Chefe do Governo escocês luta pelo futuro político
O que há uma semana era apenas tensão na coligação de Governo na Escócia, poderá agora obrigar à demissão do líder escocês, Humza Yousaf - tem prevista uma conferência de imprensa para esta segunda-feira onde poderá anunciar o que irá fazer. Pouco mais de um ano depois de se tornar o primeiro muçulmano a ocupar o cargo, o responsável do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla original) enfrenta duas moções de censura no Parlamento onde não tem a maioria. E está dependente da antiga adversária, Ash Regan, que deixou o partido no ano passado e atualmente é a única deputada do nacionalista Partido Alba, do ex-chefe do Governo Alex Salmond.
Desde 2021 que o SNP (que tem 63 deputados) governava em coligação com os Verdes (sete deputados), garantindo a maioria dos 129 lugares do Parlamento escocês. Mas a relação entre os dois tem vindo a deteriorar-se, atingindo o ponto mais baixo depois de Yousaf ter decidido abandonar um dos seus objetivos climáticos - reduzir em 75% as emissões de gases de efeito de estufa até 2030, admitindo que isso estava “fora do alcance”. Os Verdes decidiram então pôr a coligação a votos na sua próxima assembleia, ameaçando deixar o SNP a governar em minoria.
Mas o chefe do Governo escocês, com a sua popularidade em queda, antecipou-se e resolveu rasgar o acordo na passada quinta-feira. “Depois de uma cuidadosa consideração, acredito que daqui para a frente é do melhor interesse do povo da Escócia procurar um acordo diferente”, disse. Em resposta, os Verdes anunciaram que iam votar a favor de uma moção de censura apresentada pelo líder dos conservadores escoceses, Douglas Ross.
A moção diz que o Parlamento “não tem confiança no primeiro-ministro, à luz das suas falhas de Governo”. Se for aprovada, Yousaf não é obrigado legalmente a demitir-se, mas fica com a sua posição fragilizada. Contudo, uma segunda moção apresentada pelo líder dos trabalhistas escoceses, Anas Sarwar, é diferente, porque diz que o Parlamento “não tem confiança no Governo escocês”. Se esta passar, então Yousaf seria obrigado a demitir-se, abrindo um prazo de 28 dias para os deputados escolherem outro chefe de Governo - se isso falhar, terá de haver eleições.
Para sobreviver a ambas as moções, Yousaf precisa do voto de 64 deputados - a líder do Parlamento, Alison Johnstone, só vota em caso de empate e sempre a favor do statu quo, ou seja, votará a favor do chefe do Governo. O SNP só tem 63, apesar de ter eleito 64 nas eleições de 2021 (quando ainda era liderado por Nicola Sturgeon). Ash Regan deixou o partido em outubro do ano passado, depois de ter disputado meses antes a liderança dos nacionalistas escoceses contra Yousaf - que, na altura, considerou que a saída não era uma “grande perda”.
Regan, sabendo que pode ter o voto decisivo, enviou uma carta a Yousaf com as suas exigências. “A independência para a Escócia, a proteção da dignidade, segurança e os direitos de mulheres e crianças e garantir um Governo competente para o nosso povo e empresas em toda a Escócia continuam a ser as minhas prio- ridades”, disse, sendo que informalmente Salmond teria pedido ao SNP que desistisse de concorrer em alguns círculos eleitorais para garantir a eleição de mais deputados do Alba. Mas isso é algo que Yousaf não está disposto a fazer para garantir o seu cargo.
Ainda não foi marcada a data da discussão das moções, mas a expectativa é que possa ser ainda esta semana. Até lá, provavelmente ainda esta segunda-feira, o chefe do Governo escocês deverá anunciar, segundo a BBC, uma série de medidas em áreas desde a criação de emprego às alterações climáticas e à melhoria dos serviços públicos, na expectativa de ganhar apoios que o mantenham no cargo.
susana.f.salvador@dn.pt