Com nomeação garantida, Kamala procura vice-presidente e ataca Trump
Menos de 36 horas depois de o presidente Joe Biden desistir da reeleição e anunciar o apoio à sua vice-presidente, Kamala Harris já tinha conseguido o apoio de uma maioria dos delegados que, no próximo mês, vão determinar na convenção de Chicago quem é o candidato oficial do Partido Democrata à Casa Branca. Com esse obstáculo ultrapassado, Harris focou-se imediatamente em fazer campanha no Wisconsin, um dos “swing states” (que oscilam entre democratas e republicanos), deixando nas mãos do antigo procurador-geral Eric Holden o processo de vetar os nomes dos seus eventuais candidatos a vice-presidente.
Com Harris na corrida para ser a primeira mulher presidente dos EUA, além de a primeira de origem africana e asiática, não é de estranhar que os favoritos ao cargo de número dois sejam todos homens brancos - vistos como moderados, ao contrário de Harris que é da ala mais à esquerda do partido. Os nomes que mais se falam são o governador do Kentucky, Andy Beshear, o da Carolina do Norte, Roy Cooper, o da Pensilvânia, Josh Shapiro, o do Illinois, JB Pritzker, e o senador do Arizona Mark Kelly.
Carolina do Norte, Arizona e Pensilvânia são três swing states, junto com Georgia, Michigan, Nevada e Wisconsin. Escolher um aliado de um destes estados, podia ajudar Kamala a vencer ali. O problema é que muitos destes nomes eram vistos como potenciais candidatos para 2028, num cenário pós-Biden, não sendo claro se algum deles está disposto a “queimar” a sua oportunidade sendo um número dois de última hora da vice-presidente.
O processo de seleção de um candidato a vice-presidente pode demorar meses, com os favoritos a serem investigados de forma a garantir que, em vez de uma mais-valia, não são um empecilho para o candidato. Esse trabalho terá agora de ser apressado, com o escolhido a ter que ser anunciado até à convenção de 19 de agosto. Donald Trump anunciou o seu escolhido, o senador J.D. Vance, no primeiro dia da convenção republicana em Milwaukee, no Wisconsin.
Foi esta cidade que Kamala Harris escolheu para o seu primeiro evento oficial de campanha depois de ter conseguido os números de delegados necessários para a nomeação - terá mais de 3000, segundo a Associated Press, quando só precisava de 1976. Só esta quarta-feira é que o partido vai decidir na realidade como será o processo após a saída de Biden, havendo quem ainda defenda uma corrida aberta à sucessão e não uma simples “coroação”. Esta terça-feira, Harris conseguiu o apoio do líder do Senado, Chuck Schumer, e do líder da minoria na Câmara , Hakeem Jeffries.
No comício, Kamala insistiu no seu currículo como procuradora. “Enfrentei perpetradores de todos os tipos: predadores que abusaram de mulheres, burlões que enganaram os consumidores, trapaceiros que quebraram as regras para seu próprio proveito. Por isso, ouçam-me quando digo, eu conheço o tipo de Donald Trump.” Esta deverá ser uma das mensagens da campanha. “No final, nestas eleições enfrentamos uma questão: em que tipo de país queremos viver?”, questionou, falando nuns EUA de “liberdade, compaixão, estado de Direito”, em vez de “caos, medo e ódio”. E terminou: “Quando lutamos, ganhamos”, saindo do palco ao som de Freedom, de Beyoncé.
Uma sondagem Reuters/Ipsos, feita já depois do anúncio da desistência de Biden, coloca Harris dois pontos à frente de Trump - 44% contra 42%. Na sondagem anterior, há uma semana, ainda com Biden na corrida mas já pressionado a dar um passo ao lado, Harris e Trump estavam empatados a 44%. Entretanto, o ex-presidente está a começar a adaptar-se a uma campanha onde o adversário não é Biden, apelidando Kamala Harris de “mentirosa” nas redes sociais.
Biden quebra silêncio
O presidente norte-americano, que esteve isolado com covid-19 na última semana, regressou esta terça-feira à Casa Branca, tendo anunciado que irá falar em horário nobre (madrugada de quinta-feira em Lisboa) à nação sobre a sua decisão de abandonar a corrida. No X, Biden escreveu que falará a partir da Sala Oval “sobre o que está para vir e como acabarei o trabalho para o povo americano”.
Após ter desistido da campanha, os republicanos - incluindo o próprio Donald Trump - têm alegado que se não está capaz para concorrer à reeleição, também não está capaz para ser presidente. “Acho que isso é ridículo”, disse a assessora de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, à ABC. “Ainda não acabámos. Ele recuou em relação a ser o nomeado, mas ainda é o presidente”.
Quem será o vice?
São muitos os nomes de possíveis candidatos a vice-presidente de Kamala Harris. Estes cinco são favoritos, mas a dúvida é se arriscam concorrer a número dois quando talvez quisessem ser o número um.
Andy Beshear
Governador do Kentucky
46 anos
Está no segundo mandato como governador de um estado republicano (Trump venceu em 2020 por 26 pontos). Advogado, foi procurador como Kamala.
Roy Cooper
Governador da Carolina do Norte
67 anos
É um veterano num estado de tendência republicana, tendo ganho seis eleições em duas décadas. Governador desde 2017, é popular devido aos bons resultados económicos.
Mark Kelly
Senador do Arizona
60 anos
O astronauta virou-se para a política depois de a mulher, a congressista Gabby Giffords, ter sido alvo de uma tentativa de assassínio em 2011. Foi eleito em 2020 para o lugar do falecido John McCain.
Josh Shapiro
Governador da Pensilvânia
51 anos
Antigo procurador-geral, está só no segundo ano como governador, tendo arrasado o candidato de Trump. Judeu, tem denunciado o aumento do antissemitismo.
JB Pritzker
Governador do Illinois
59 anos
No cargo desde 2019, não vem de um estado fulcral para os democratas, como outros candidatos, mas a sua mais valia é a sua fortuna, que pode ajudar a financiar a campanha. Também é judeu.
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