A península da Crimeia, sob controlo russo desde 2014, foi esta terça-feira alvo de ataques com drones, obrigando à intervenção da defesa antiaérea, revelou o governador da região administrativa de Sebastopol escolhido pelo Kremlin, Mikhail Razvozhayev. Pelo menos dois dos drones foram destruídos, indicou no Telegram, explicando que não tinham sido atingidas infraestruturas civis e apelando à população para que "fique calma". No sábado, em entrevista à Sky News, o vice-ministro da Defesa ucraniano, Volodymyr Havrylov, mostrou-se confiante de que a Ucrânia recuperará o controlo da Crimeia até ao final do ano - e que a guerra terminará até ao final da primavera..Razvozhayev, que apontou o dedo aos "nazis ucranianos" e disse que as forças russas estão em "alerta máximo", indicou que o alvo dos ataques com drones era a central termoelétrica de Balaklava - próxima de Sebastopol, porto que acolhe a frota russa do Mar Negro. Segundo o governador, também foi travado um ataque com três drones ao largo desta cidade. Moscovo acusou Kiev de atacar Sebastopol no final de outubro, usando estes veículos aéreos e marítimos controlados à distância. Na altura, a Rússia suspendeu temporariamente a participação no acordo que permite a exportação dos cereais ucranianos..No passado, o ex-presidente russo, Dmitri Medvedev, atual número dois do Conselho de Segurança da Rússia, defendeu que um ataque ucraniano à Crimeia desencadearia o "Dia do Juízo Final". A península, anexada ilegalmente em 2014, já foi alvo de ataques espetaculares - incluindo à ponte do estreito de Kerch que faz a ligação com a Rússia. Kiev tem negado sempre a responsabilidade..Após a retirada das forças de Moscovo de Kherson, a única capital regional que tinham conseguido conquistar logo após a invasão há quase nove meses, as autoridades pró-russas da Crimeia admitiram estar a fortificar a península. "Trabalhos de fortificação estão a ser empreendidos no território da Crimeia sob o meu controlo com o objetivo de garantir a segurança de todos os habitantes", disse na sexta-feira o governador nomeado pelo Kremlin, Sergei Aksyonov..Durante uma visita do vice-ministro da Defesa ucraniano ao Reino Unido, a Sky News perguntou-lhe se o sucesso em Kherson fazia com que outros objetivos parecessem mais prováveis, como a reconquista da Crimeia: "É apenas uma questão de tempo e, claro, gostaríamos que fosse o mais rapidamente possível", indicou Havrylov, mostrando-se convencido de que as forças ucranianas podem estar na Crimeia "no final de dezembro"..O vice-ministro acredita que a guerra pode acabar no final da primavera, deixando claro que a sociedade ucraniana está unida em levar o conflito até ao fim. "Todos sabem que qualquer atraso ou conflito congelado é apenas a continuação desta guerra contra a existência da Ucrânia enquanto nação", afirmou ao canal britânico..Um mosteiro do século XI em Kiev, sede de um ramo da igreja ortodoxa ucraniana que esteva sob a jurisdição de Moscovo mas que cortou relações com a Rússia após a invasão, foi esta terça-feira alvo de buscas por parte dos serviços de segurança da Ucrânia (SBU). As autoridades de Kiev suspeitam que possa ter ligações a agentes russos, com o Kremlin a denunciar nestas buscas o último capítulo da "guerra" dos ucranianos contra a igreja russa..Em comunicado, o SBU indicou que o Mosteiro de Kiev-Petchersk (património da Humanidade da UNESCO) foi alvo de "medidas de contra inteligência" que visam "combater as atividades subversivas dos serviços de segurança russos na Ucrânia". O objetivo é impedir que o local se torne no "centro do mundo russos" ou que seja usado por "grupos de inteligência e sabotagem" e para armazenar armas. Outros mosteiros foram também alvo das mesmas buscas, não tendo sido divulgados os resultados das operações..A Igreja Ortodoxa Russa criticou estas buscas, falando de um "ato de intimidação" e dizendo que "como muitos outros casos de perseguição de fiéis na Ucrânia desde 2014" irá "quase de certeza passar despercebido pelos que se apelidam de comunidade internacional de Direitos Humanos". O líder da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Kirill, tem sido uma das vozes de apoio às ações militares de Moscovo na Ucrânia. A Rússia perdeu várias paróquias ucranianas em 2019, num cisma desencadeado pela anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas na região do Donbass, mas algumas igrejas tinham ficado ainda sob a jurisdição e Moscovo. Isso mudou após a invasão..O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse esta terça-feira que a Rússia está a tentar usar o frio como "arma de destruição maciça" ao atingir infraestruturas de energia. "Para sobreviver este inverno e impedir que a Rússia transforme o frio num instrumento de terror e submissão, precisamos de muitas coisas", referiu numa mensagem enviada a um encontro de autarcas franceses, citada pela AFP. Zelensky apelou ao envio de geradores, além de material de apoio às operações de desminagem e equipamento para os serviços de emergência ucranianos. A Organização Mundial de Saúde disse que este é o "inverno da sobrevivência" na Ucrânia, após os ataques russos continuados às infraestruturas..susana.f.salvador@dn.pt