Draghi pede a demissão, mas presidente não aceita
O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, apresentou esta quinta-feira a demissão, no meio de uma crise política desencadeada pela recusa do Movimento 5 Estrelas (M5E), que faz parte do governo de união, de participar num voto de confiança ao executivo. Mas o presidente Sergio Mattarella recusou a demissão.
Mattarella "convidou o primeiro-ministro a aparecer diante do Parlamento para fazer uma declaração", indicou o palácio presidencial. Draghi poderá ver então se tem a maioria necessária para continuar no poder até ao final do mandato, na primavera de 2023.
"Quero anunciar que esta tarde vou entregar a minha demissão do presidente", tinha dito Draghi num conselho de ministros, alegando que as condições necessárias para continuar no executivo "já não existem".
"Desde o meu discurso na tomada de posse, no Parlamento, sempre disse que este governo só avançaria se houvesse uma perspetiva clara de poder implementar o programa de governo em que todas as forças políticas votaram a sua confiança", disse Draghi.
"Esta capacidade foi fundamental para enfrentar os desafios destes meses. Mas essas condições já não existem", acrescentou. "O pacto de confiança subjacente à ação do governo falhou."
Draghi tinha dito que se demitiria caso o Movimento 5 Estrelas, o partido mais votado nas eleições de 2018 que é liderado pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, não participasse na votação.
O governo passou no voto de confiança no Senado, que incluía um pacote de ajuda para responder à crise do aumento do custo de vida, com 172 votos contra 39.
Logo após a votação, Draghi foi até ao palácio presidencial para falar com o presidente Sergio Mattarella. A conversa durou uma hora e, no final, o primeiro-ministro seguiu para o Conselho de Ministros onde fez o anúncio.
Conte tinha feito uma lista de exigências a Draghi para ficar no governo, tendo Draghi mostrado abertura para chegar a um acordo -- incluindo na introdução de um salário mínimo. Mas o primeiro-ministro também tinha dito que o seu governo estaria condenado se os partidos que o apoiam começassem a fazer ultimatos.
Os analistas acreditam que a tomada de posição do M5E prende-se com a necessidade de segurar o eleitorado, depois de um mau resultado nas eleições locais de junho e de uma cisão no partido ter levado à saída de mais 52 deputados para o novo partido do chefe da diplomacia, Luigi di Maio.
O mandato de Draghi termina na próxima primavera, sendo esperadas eleições no início do ano -- o próprio Draghi, chamado a liderar o governo de união nacional há um ano e meio, disse que não iria concorrer.
(Notícia atualizada às 19.05)