Segurança junto do maior centro comercial de Luanda, Cidade da China, o qual foi rodeado de arame farpado e contentores.
Segurança junto do maior centro comercial de Luanda, Cidade da China, o qual foi rodeado de arame farpado e contentores.LUSA/AMPE ROGÉRIO

Críticas à inação do governo angolano

Ativistas criticam falta de diálogo e dizem que a violência causadora de 22 mortos resulta de uma situação social insustentável.
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Os ativistas Rafael Marques e Luaty Beirão criticam o governo angolano pelo estado a que o país chegou na sequência da onda de violência e saques que se deram em Luanda, tendo resultado em 22 mortos, 197 feridos e 1214 detenções.

Os dados foram avançados pelo ministro do Interior de Angola, Manuel Homem, no final da reunião do Conselho de Ministros. Os atos de violência aconteceram na sequência da paralisação por três dias dos serviços de táxis, convocada por associações e cooperativas de táxis, em protesto face à subida do preço dos combustíveis e das tarifas de transportes públicos, e registaram-se em especial na província de Luanda, mas também, na terça-feira, nas províncias do Huambo, Benguela e Huíla, segundo o ministro. “Queremos deixar essa mensagem de tranquilidade aos cidadãos, que continuaremos a servir e porque as manifestações estão previstas por lei, são autorizadas, desde que não se transformem em atos de vandalismo e arruaça, como os que assistimos, e que estaremos sempre atentos para dar resposta adequada a cada situação”, concluiu.

Horas antes, o ativista e jornalista angolano Rafael Marques criticou o presidente de Angola, João Lourenço, por ainda não ter dado explicações ao país sobre a “crise de segurança pública” em Luanda. Há dias ainda estava o presidente a mostrar que tem o controlo da situação e que manda e pode e que decide quem será o seu sucessor, e que faz tudo. E agora estamos a ver que nem o presidente da república, nem os membros do seu séquito, vêm a público explicar o que é que se está a passar no país”, afirmou à Lusa. Rafael Marques criticou ainda a falta de diálogo, considerando que Angola é “um país onde não há diálogo entre o Governo e a sociedade civil, e onde as pessoas cada vez mais nutrem um antagonismo, um antagonismo indisfarçável contra a beligerância do presidente, contra o seu coração de pedra. O resultado só pode ser este”. O ativista receia que a situação se possa agravar “porque agora as pessoas percebem as fragilidades do próprio regime”.

Por seu lado, Luaty Beirão apontou a raiz da situação para a “má governação e prepotência” das autoridades angolanas. “Não há magia, as pessoas não acordaram num dia e tornaram-se todas criminosas, isso é uma explosão e as causas podem resumir-se a isso: má governação, insistência na prepotência e ignorar os sinais evidentes de desgaste por parte do povo”, disse. “[As causas dos protestos] são claras. Nós andamos, enquanto sociedade civil, há muitos anos a tentar advertir o poder, que se fez poder pela força, que não conhece outra linguagem sem ser a da brutalidade e da força, que estariam a levar e a conduzir o país para um estado de insustentabilidade”, apontou.

Para Luaty Beirão, os acontecimentos são sintomáticos de que “o patrão” - numa alusão às recentes declarações do presidente angolano (“o meu patrão é o povo”) - perdeu a paciência. “O patrão [o povo] está chateado e o patrão andou a pedir durante anos por atenção e não lhe foi dada, agora quando a tampa rebenta anda todo o mundo a apontar o dedo e a pôr responsabilidades na parte mais fraca”, disse. Considerou, por outro lado, que nada do que está a acontecer “deveria surpreender ou chocar enormemente as pessoas que se preocupam minimamente com o país” e defendeu que a ocasião deveria ser aproveitada para a promoção do diálogo. “Agora, o que deveria estar a acontecer era uma certa humildade, o que também não existe lá em cima, de reconhecer que deram um ou vários passos em falso e conseguir descer do pedestal e promover um diálogo, abrir-se às pessoas que estão a demonstrar esta fúria”, declarou.

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