que a propriedade e o controlo da Gronelândia são uma necessidade absoluta”, escreveu Trump no Truth Social. .Algo que reiterou na mensagem de Natal, dizendo, no seguimento da mensagem sobre o Canadá e a sua proteção militar, que o povo da Gronelândia “quer que os EUA estejam lá” e que os EUA “assim farão”. Trump já tinha expressado em 2019 o desejo de comprar a ilha - cuja capital Nuuk fica mais próxima de Nova Iorque do que de Copenhaga e é rica em minerais, gás natural e petróleo. Na altura, o caso gerou uma crise diplomática, depois de a então primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, descrever a ideia como “absurda”. Trump cancelou então uma visita oficial prevista à Dinamarca..“A Gronelândia é nossa. Não estamos à venda e nunca estaremos à venda. Não podemos perder a nossa longa luta pela liberdade”, disse agora o chefe do Governo da ilha, Múte Bourup Egede. Já o vice-primeiro-ministro dinamarquês, que é também o titular da pasta da Defesa, anunciou um dia depois das declarações iniciais de Trump o reforço dos gastos nesta área na ilha, para pelo menos 1,5 mil milhões de dólares. E falou numa “ironia do destino” a coincidência entre o anúncio e as declarações de Trump..susana.f.salvador@dn.pt