Competitividade na UE. Draghi propõe emissão regular de dívida conjunta
Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, apresentou esta segunda-feira um relatório em que defende a emissão regular de dívida conjunta como parte de uma abordagem estratégica para melhorar a competitividade da União Europeia no cenário global.
O documento aguardado desde junho, destaca a necessidade urgente de acelerar a inovação, promover a descarbonização e reforçar a segurança e autonomia da União Europeia. Neste sentido, para financiar as necessidades de investimento que a transição digital e verde requer. O relatório sugere um aumento da taxa de investimento em relação ao PIB, para níveis sem precedentes “desde as décadas de 1960 e 70”. Além disso, destaca-se que, sem uma ação coordenada entre os Estados-Membros e a própria União Europeia, será mais difícil o financiamento desses investimentos.
“Para maximizar a produtividade, será necessário algum financiamento conjunto para investimentos em bens públicos europeus essenciais, como a inovação disruptiva”, lê-se no texto, no qual é considerado que “os gastos em defesa ou redes transfronteiriças” também “serão subfinanciados sem uma ação comum”.
“Se as condições políticas e institucionais forem cumpridas, estes projetos (defesa e redes transfronteiriças) também exigirão financiamento conjunto”, sublinha o texto.
Por fim, o documento propõe uma reforma da governação europeia com o objetivo de aumentar a coordenação e reduzir a carga regulamentar sobre as empresas, especialmente as PME. O texto destaca que mais de 60% das empresas europeias apontam a regulamentação como um obstáculo ao investimento, e 55% das PME identificam as barreiras regulamentares como o seu maior desafio.
Defesa
No que diz respeito à defesa, o relatório reconhece que, embora a União Europeia seja o segundo maior bloco a nível mundial em termos de gastos militares, esses investimentos não se traduzem na capacidade industrial de defesa.
A fragmentação da indústria de defesa europeia é apontada como um dos principais obstáculos à competitividade global do setor. E esta fragmentação limita a capacidade da UE de atuar como uma “potência coesa” em questões de segurança
A Comissão sublinha que uma maior coordenação na defesa poderia aumentar significativamente a capacidade europeia, não apenas em termos de produção em escala, mas também em termos de interoperabilidade dos sistemas de defesa entre os Estados-membros. Para isso, propõe-se um maior esforço conjunto na aquisição colaborativa de equipamentos de defesa, que contribuiria para reduzir a dependência externa de fornecedores fora da União.
Inovação e crescimento
De acordo com o documento, a competitividade da Europa tem sido prejudicada por um crescimento insuficiente da produtividade e pela falta de integração em tecnologias emergentes. O documento alerta que a União Europeia corre o risco de ficar para trás na competitividade em áreas chave.
“Se a União Europeia não for capaz de acelerar a sua inovação, arrisca-se a ficar ainda mais atrás dos Estados Unidos e da China, que lideram em setores estratégicos, como a inteligência artificial e tratamentos de dados em nuvem”, refere o documento, que aponta para a necessidade de os Estados-Membros adoptarem uma postura mais colaborativa. Neste aspeto o documento foca a necessidade de serem ultrapassadas barreiras regulatórias e de incentivo ao investimento em tecnologias disruptivas.
Produtiviadade
Por outro lado, o relatório também aponta a desaceleração do crescimento da produtividade como uma das principais causas para a estagnação económica, ao longo da última década.
“Cerca de 70% da diferença no PIB per capita entre a União Europeia e os Estados Unidos deve-se à menor produtividade da Europa”, sublinha o documento, sugerindo, no entanto, uma abordagem coordenada entre os Estados-Membros, envolvendo investimentos conjuntos em investigação e inovação, bem como a criação de um mercado único digital europeu que permita a rápida comercialização de tecnologias emergentes. Esta será uma via para “mitigar” o problema.
Energia
Os Estados-Membros estão confrontados com a necessidade de enfrentar os desafios impostos pela transição energética, salienta o texto do relatório. O documento enfatiza que a Europa está na vanguarda das tecnologias limpas, no entanto, a alta dependência de fontes de energia não renováveis ainda representa um obstáculo para o crescimento económico sustentável.
“Mesmo com a queda dos preços da energia em relação aos seus picos recentes, as empresas europeias continuam a pagar cerca de duas a três vezes mais pela eletricidade do que suas concorrentes nos Estados Unidos”. E, no caso do gás natural a situação é ainda pior, com os custos a atingirem quatro a cinco vezes mais, comparativamente do os EUA.
Assim, o documento sugere um plano conjunto para a descarbonização, que engloba a produção de energia limpa e a promoção de tecnologias de economia circular, considerando que são um caminho essencial para assegurar o futuro da competitividade europeia.
Segurança económica
O relatório também aborda a vulnerabilidade crescente da União Europeia, em relação à sua segurança económica, destacando as dependências críticas em áreas como matérias-primas e tecnologia digital, especialmente em relação à China.
Por exemplo, o documento enfatiza que “75-90% da capacidade global de fabrico de semicondutores está concentrada na Ásia”, o que torna a Europa particularmente exposta a choques externos. Deste modo, para combater essa fragilidade, a Comissão defende a criação de uma política económica externa coordenada na União Europeia, que inclua acordos comerciais preferenciais e parcerias industriais estratégicas para garantir o fornecimento de tecnologias essenciais.