Uma mulher passa em frente da propaganda que, em Teerão, retrata o ataque do Irão de 1 de outubro contra Israel. Após a resposta israelita, o dia decorreu com normalidade na capital iraniana.
Uma mulher passa em frente da propaganda que, em Teerão, retrata o ataque do Irão de 1 de outubro contra Israel. Após a resposta israelita, o dia decorreu com normalidade na capital iraniana.EPA/ABEDIN TAHERKENAREH

“Danos limitados” no ataque ao Irão abrem porta a desescalada da crise

Israel lançou “ataque preciso” contra alvos militares após alegadamente ter avisado Teerão. Iranianos dizem ter o “direito e a obrigação de se defender”, mas não falam em retaliação.
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Quase um mês depois do segundo ataque direto do Irão a Israel, e semanas de especulação sobre se o Governo de Benjamin Netanyahu iria responder bombardeando locais ligados ao programa nuclear ou campos de petróleo iranianos, as Forças de Defesa de Israel (IDF) lançaram um “ataque preciso” contra alvos militares de Teerão. O bombardeamento “terminou e a missão foi cumprida”, disseram. Teerão admitiu “danos limitados”, lamentou a morte de quatro dos seus militares e afirmou ter “o direito e a obrigação de se defender contra atos agressivos externos”. Mas não falou em retaliação.

A pressão diplomática dos EUA a Netanyahu parece ter resultado, a avaliar pela forma contida como Israel respondeu ao ataque iraniano de 1 de outubro, que tinha atingido algumas das suas bases militares. Pressionado, a nível interno, a retaliar atacando o programa nuclear ou os campos de petróleo do Irão, o primeiro-ministro israelita optou por visar apenas alvos militares. Segundo o site  norte-americano Axios, Israel avisou previamente Teerão do ataque e alertou contra qualquer retaliação.

Os relógios marcavam as 2.15 de sábado em Teerão (22.45 de sexta-feira em Lisboa) quando os media iranianos reportaram as primeiras explosões na capital iraniana. Pouco depois, as IDF confirmavam estar a proceder a um “ataque preciso”. Uma segunda onda de ataques, algumas horas depois, atingiu as regiões do Cuzestão e Ilam. Terão sido atingidos cerca de 20 alvos, incluindo locais onde se fabricam os mísseis balísticos e drones e sistemas de defesa. Pelas 6.00 horas, Israel dizia ter terminado o ataque e atingido os objetivos, anunciando o regresso dos caças, aviões reabastecedores e aviões espiões usados para o bombardeamento a mais de 1600km de distância.

O Irão admitiu “danos limitados” e “alguns sistemas de radares danificados”, além da morte de quatro soldados, alegando que os seus sistemas de defesa “intercetaram e combateram com êxito os ataques” - algo que Israel rejeita ter acontecido. “Penso que mostrámos que a nossa determinação para nos defendermos não tem limites”, disse o chefe da diplomacia, Abbas Araghchi. Mais cedo, o seu ministério insistia que o Irão tinha “o direito e a obrigação” de se defender, reconhecendo “a sua responsabilidade para com a paz e segurança regional”.

As palavras podem não ser incendiárias, estando longe de uma promessa de retaliação, mas isso não significa que o conflito esteja resolvido. Até porque os aliados do Irão - seja o Hamas na Faixa de Gaza, o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iémen, ou os rebeldes iraquianos - prosseguem a luta. “O Hezbollah condena veementemente a traiçoeira agressão sionista contra a República Islâmica do Irão e considera-a uma escalada perigosa em toda a região”, disse o grupo xiita libanês.

No Ocidente multiplicaram-se os apelos para evitar uma “escalada” do conflito e desejos de que este seja “o fim” da crise. “Profundamente preocupado”, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “reitera com urgência o seu apelo a todas as partes para que cessem todas as ações militares, incluindo em Gaza e no Líbano, para que envidem todos os esforços para evitar uma guerra regional generalizada e para que regressem à via da diplomacia”, disse o seu porta-voz num comunicado.

“O perigoso ciclo de ataques e retaliações corre o risco de provocar uma nova expansão do conflito regional”, disse também em comunicado o gabinete do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. “Espero que este seja o fim”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, sobre o ataque israelita. Washington indicou que não participou no ataque ao Irão, mas Teerão acusa os israelitas de terem lançado o ataque a partir do espaço aéreo iraquiano, que está “sob ocupação” dos EUA. E falam em “cumplicidade”.

Cronologia

13 abril  O Irão bombardeia Israel de forma direta pela primeira vez, lançado cerca de 300 mísseis e drones - a maioria dos quais é intercetado por Israel ou os aliados. É a retaliação ao ataque, duas semanas antes, contra a embaixada iraniana em Damasco que matou 13 pessoas, incluindo um dos comandantes dos Guardas da Revolução.

19 de abril  Israel responde bombardeando um sistema de defesa aéreo iraniano em Natanz, localidade central no programa nuclear do Irão. 

2 de outubro  O Irão volta a atacar Israel em resposta à morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh (Damasco, 31 de julho), e do chefe máximo do Hezbollah, Nassan Nasrallah (Beirute, 27 de setembro). Teerão lança 180 mísseis balísticos, alguns dos quais atingem bases israelitas causando danos materiais. 

25 de outubro  Após “meses de ataques contínuos do regime no Irão contra o Estado de Israel”, israelitas bombardeiam alvos militares iranianos nas regiões de Teerão, Cuzestão e Ilam, incluindo locais de fabrico de mísseis e defesas aéreas. Quatro soldados iranianos morreram.

susana.f.salvador@dn.pt

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