Os chefes de Estado ou de governo da União Europeia recebem esta segunda-feira os líderes da América Latina e Caribe, numa cimeira que pretende dar um novo impulso político à relação comercial com entre os dois blocos. Vão estar reunidos em Bruxelas representantes de 54 governos..Numa altura sensível no panorama geopolítico, a declaração final da cimeira deverá evitar os temas polémicos. No entanto, ao que o DN apurou, deverá incluir um parágrafo sobre a Ucrânia. As negociações para fechar uma posição comum sobre um tópico que é divisivo "são as mais difíceis", comentou fonte europeia..Num documento de trabalho, consultado pelo DN, em que constava uma das versões da declaração final, era referida uma condenação à invasão russa da Ucrânia..O documento que entretanto foi alterado para acomodar as posições de países menos críticos de Moscovo referia: "condenamos a guerra em curso na Ucrânia, que continua a causar imenso sofrimento humano e a exacerbar as fragilidades existentes na economia global, constrangendo o crescimento, aumentando a inflação, perturbando as cadeias de abastecimento, intensificando a insegurança energética e alimentar e elevando os riscos à estabilidade financeira"..Fontes europeias admitiram que a declaração pudesse ser "bastante mais limitada", com uma condenação "dentro da linguagem das Nações Unidas", indo ao encontro da resolução aprovada pela Assembleia Geral da ONU, "deplorando nos termos mais fortes a agressão da Federação Russa contra a Ucrânia e exigindo a sua retirada completa e incondicional do território ucraniano"..O documento refere também uma linguagem mais genérica, considerando "essencial defender o direito internacional e o sistema multilateral", como forma de assegurar "a paz e a estabilidade"..Madrid ofereceu-se para ajudar Kiev com os contactos junto dos líderes da América Latina e Caribe para explicar o plano ucraniano para a paz. Segundo informações divulgadas pelos meios espanhóis, quando esteve em Kiev, a 1 de julho, a marcar o arranque da presidência de turno do conselho da União Europeia, o presidente do governo espanhol, Pedro Sanchez sugeriu ao presidente do governo ucraniano, Volodymyr Zelensky para expandir os seus contactos, para fora da União Europeia e da NATO..Já esta manhã, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen recebe o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, numa reunião na sede do Executivo comunitário, em que participará também o presidente do governo espanhol, Pedro Sanchez..Espera-se um novo impulso político para a concretização do acordo comercial com o Mercosul. No entanto, este é um dos tópicos mais exigentes do encontro, com o processo de ratificações estagnado, desde que foi alcançado um acordo político, em 2019, após quase duas décadas de negociações..Alguns analistas viam em 2023 uma janela de oportunidade para a sua conclusão, admitindo-se que - entre eles Lisboa e Brasília, e também Madrid - que a cimeira que arranca esta segunda-feira, em Bruxelas pudesse ser o pano de fundo mais adequado para o derradeiro impulso. Mas, há habituais entraves que reduzem o otimismo..Recorde-se que este foi um dos tópicos em evidência na 18ª cimeira Ibero-Americana, na qual se destacou a "enorme expectativa" do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, para que "em particular o Mercosul", pudesse progredir durante a presidência espanhola do Conselho da UE. António Costa salientava que "o custo de não fazermos é muito superior ao custo de fazermos". Com isso, apelava ao "empenho de todos"..Mas, a possibilidade de uma nova reabertura de negociações tem sido contemplada por alguns governos. O Presidente francês, Emmanuel Macron, exigia "cláusulas-espelho" que estabeleçam padrões sanitários e ambientais a serem cumpridos pelos produtores de ambos os lados. Caso contrário, alertou, o acordo "não é possível"..Este ponto de vista ganha força no Parlamento Europeu, entre diversos grupos políticos. É o caso da deputada europeia, Anna Cavazzini (Verdes), relatora-sombra no grupo sobre o Mercosul, que argumenta que "um mau acordo" não pode ser finalizado, "se não for renegociado em áreas centrais como sustentabilidade e a proteção florestal.".A Comissão Europeia compromete-se a "trabalhar intensamente", tendo em vista a cimeira de julho. Bruxelas preparou uma "declaração interpretativa" para anexar ao Acordo, com o objetivo de esclarecer incertezas. Refiram-se porém que não tem sido o suficiente..A deputada europeia francesa, Marie-Pierre Vedrenne (Renew Europe), considera inadmissível uma "declaração adicional" que traga apenas medidas "não-vinculativas". O documento enviado para Comissão Europeia aos representantes do Mercosul, não tinha até ao fim de semana obtido resposta..Bruxelas atribui um importava estratégica com o Mercosul. Calcula-se que, em 2021, as exportações da UE para os países do Mercosul "totalizaram €45 mil milhões", tendo o Mercosul alcançado "€43 mil milhões" para a UE. Minerais, vegetais, incluindo soja e café, produtos alimentares, bebidas e tabaco estão no topo da lista de importações..A UE exporta, maioritariamente, maquinaria, aparelhos, produtos químicos e farmacêuticos. O sector dos serviços é significativo: em 2020 alcançou €17,2 mil milhões para o Mercosul, e os €7,7 mil milhões no sentido inverso. Nos últimos 20 anos, o investimento europeu nos quatro países quase triplicou para "€330 mil milhões"..Segundo o AICEP, as exportações portuguesas para o Brasil registam tendência crescente, nos últimos quatro anos, representando, em 2022, 1,2% do total. O Brasil é o 7o maior fornecedor da economia portuguesa: 4,2% do total, registando um aumento significativo de 49,1%. Em 2022, registou-se um défice comercial de €3.650 milhões para Portugal. Nas exportações são maioritários os produtos agrícolas (45,7%). Nas importações destacam-se os Combustíveis Minerais (59,1%). Já a Argentina, Paraguai e Uruguai têm um impacto menos significativo na balança comercial portuguesa..A declaração final "será um documento muito mais reduzido" do que o inicialmente previsto, comentou uma fonte europeia com o DN. Ao que foi possível apurar, das 13 páginas da primeira versão do texto, restam apenas três, tendo sido retirados os parágrafos sobre assuntos fiscais, ciência, cibersegurança, diálogo cultural, direito de acesso à água potável, dívida pública, digital, Espaço, migrações, nuclear, saneamento, terrorismo, transição verde e digital [embora se mantenha a referência sobre o clima]..Portugal estará representado pelo primeiro-ministro António Costa e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, os quais deverão manter encontros bilaterais com a delegação brasileira, que será chefiada pelo Presidente Lula da Silva..O primeiro-ministro deverá ainda encontrar-se como os líderes da Costa Rica e Argentina, ao passo que o ministro dos Negócios Estrangeiros deverá reunir-se com os governos da Jamaica, El Salvador e México. Deverá ainda encontros conjuntos com representantes do Chile e Colômbia..No domínio institucional pretende-se criar um mecanismo de coordenação que garanta a realização de cimeiras regulares entre os dois blocos, de 2 em 2 anos, sem a necessidade um país as solicitar..O objetivo é aprofundar a relação numa altura em que a União Europeia procurar diversificar as suas cadeias de abastecimento, e assegurar a sua autonomia estratégica. O tópico ganha mais relevância, dada a influência de outros atores globais na América Latina, nomeadamente a China, que a UE encara, neste contexto, como um competidor, e da Rússia, que é vista como uma ameaça.