Contra a "chantagem nuclear", Kiev pede reunião do Conselho de Segurança da ONU 

Governo ucraniano reage ao anúncio de Putin de que vai destacar armas nucleares táticas na Bielorrússia. UE, Berlim e NATO criticam iniciativa de Moscovo.
Publicado a
Atualizado a

A Ucrânia, a NATO e a UE criticaram os planos de Vladimir Putin para destacar armas nucleares táticas na Bielorrússia, tendo Kiev pedido o agendamento de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia criticou os planos do presidente russo numa declaração. "A Rússia confirma mais uma vez a sua incapacidade crónica de ser um administrador responsável de armas nucleares como meio de dissuasão e prevenção de guerra, e não como instrumento de ameaças e intimidação", disse o ministério ucraniano.

Além disso, Kiev pretende que seja realizada uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "A Ucrânia espera ações eficazes para contrariar a chantagem nuclear do Kremlin por parte do Reino Unido, China, Estados Unidos e França", em referência aos países com assento permanente naquele órgão, além da Rússia.

Da Ucrânia, nota ainda para o comentário do secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, Oleksiy Danilov: "O Kremlin tomou a Bielorrússia como refém nuclear."

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com sede em Washington, Putin terá considerado tomar esta medida antes da invasão, tal como o ISW já previa em janeiro do ano passado. Nada de muito surpreendente: o líder bielorrusso Alexander Lukashenko oferecera-se para acolher armas nucleares russas em novembro de 2021, e a Bielorrússia pôs fim ao estatuto de neutralidade após um plebiscito realizado em fevereiro de 2022. Em outubro, Putin assegurou que não usaria armas nucleares na Ucrânia: "Não há qualquer sentido nisso, nem político, nem militar."

No sábado, Putin anunciou que a Rússia iria estacionar armas nucleares táticas na vizinha e aliada Bielorrússia "sem violar os acordos internacionais de não-proliferação nuclear". As armas nucleares táticas destinam-se a ser utilizadas no campo de batalha e têm um curto alcance em comparação com ogivas nucleares equipadas em mísseis de longo alcance, que são chamadas de estratégicas.

Além de Kiev, Bruxelas, através do chefe da diplomacia Josep Borrell, criticou a medida do Kremlin, ao dizer que é "mais uma escalada no conflito" e "outra prova da colaboração do regime ditatorial da Bielorrússia com a Rússia".

Também na capital belga, a NATO condenou as declarações vindas do Kremlin, ao apelidar a "retórica nuclear russa perigosa e irresponsável". Oana Lungescu, porta-voz da Aliança Atlântica, disse ainda que a NATO está "a acompanhar a situação de muito perto" e que não avistou "qualquer mudança na posição russa" que levasse a "ajustar a posição".

Em Washington, os EUA disseram que "acompanhariam as implicações" do anúncio de Putin, embora, até agora, Washington não tenha visto "quaisquer indicações de que a Rússia se esteja a preparar para utilizar uma arma nuclear", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson.

E em Berlim, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alinhou com o discurso de Kiev, ao falar numa "nova tentativa de intimidação nuclear", tendo ainda declarado que a "comparação feita pelo presidente Putin à presença nuclear da NATO é enganadora e não pode ser utilizada para justificar a medida anunciada pela Rússia".

cesar.avo@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt