O ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco assume na sexta-feira a chefia do executivo cessante, depois de o chanceler Karl Nehammer se ter demitido na semana passada, em resultado do fracasso das negociações entre o seu partido conservador (ÖVP) os sociais-democratas (SPÖ) e os liberais (NEOS), para a constituição de uma coligação. Com o presidente interino do ÖVP, Christian Stocker, a anunciar que aceita o convite para encetar negociações com o vencedor das eleições, o FPÖ, está aberta a porta para o regresso da extrema-direita ao governo. E desta vez para o liderar, depois de ter sido o parceiro menor de coligações (2000-2005) e (2017-2019).Alexander Schallenberg, de 55 anos, assume as rédeas do governo de forma transitória pela segunda vez. Já o fizera em 2021, após a demissão do chanceler Sebastian Kurz. Schallenberg vai estar encarregado de “continuar a gestão do Ministério dos Negócios Estrangeiros” e, ao mesmo tempo, “liderar o governo provisório”, informou o gabinete do presidente Alexander Van der Bellen, em comunicado. O diplomata já fez saber que recusa fazer parte de um futuro executivo liderado pelo FPÖ. Para o chanceler que sai de cena, Nehammer, o homem que poderá suceder-lhe, Herbert Kickl, é um “perigo para a segurança da Áustria”. Aos 56 anos, o líder do FPÖ desde 2021 poderá tornar-se no primeiro chanceler de extrema-direita desde que o país retomou a soberania, depois da anexação do regime nazi e da ocupação dos aliados. Mais do que um momento singular, está em causa a chegada ao poder de um homem que se autointitula Volkskanzler (o chanceler do povo), um termo usado no Terceiro Reich. Além disso, as políticas que professa não se enquadram no consenso das democracias liberais. .37%Sondagem IFDD atribui subida de intenções de voto no FPÖ, que venceu as eleições de setembro com 28,8%..Ex-ministro do Interior, Kickl vê no vizinho húngaro Viktor Orbán um modelo. Advoga manter a “homogeneidade” dos austríacos com a aprovação de uma lei de emergência que suspenda o direito de asilo e, assim como o governo italiano de Giorgia Meloni está a tentar expulsar os imigrantes sem visto ao estabelecer um centro de imigração na Albânia, Kickl quer expandir essa política. Se o FPÖ chegar ao poder, a Rússia ganha mais uma capital com simpatias por Vladimir Putin, juntando-se a Budapeste e a Bratislava. O partido de extrema-direita é contrário às sanções contra Moscovo. A Áustria é um país neutral e como tal não pertence à NATO nem ajudou a Ucrânia com material bélico, mas tem dado apoio humanitário. Ao convidar os conservadores para negociar uma coligação governamental, Kickl afirmou que pretende “governar a Áustria de forma honesta”, mas que não teme devolver aos austríacos a escolha de eleitos. “Não deve haver joguinhos, nem truques, nem sabotagem. É necessário um parceiro unido, homogéneo e estável, que defenda posições unidas. Se isso não acontecer, então não vai funcionar e teremos novas eleições”, afirmou. O FPÖ venceu as eleições com 28,8%, e uma sondagem atribui-lhe 37% das intenções de voto, enquanto o ÖVP desce cinco pontos em relação às eleições, com 21%, e o SPÖ cai um ponto, para 20%. A constituição de uma coligação está longe de garantida. Stocker, o líder dos conservadores, ao anunciar que o ÖVP mudou de ideias, disse que há temas não sujeitos a negociação: Estado de direito, liberdade de expressão e de imprensa sólidos, sistema judicial independente, luta contra o antissemitismo e participação ativa da Áustria nas políticas europeias. Em 2000, a entrada do partido de Jörg Haider no governo levou a um congelamento de relações diplomáticas por parte dos restantes estados-membros da UE a Viena.